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Pablo Nacer

Jornalista, autor do livro Meu Avô A´uwê - sobre três viagens a uma aldeia indígena xavante -, ex-Brasil 247 e atualmente trabalha na comunicação digital da SSI (Settlement Service International), na Austrália.

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O tosco e perigoso discurso do chanceler Eduardinho

A pós-verdade chegou no Itamaraty em forma de um grotesco, bizarro e surreal artigo (mais um) do futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em alguns trechos, o texto "Mandato popular na política externa" parecia uma redação de colégio; em outros era praticamente uma letra de música de banda dos anos 1980... de colégio

O tosco e perigoso discurso do chanceler Eduardinho
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A pós-verdade chegou no Itamaraty em forma de um grotesco, bizarro e surreal artigo (mais um) do futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em alguns trechos, o texto "Mandato popular na política externa" parecia uma redação de colégio; em outros era praticamente uma letra de música de banda dos anos 1980... de colégio.

"Estou aqui para aguar todas as posições do presidente, para cozinhá-las e transformá-las no mesmo rame-rame que vocês já conhecem, cotinuarei (escrito e publicado sem o "n" mesmo, tipo redação de colégio) falando a linguagem da ordem global".

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É ou não é redação do Eduardinho, aquele zueiro do fundão que desde a quarta série já se destacava como umas das lideranças da sala?

"Você diz que é contra a ideologia, mas, quando eu digo que sou contra o marxismo em todas as suas formas, você reclama. Quando me posiciono, por exemplo, contra a ideologia de gênero, contra o materialismo, contra o cerceamento da liberdade de pensar e falar, você me chama de maluco."

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Já essa sensível e transgressora passagem é quase trecho de música que o Eduardinho compôs com os colegas de banda na oitava série, em 1987:

Você diz que é contra a ideologia,
mas, quando eu digo que sou contra o marxismo
em todas as suas formas, você reclama

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Quando me posiciono, por exemplo,
contra a ideologia de gênero, contra o materialismo, contra o cerceamento da liberdade de pensar e falar,
você me chama de maluco

Mais duas linhas e o futuro chanceler rimaria "reclama" com "me chama" (alusão ao "gênio Lobão", nas palavras dele) e "maluco" com "trabuco" (resposta ao "destruidor de lares e da família brasileira" Raul Seixas).

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Mas, independentemente da forma do artigo (há partes muito piores, acreditem), a questão principal é o conteúdo, que é grotesco, bizarro, surreal e, acima de tudo, extremamente perigoso, pois é a pós-verdade em seu estado bruto.

Post-truth (pós-verdade): relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais.

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A definição acima é do Dicionário de Oxford, que em 2016 elegeu "pós-verdade" como a palavra do ano (lembrando que no referido ano de nosso senhor Jesus Cristo tivemos nada menos do que o Brexit e a eleição de Donald Trump).

Sempre que leio ou ouço "ideologia de gênero", conforme citado pelo chanceler Eduardinho, eu sinto um embrulho no estômago pelo simples fato de ser algo que não existe. É uma invenção. Gênero não é ideologia, é uma realidade. O que há tempos incomoda o patriarcado-macho-alfa-gorilão-da-bola-azul-caçador-provedor-da-porra-toda é a luta pela igualdade de gênero. E aí sim, estamos falando de igualdade de direitos, e do direito de cada indivíduo viver no gênero que escolher para si.

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Mas ideologia de gênero, juntamente com aberrações como a Escola Sem Partido, colocados sob o guarda-chuva do "marxismo cultural" - que não passa de um "meme de 100 anos de idade que pode parecer pós-moderno, mas tem uma história longa e tóxica", como bem definiu o professor de Direito e História da Universidade de Yale, Samuel Moyn, em artigo no NYT -, são o ápice dessa insanidade.

"Nada disso realmente existe", diz o professor. Porém, está aí movendo o que há de pior. Para não ir muito longe, Anders Breivik, o neonazista que matou 77 pessoas (a grande maioria adolescentes) e feriu 51 na Noruega, em 2011, em seu manifesto de 1.500 páginas invocou a ameaça do marxismo cultural repetidas vezes.

Mas em tempos de pós-verdade, a realidade já não importa. O futuro ministro indaga: "Mas, se isso não é o marxismo, com estes e outros de seus muitos desdobramentos, então qual é a ideologia que você quer extirpar da política externa? 'A ideologia do PT', você me dirá. E a ideologia do PT acaso não é o marxismo?"

A última coisa que o PT é, ou fez durante 13 anos, foi algo próximo ao marxismo. Lá dentro tem marxistas? Com certeza. Mas por conta disso afirmar que é um partido de ideologia marxista e, pior, que precisa ser extirpado, é justamente passar por cima da verdade para criar um discurso perigoso e muito bem arquitetado, um discurso profundamente ideológico com verniz anti-ideológico que pretende atropelar como um rolo compressor qualquer ideia que não seja a de quem colocou o chanceler Eduardinho no Itamaraty.

Em tempo: "tóxico" foi eleita a palavra de 2018 pelo Dicionário de Oxford.

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