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Rodrigo Lamore

Rodrigo Lamore é cantor, músico e compositor. Possui trabalho autoral e atualmente vive de shows voz e violão em barzinhos do Rio de Janeiro. É oriundo da cidade de Guanambi - BA e tem quase trinta anos de carreira musical.

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O sanfoneiro no forró e o guitarrista no rock, irmãos do virtuosismo

O arquétipo do “front man” e do guitarrista que está ao seu lado na comissão de frente eternizado simbolicamente no rock, se repete no forró clássico

Festival de forró no Nordeste (Foto: Sumaia Vilella / Agência Brasil)

O sanfoneiro no forró é o equivalente do guitarrista no rock. O visual da performance no palco com as duas figuras principais, o vocalista e o seu colega solista, tem os mesmos significados artístico e estrutural, nos dois casos. Ainda que todos os estilos musicais na atualidade estejam perdendo suas essências, com o foco na viralização, em consequência do fenômeno das redes sociais, o arquétipo do “front man” e do guitarrista que está ao seu lado na comissão de frente, responsável pelos solos, eternizado simbolicamente no rock, se repete no forró clássico, também conhecido como “pé de serra”.

Os exemplos na música que fazem as pedras rolarem se abundam, facilitando a identificação e entendimento: Mick Jagger e Keith Richard (Rolling Stones), Robert Plant e Jimi Page (Led Zeppelin), Axl Rose e Slash (Guns n’Roses), Jon Bon Jovi e Richie Sambora (Bon Jovi), etc. Até mesmo nas bandas dos anos 90, em que praticamente se extinguiram os solos, se manteve esse formato, como no Limp Bizkit, com Fred Durst (vocal) e Wes Borland (guitarra). No Brasil, esse formato teve pouca intensidade, devido ao fato do chamado rock brasileiro, com sua explosão nos anos 80, ter tido como referências o punk e o pós punk, estilos musicais com quase nada de solos de guitarra, e onde todos os membros possuíam importâncias similares em termos de exposição, exemplos disso são Ramones, Joy Division e The Clash.

Mas pra quem ainda não conseguiu identificar semelhanças entre esses estilos tão distintos, de um lado as distorções e vozes rasgadas e do outro sanfona e letras falando sobre a vida do nordestino, há uma apresentação no youtube que pode facilitar o processo. Trata-se do show do lendário Luiz Gonzaga na rede Globo no ano de 1984, intitulado “Luiz Gonzaga Especial – Show de Despedida 1984”. Nessa apresentação temos o modelo acabado e definitivo do cantor e do solista sanfoneiro. Há inclusive um duelo de sanfonas, entre Dominguinhos e Sivuca, prática bastante comum no rock, com os famosos duelos de guitarras. Músicas específicas para assistir a esse show: “Danado de Bom” (Luiz Gonzaga anuncia Dominguinhos para uma demonstração inicial do seu instrumento) e “Aproveita Gente” (música com o duelo).

Incluindo na lista, para a comodidade dos interessados, assista também na mesma plataforma a canção “Feira de Mangaio”, com a cantora Clara Nunes e o sanfoneiro virtuoso Sivuca.

Da mesma forma que o rock incentivou o surgimento de novos guitarristas ao longo da história, impulsionando a venda do instrumento em lojas especializadas, aqui tivemos a difusão de sanfoneiros anônimos e reconhecidos nacionalmente, influenciados principalmente por Luiz Gonzaga e em seguida pelos dois sanfoneiros citados acima. Dos mais conhecidos temos alguns exemplos: Waldonys, Dorgival Dantas, Targino Gondim, etc.

E, aí? Você já tinha percebido essas semelhanças? Consegue apontar mais aspectos que unem o forró e o rock? Houve um artista que já demonstrava certas características comuns em ambos, chegando a afirmar que seu modo de cantar e compor resultava dessas correspondências. Raul Seixas, o fã declarado de Luiz Gonzaga e Elvis Presley.   

 

 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.