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Adriana Coelho Saraiva

Doutora em Ciências Sociais pelo centro de Estudos Latino Americanos –ELA / UnB. Analista em Ciência e Tecnologia – Senior do CNPq

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O saldo do dia (7 de setembro de 2021)

Dificilmente vamos concluir que tudo voltou à velha ordem e que agora podemos dormir sossegados sem o som dos caminhões alucinados

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Após uma noite tormentosa, na qual os ruídos de caminhões alucinados atravessando Brasília nos fizeram temer - e aventar - as mais graves consequências para o país, vale refletir sobre alguns aspectos relativos aos acontecimentos recentes:

1- Não há dúvidas de que a grande ferramenta de Bolsonaro e seus seguidores é o blefe e o pânico contagiante. Mas que não se tome esse fato simplesmente como uma estratégia inócua: o blefe - e o pânico dele ele advindo, tem uma eficácia quase ritual: ao serem experimentados intensamente, (como foi feito neste 7 de setembro), mesmo que sobrevenha o alívio da sua não concretização por si só já alargam os limites do possível. E, a cada nova vez que forem vividos, terão sua factibilidade ampliada. 

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2- Não é possível negar a perigosa (e inacreditável) existência de uma parcela ainda significativa da população que se identifica com o discurso francamente fascista e autoritário de Bolsonaro. Esta, ainda que em parte sob o estímulo do financiamento de um capital trash, se dispõe a sair às ruas e a reafirmar seu líder e suas crenças. 

3- Por outro lado, mesmo entusiastas da retórica autoritária e violenta, esses segmentos não parecem apresentar, ao menos até o momento, o estofo para enfrentar os desdobramentos mais árduos que suas bandeiras golpistas impõem. Tal fato, na terça feira, os fez bater em retirada sem alcançar os resultados ameaçados. Mas não se pode garantir que assim permaneçam indefinidamente e que não aprofundem seu ímpeto de luta. 

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4-  É visível o desespero que emana do corpo e do discurso do despresidente e a falta de uma lógica mais substancial que dele se depreende (ao menos de uma semelhante à nossa). Isso nos faz pensar em uma desorientação e ausência de perspectiva de futuro, (embora não faltem 'assessores' do Apocalipse, oriundos das plataformas da ultra- direita global). Esse elemento, ao invés de ser tranquilizador, mas uma vez embute um perigo: aquele que habita o coração dos intranquilos e que os faz correr para o tudo ou nada no momento mais tensionado. 

5-  Por outro lado, embora se diga o contrário, há uma grave fragilidade institucional no ar. A mesma que faz com que o país prenda a respiração e aguarde os passos doidivanas e golpistas do despresidente, sem saber o que esperar do amanhã. A mesma que faz com que os demais poderes da República reajam com excessiva cautela, em geral com pitadas sutis ou explícitas de omissão diante dessas ameaças.  A mesma que nos deixa sempre em dúvida sobre como reagirão esses poderes, mesmo diante das ameaças mais explícitas à ordem democrática, levando-nos a sentir quase gratidão ao menor sinal de oposição aos arroubos fascistas. Há, por fim, um sinal de confusão no ar, de desencontro de interesses, predatórios ou não, mas certamente, em sua grande maioria, de caráter particular, interferindo na reação institucional necessária à gravidade do momento atual. E aqui falamos não só dos já esperados partidos fisiológicos de direita, mas também de segmentos da esquerda que resolveram sentar e acreditar (talvez imbuídos de um pensamento mágico e obsessivo), na certeza das eleições de 22. 

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6- Finalmente, diante da ainda consistente magnitude das manifestações fascistas, ainda resta uma questão essencial: há, sem dúvida, nesse conglomerado, uma parcela da sociedade brasileira que se identifica francamente com as posições fascistas e autoritárias (provavelmente aquele segmento que se encontrava intimidado, nos armários do regime democrático construído em 1988). Mas até que ponto há também aí uma parcela da sociedade que se aprofundou no fascismo, a partir da percepção equivocada de uma energia revolucionária e transformadora, em uma sociedade mergulhada na barganha política e na submissão incontinenti aos ditames neoliberais? Até que ponto a única fonte de mudanças que vislumbram, atualmente, se dá apenas a partir da ação da ultradireita fascista (e isso, em nível planetário)? Essa talvez seja uma das questões mais importantes com a qual nós, a esquerda, também deveríamos nos preocupar.

Ao nos determos nesse conjunto de fatos, dificilmente vamos concluir que tudo voltou à velha ordem e que agora podemos dormir sossegados sem o som dos caminhões alucinados.

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