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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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O show do Flamengo, a soberba de Renato Gaúcho e a festa da favela gourmet

Com a elitização dos estádios de futebol do Brasil, devido ao alto valor do preço dos ingressos cobrados, quem mora “antes do túnel” de qualquer cidade do país, teve dificultado o seu acesso à maior paixão esportiva nacional. O que se viu ontem no Maracanã, entrou para o seleto grupo de jogos inesquecíveis do futebol mundial

(Foto: Reprodução)
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Foi histórico! O que se viu ontem no Maracanã, entrou para o seleto grupo de jogos inesquecíveis do futebol mundial. De um lado o Grêmio, três vezes campeão da América, dirigido por Renato Gaúcho e que, até ontem, era tido como o melhor time do futebol brasileiro. Aliás, foi o seu próprio técnico que o definiu assim. Reducionista, Renato sempre tentou minimizar o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo, alegando que ele já tinha 65 anos de idade e não havia ganho nada e dizendo que com o elenco que ele tinha nas mãos, era obrigado a fazê-lo jogar bem. Do outro lado, o português revolucionário foi fazendo o seu trabalho sem alarde, sem marketing e sem provocações tolas aos adversários.

Renato é conhecido no meio do futebol como gente fina. E dizem que é mesmo. O que não me impede de associá-lo ao refrão de um samba, composto por Sarah Benchimol e Alceu Maia e gravado por Alcione, que diz: “É gente fina, mas, vacila pra caramba”. Tal vacilo, lhe rendeu uma das maiores humilhações do futebol mundial. Seu time foi dominado, esmagado, posto na roda, como há muito tempo não se via no futebol brasileiro. Principalmente, num jogo decisivo envolvendo as duas melhores equipes do país. Foi um passeio.

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Para aumentar a sua fama de gente fina que vacila pra caramba, Renato disse durante a coletiva pós massacre, que o Flamengo fez os seus cinco gols em cinco falhas do Grêmio, e, que do jeito que o seu time estava mal, até uma mulher grávida teria feito um gol nele. Ou seja, não reconheceu que levou um baile, uma aula de futebol, do velho português que ele havia tentado desmerecer. O Flamengo joga o melhor futebol da América do Sul no momento e acho muito difícil não vencer o River Plate na final. Para tristeza e desespero do clube do vinho e companhia dos secadores S.A.

A torcida rubro-negra fez a festa. Uma alegria mais do que merecida, depois de tantos fiascos acumulados em outras edições da competição. A favela deu o tom da festa no Maracanã, como se a favela estivesse presente ao estádio. Então, você vai politizar esse momento de alegria que vive a torcida do seu time? Desculpa, mas vou sim. E não deixarei de estar me sentindo muito feliz com a vitória do meu time. Meses atrás, uma matéria publicada no jornal Extra dizia que a empresa contratada para cuidar do marketing do clube, havia vetado a expressão “Festa na favela” nas redes sociais oficiais do Flamengo, porque a frase fazia associação à violência.

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Não houve uma explicação muito convincente por parte da direção de marketing do clube e nem um posicionamento oficial por parte da diretoria, quanto a suposta proibição. Lembro de ter visto o presidente Rodolfo Landim, dando uma entrevista em algum canal de TV usando a expressão e negando o veto. É óbvio, que tendo o Flamengo a maior parte de sua torcida concentrada nas periferias, não seria muito inteligente demonstrar um preconceito explícito contra a maioria da galera. Porém, sabemos que “depois do túnel” – expressão carioca para identificar os moradores dos jardins do Rio de Janeiro – a presença da favela não costuma ser muito festejada. 

Com a elitização dos estádios de futebol do Brasil, devido ao alto valor do preço dos ingressos cobrados, quem mora “antes do túnel” de qualquer cidade do país, teve dificultado o seu acesso à maior paixão esportiva nacional. Mesmo o futebol não pertencendo mais a favela e aos mais pobres, é necessário fazer com que eles ainda se sintam donos do pedaço. Afinal, são eles que, de fato, movimentam as engrenagens da nossa pátria de chuteiras. Estádio de futebol para muitos dos ricos brasileiros, sempre foi uma diversão exótica. Um programa de índio que valia a pena fazer de vez em quando.

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Como está na moda dizimar a identidade indígena do país, tomar reservas quilombolas e colocar as minorias em seus devidos lugares, o futebol brasileiro começou a adotar valores eurocêntricos. Não dentro de campo, o que até poderia ter nos rendido alguma evolução tática. Mas, fora dele. As arquibancadas, que hoje não existem mais e as gerais, onde desfilavam as figuras mais folclóricas e apaixonadas pelo esporte, deram lugar a torcedores gourmetizados, cujo estereótipo valoriza mais o espetáculo televisivo. A favela só está presente nos estádios brasileiros, no canto da torcida do Flamengo. A mais numerosa e popular do país.

O capitalismo é inteligente. Mesmo excluindo os menos favorecidos, ele sabe fazer com que eles se sintam parte integrante do processo. O dono da Havan que o diga. Façam uma pesquisa em off, com boa parte desses torcedores do novo Maracanã que puxam o coro de “Festa na favela”, para saber se eles gostariam de morar em uma ou serem comparados a um morador de uma delas, em qualquer outra situação que não seja a torcida pelo seu time de coração. Aposto que o resultado não será tão surpreendente, pelo menos para mim, quanto a goleada aplicada pelo melhor time do Brasil, no ex melhor time de Renato Gaúcho.

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Saudações Rubro-Negras!

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