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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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O rato que ruge

Bolsonaro fracassou. Com toda a dinheirama que, sobretudo, o agronegócio investiu nos atos em Brasília e em São Paulo, ele conseguiu mobilizar muita gente, mas muito menos gente do que ele precisava e gostaria

(Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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Bolsonaro é mentiroso, é manipulador, é desonesto, é autoritário, é fraco, é covarde. Agitou seus seguidores durante dois meses prometendo um grande movimento popular de massas que apoiaria suas pretensões golpistas e autoritárias. Contou com apoio dos segmentos sociais mais retrógrados e anacrônicos para organizar as manifestações do dia 7 de setembro.

Muito dinheiro foi investido nestas mobilizações. Imagens que circulam nas redes sociais mostram pessoas recebendo camisas, bonés e outros materiais de campanha eleitoral, quase todos com a inscrição “Bolsonaro 2022”. Além deste material, cada “militante bolsonarista” recebeu ainda cem reais como ajuda de custo para alimentação. 

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Bolsonaro cometeu crime eleitoral. Até a publicação desta coluna, o Tribunal Superior Eleitoral ainda não havia emitido nenhuma declaração na qual mostrasse que estivesse disposto a penalizar Bolsonaro por produzir e distribuir material de campanha para as eleições de 2022, fora do período permitido.

Bolsonaro fracassou. Com toda a dinheirama que, sobretudo, o agronegócio investiu nos atos em Brasília e em São Paulo, ele conseguiu mobilizar muita gente, mas muito menos gente do que ele precisava e gostaria. Seus dois principais atos fracassaram, embora tenham mobilizado mais de 100 mil pessoas em ambos. Nada muito distante do que normalmente se mobiliza de maneira mais açodada e menos preparada. Não podemos nos esquecer que Bolsonaro está convocando para os atos desde julho.

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Também não conseguiu invadir nem o STF nem o Congresso Nacional, como prometeram os organizadores dos atos.

Segundo o jornalista Fernando Horta, o presidente do STF, Luiz Fux, contribuiu para este fracasso. Sentindo o clima pesado que estava se formando em Brasília e temendo uma invasão do prédio deste tribunal, Fux teria recomendado que ministros e funcionários do STF levassem para casa qualquer bem valioso e/ou necessário. Ao ver as imagens dos bolsonaristas desmontando, sob os olhares complacentes dos PMs de plantão, algumas das barreiras montadas pela própria PM do DF para proteger o tribunal, Fux resolveu agir. Segundo Horta, ele teria ligado para o vice-governador do DF exigindo que colocasse a PM para cumprir suas funções constitucionais. Ao mesmo tempo, segundo a mesma fonte, teria ligado para os comandantes do Comando Militar do Planalto, exigindo que o exército controlasse a situação, ameaçando utilizar a  Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que o exército cumprisse sua missão e reprimisse os atos antidemocráticos. Dessa maneira, Fux teria se antecipado a Bolsonaro e colocado o Comando do Planalto em uma sinuca de bico.

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Segundo Horta, esses fatos teriam ocorrido na noite do dia 6 e madrugada do dia 7 de setembro.

Se isso ocorreu ou não, não temos certeza, mas o fato é que Bolsonaro não conseguiu mostrar a força que achava que tinha e desidratou. As PMs, por exemplo, não embarcaram na aventura golpista, seja porque a maior parte dos soldados e oficiais das corporações não estão fechados com Bolsonaro como este imaginava, seja por temerem punições severas. 

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Bolsonaro colocou a culpa do fracasso do ato em Brasília na conta dos pastores evangélicos que não mobilizaram seu rebanho como deveriam. A decepção de Bolsonaro ficou clara na imagem de seu rosto em um helicóptero sobrevoando a manifestação em Brasília. No palanque ele fez um discurso genérico cuja maior ameaça foi afirmar que o chefe de cada poder deveria conter os seus pares que não houvesse problema.

Viajou para São Paulo onde, porém, se empolgou diante da grande multidão e cometeu vários crimes de responsabilidade. Ameaçou nominalmente dois ministros do STF, os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Não satisfeito, declarou, em alto e bom som, que não se submeteria a nenhuma ordem vinda do ministro Alexandre de Moraes. Distribuiu farto material de campanha escrito Bolsonaro 2022. Bolsonaro, como todo tolo, criou provas contra si mesmo. 

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Como escrevi na minha coluna da semana passada, cada vez mais acuado, só resta a Bolsonaro atacar, só lhe resta esticar a corda cada vez mais. Sabe que está enfraquecido e, ao invés de recuar, quer morrer atirando.

