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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O sistema comeu Dallagnol e vai comer todo mané metido a coroné

Não é apenas o sistema de Justiça que está se livrando deles, é o sistema todo, o político e o de Justiça, em seu mais amplo sentido e alcance

Deltan Dallagnol (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
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Olavo de Carvalho passaria um pito no grupo que se reuniu em torno de Deltan Dallagnol, no salão verde da Câmara, um dia depois da cassação do mandato do lavajatista.

Faz falta um Olavo de Carvalho para dizer ao pessoal da extrema direita o que precisam ouvir de um deles em voz alta. O grupo até era surpreendente em número e subdiversidade.

Mas os cartazes de protesto contra a cassação do sujeito eram fracos e padronizados demais.

Eram cartazes assépticos, demasiado nutelas, quase tucanos, paradoxalmente carregados por uma turma da pesada.

As mulheres, respeitosamente à frente, colocavam os cartazes abaixo da linha da cintura. Os homens não mantiveram os cartazes erguidos para aparecer na TV e nas fotos.

Havia um apoio protocolar, que Olavo de Carvalho iria ver como encenação provisória. Não havia ânimo na indignação. Faltava vigor à inconformidade.

Dallagnol sabia que aquilo era apenas mais um teatro antilulista e antipetista. Não havia nada ali de antissistema ou contra o Supremo e o TSE.

Todos são do sistema e quase todos eles em algum momento terão problemas no STF e no TSE. Era uma cena armada, com um grupo apenas emprestado para a ocasião.

Montaram um cenário para tentar conectar a decisão do TSE com a ‘vingança’ de Lula, como os jornalistas de extrema direita repetem sem parar.

Estava ali Eduardo Bolsonaro, mesmo sabendo que os três ministros do TSE afinados com a família votaram pela cassação.

Estavam uma deputada que correu armada atrás de um jornalista negro, outra que votou contra a equiparação de salários de homens e mulheres e uma senadora que viu Jesus na goiabeira.

Entre os homens, apareceram os que odeiam a universidade pública e não têm simpatia por indígenas, negros e gays.

O cassado cercou-se de uma fanfarra meia-boca. Todos fingem fazer alvoroço, mas nenhum deles enfrentará os mimistros do STF e do TSE.

Um sujeito que construiu em Curitiba sua imagem como antissistema e que batia nas falcatruas da política, cercou-se com o que há de mais sistema, gente que usa e abusa do que a política oferece aos que desfrutam dos seus subterrâneos, enquanto fingem que a condenam.

E aí surgem as dúvidas que já deveriam ser tratadas como certezas. Dallagnol queria ser político quando deixou o Ministério Público para se candidatar a deputado? Não.

Sergio Moro queria fazer carreira política, quando deixou a magistratura para ser empregado de Bolsonaro, logo depois de mandar prender Lula? Também não.

Dallagnol e Moro queriam escapar do pântano que criaram em Curitiba. O procurador buscou uma candidatura para fugir da inelegibilidade representada pela ameaça de 15 pedidos de inquéritos no Conselho Nacional do Ministério Público.

Foi o relator da ação no TSE, ministro Benedito Gonçalves, quem afirmou que o agora cassado fraudou o registro da sua candidatura para se antecipar às investigações. O relator definiu tal gesto como fraude e foi seguido pela unanimidade.

Antes de ser político com mandato, Dallagnol queria ficar ultrafamoso e ganhar muito dinheiro com palestras para multidões, como mostram suas conversas na Vaza-Jato.

Nas horas vagas, planejava ser o dono de uma fundação com R$ 2,5 bilhões da Petrobras.

Nunca ninguém no Brasil teve uma fundação que surge com R$ 2,5 bilhões. Nem Amador Aguiar.

Enquanto isso, Moro considerava duas possiblidades, nessa ordem: ser ministro do supremo, por serviços prestados à direita na Lava-Jato e ao fascismo no governo de Bolsonaro, ou ser candidato a presidente, se gostasse da lida e surgisse uma brecha nessa direção.

Os dois ganharam mandatos como consolação, indo parar onde sempre condenaram, no Congresso da política suja, conforme a imagem construída pelo lavajatismo.

Dallagnol e Moro enfiaram-se dentro do sistema, porque nenhum deles iria sobreviver como servidor do outro sistema que eles depreciaram, o sistema de Justiça.

Durou cinco meses a experiência de Dallagnol dentro do sistema de Brasília. A experiência de Moro também pode durar pouco.

No dia seguinte à cassação, ele e Moro se reuniram para tentar uma saída. Na Lava-Jato, eles tramavam sem escrúpulos para criar armadilhas para os inimigos e chegar até Lula.

Agora na política, tentam usar as mesmas artimanhas que condenavam no sistema e deliram com a possiblidade da maracutaia de uma anistia a Dallagnol e por antecipação ao próprio Moro.

São dois caras antissistema esperneando no sistema que não dominam. Ambos são amadores e simplórios demais para entender o sistema que vai comê-los. Comeu um e vai comer o outro.

Não é apenas o sistema de Justiça que está se livrando deles, é o sistema todo, o político e o de Justiça, em seu mais amplo sentido e alcance, o mesmo que se livrou de Demóstenes Torres, Delcídio do Amaral e Eduardo Cunha e não precisou se livrar de Aécio.

O sistema de Justiça só teve a chance que esperava e fez o serviço. O sistema, qualquer sistema, expele o mané que se mete a coroné.

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