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Clarissa De Franco

Psicóloga, doutora em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Estudos de Gênero. Profa. Titular da Universidade Metodista de São Paulo

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O sequestro do verde e amarelo, os perigos do nacionalismo e a subversão vermelha

Quando as cores do Brasil são usadas para o Estado totalitário, resta-nos atuar com criatividade, desafiando o tipo de cognição forjada na lógica atual

(Foto: Arquivo/ABr)
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Uma das principais dores recentes – dentre tantas que sofremos – desde a guinada conservadora a partir de 2013, foi ver a bandeira do país sequestrada por uma ideologia política. Há quem responda a isso com a famosa frase: “nossa bandeira não é vermelha”. De fato, não é, e nem nunca foi. Quem veste vermelho, faz uso de uma cor e não de um símbolo nacional e esta diferença é significativa para compreendermos o momento político. 

O nacionalismo sempre foi um sentimento que esteve à beira dos movimentos autoritários. A ditadura militar, o nazismo, o fascismo, e em algum grau, também o comunismo, são movimentos que, cada um à sua maneira, tenderam a posturas totalitárias, e em última instância sustentaram mecanismos antidemocráticos. Defender a ideia de Estado-nação é forjar artificialmente a fabricação de uma noção de identidade nacional pela via do fortalecimento de símbolos nacionais que servem ao controle ideológico e político do território e da população.

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Quisera os Estados-nação, gestados na modernidade, fossem somente unificadores de bons afetos pela pátria. No entanto, como lembra Hanna Arendt, são estes Estados soberanos que perseguem minorias étnicas que não se encaixam no modelo ideal de nação. São também estes Estados que fortalecem a massificação social e a perda de autonomia dos indivíduos, sob a máscara dos direitos e da possibilidade de exercício da cidadania.

Não somente o vermelho é demonizado pelo grupo do verde-amarelo, mas também o arco-íris, símbolo do que é plural, daquilo que foge ao controle dessa ideia estapafúrdia e perigosa de unidade de nação. O controle das cores é também o domínio das mentes, das ideologias, do pensamento, das opiniões, das vivências, da sexualidade, dos corpos. O controle das cores representa todo um projeto de nação.  

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A ironia é que é justamente o atual governo que desrespeita o verde de nossas matas e o amarelo de nossas riquezas, tornando nosso verde-amarelo uma pálida lembrança de tons. O azul celestial nessa hora deve estar tomando tequila em alguma praia bem longe do Brasil, levando consigo a promessa de paz, símbolo de um país racista que escolhe o branco como a cor do bem, a despeito do branco representar a união de todas as cores, tal união carrega uma cegueira perigosa que encobre o fato de que cada cor tem o direito de ser vista e ser celebrada. 

Quando as cores que são símbolo do Brasil são usadas para a lógica da soberania do Estado totalitário, resta-nos atuar com criatividade, desafiando o tipo de cognição forjada na lógica atual. Esquerdistas não devemos abrir mão de nossa bandeira, mas uma certa customização não faz mal a ninguém, né? Que tal enfeitar nossas camisetas da seleção e nossas bandeiras com bordados vermelhos e com as cores do arco-íris, sem deixar de lado o verde e amarelo? Nesse domingo, deixo um convite à subversão da estética fascista, à bagunça da ordem autoritária e sequestrante estabelecida: que as cores nos salvem. Vale a pena sangrar vermelho, e também roxo, laranja, rosa, turquesa, ameixa, preto, cores inimaginadas nessa aquarela vulgar e reducionista que está apresentada no momento. Domingo, dia de sangrar cores pelo país.

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