O problema para nós, trabalhadoras e trabalhadores brasileiros, é que Bolsonaro ainda possui amigos certos em lugares certos. As reações que se esperavam das instituições, fracas e insuficientes que foram, lhe deram sobrevida. O discurso do ministro Fux foi menos incisivo do que se esperava. O PGR Augusto Aras mostrou a covardia e a submissão a Bolsonaro de sempre. A fala do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira, do PP-AL, deixou claro que ele não vai colocar em votação nenhum dos vários pedidos de impeachment contra Bolsonaro.

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Por outro lado, partidos políticos e antigos aliados começam a organizar um movimento de unidade com a oposição ao governo para exigir o  impeachment de Bolsonaro. Mas para isso faz-se necessário superar a barreira que Arthur Lira construiu para proteger Bolsonaro em troca de gordas fatias do orçamento da União.

Bolsonaro é um morto-vivo que ainda caminha graças à subserviência e à torpeza das instituições que deveriam limitar suas ações golpistas.

Ele pode usar os atos reacionários como balões de ensaio para um golpe. Os atos em São Paulo em Brasília mostraram-lhe que precisa aprofundar seu controle sobre as PMs brasileiras. Mostraram-lhe também que pode contar com uma massa de pessoas barulhentas e dispostas a tudo.

Enquanto Bolsonaro não cair continuará a criar problemas e a ameaçar a democracia e os trabalhadores e as trabalhadoras brasileiros.

Quanto mais tempo ele permanecer no poder, mais tempo ele terá para ajustar a estratégia de governar pelo medo, de governar ameaçando a democracia e ameaçando os cidadãos e cidadãs brasileiros.

Suas ameaças surtem efeito sobretudo sobre uma certa esquerda covarde que sempre acusa o golpe e desmobiliza o movimento popular, ainda acredita nas instituições, apesar de tudo que elas fizeram de 2016 para cá, e acha que conseguirá derrotar Bolsonaro pedindo por favor. É a famosa “esquerda por favor” medrosa, covarde, classe média que tem pouco a perder e abandona a luta e sai pelo aeroporto, se tudo der errado.

Tudo o que Bolsonaro precisa é de tempo. A Frente Povo na Rua se prepara para não lhe dar tempo e está organizando uma assembleia popular, Assembleia Povo na Rua, para decidir iniciativas que pressionem Bolsonaro e organizem o movimento popular. Este tipo de ação é urgente porque não podemos esperar muita coisa das instituições da República muito menos da “esquerda por favor”. 

Temos que aproveitar o momento de fraqueza dos fascistas e fustigá-los, sem lhes dar o tão precioso tempo que eles tentam necessitam.

A oposição, sobretudo a esquerda, precisa ocupar as ruas com força, determinação e uma grande quantidade de pessoas.

As instituições da República só cumprirão seu papel se houver pressão popular e esta pressão tem que ter como objetivo o fora Bolsonaro, fora Mourão, fora Paulo Guedes e militares de retorno aos quartéis. Tem que se posicionar claramente contra as políticas públicas neoliberais.

O impeachment não vai passar, pelo menos não enquanto o Centrão não se apropriar de parte do orçamento da União para 2022. Augusto Aras blinda Bolsonaro e seus filhos em todos os processos criminais que podem atingi-los. Institucionalmente, o mais fácil e rápido seria a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão e isso depende do TSE. 

Na democracia brasileira os eleitores têm muito pouco controle sobre aqueles que elege e fica nas mãos das instituições, sobre as quais exerce menos controle ainda. Estas, como sabemos, tem seus interesses particulares para defender que quase nunca se coadunam com os interesses populares.

Os trabalhadores e trabalhadoras precisam mostrar que não tolerarão mais nenhuma medida que lhes soneguem direitos, que gere desemprego, que venda o patrimônio público, que desmonte a saúde e a educação públicas, que gere fome, que reduza salários e que aumente, ainda mais, a já vergonhosa concentração de renda que predomina na sociedade brasileira.

Bolsonaro é um rato que ruge e enquanto não for destituído vai continuar rugindo. Seus rugidos são aleatórios e já não assustam tanto, isso na atual conjuntura, mas todos nós sabemos que uma das características das conjunturas é se alterar de acordo com os movimentos dos atores políticos. Bolsonaro não está parado e trabalha para que a conjuntura mude a seu favor. É difícil, mas enquanto ele tiver poder este é um risco real.

P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pela burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.

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