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      Vladimir Falcón Lamar

      Engenheiro em Automática formado pela Universidad Tecnológica de La Habana "José Antonio Echeverria" em 2001. Mestre em Relações Internacionais no Instituto Superior de Relações Internacionais "Raúl Roa García" de Havana em 2004

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      O turismo cubano tem sido fortemente impactado pelo endurecimento do bloqueio dos EUA

      Número de visitantes internacionais caiu 52% em relação a 2019, segundo dados oficiais

      Bandeira de Cuba (Foto: Reuters/Gary Cameron)

      Cuba é reconhecida internacionalmente como um dos melhores destinos turísticos do mundo, por sua beleza natural, arquitetura bem preservada, cultura rica, povo amigável e como um destino seguro. Em 2020, foi selecionada entre os 25 destinos mais populares do mundo, de acordo com os prêmios Travellers' Choice 2020, organizados pelo maior site de viagens TripAdvisor¹; e, em 2022, a praia de Varadero, localizada no oeste de Cuba, conquistou o segundo lugar entre as melhores praias do mundo, de acordo com os visitantes².

      O número de visitantes tem variado nos últimos anos. A aproximação entre os governos de Cuba e dos EUA entre 2015 e 2016 levou a um aumento no número de visitantes a Cuba, que continuou nos primeiros anos da administração republicana de Donald Trump. Somente em 2017, 4 milhões 689 mil turistas visitaram a ilha, um aumento de 16,2% em relação ao ano anterior; e, em 2018, 4 milhões 732 mil, sendo o melhor número registrado em Cuba desde o início do desenvolvimento do seu setor turístico. Nesse ano, 620.676 cubanos residentes no exterior e 638.360 estadunidenses visitaram a ilha, o que representa 27,5% do total de visitantes internacionais, refletindo o peso fundamental dos visitantes dos Estados Unidos³ nesse crescimento. Isso ocorre apesar da proibição contínua de viagens a Cuba por parte dos americanos, que só podem visitar a ilha com uma licença do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), que autoriza 12 categorias de viagens⁴.

      Em 2024, no entanto, Cuba recebeu 2 milhões 203 mil 117 turistas, 71,1% do que foi planejado pelas autoridades do setor e 90,4% do que foi alcançado em 2023, o que reflete que o setor, o segundo mais importante na receita internacional de divisas do país, não recuperou os níveis alcançados em 2018, quando foram recebidos 4 milhões 732 mil visitantes⁵.

      ¹ http://www.cubadebate.cu/noticias/2020/03/04/tripadvisor-viajeros-eligen-a-cuba-entre-los-25-destinos-mas-populares-del-mundo/ ² https://oglobo.globo.com/boa-viagem/noticia/2022/04/conheca-as-25-melhores-praias-do-mundo-segundo-ranking-do-tripadvisor.ghtml ³ http://www.cubadebate.cu/noticias/2024/12/11/academico-analiza-la-situacion-del-turismo-en-cuba/https://cu.usembassy.gov/es/services-es/traveling-to-cuba/http://www.cubadebate.cu/noticias/2024/12/11/academico-analiza-la-situacion-del-turismo-en-cuba/

      Em relação às causas dessa queda no número de visitantes, o primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero, destacou recentemente que o turismo é um dos setores mais afetados pelo endurecimento do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos Estados Unidos e pelas recentes medidas adotadas pela nova administração norte-americana⁶.

      A intensificação da pressão econômica sobre Cuba por parte do governo dos EUA gerou dificuldades no fornecimento de combustível. A isso se soma a persistência de campanhas na mídia para desencorajar viagens de férias a Cuba e a ocorrência de eventos naturais.

      O acadêmico e pesquisador cubano José Luís Perelló, em um artigo publicado pelo meio digital Cubadebate em dezembro de 2024, explicou que, a partir do segundo ano de seu primeiro mandato, o presidente Trump promoveu mais de 240 medidas contra a ilha, incluindo, em junho de 2019, a proibição de viagens de navios de cruzeiro dos Estados Unidos.

      Entre 2019 e 2020, Cuba sofreu os maiores impactos dessas sanções e restrições, incluindo a ativação do Título III da Lei Helms-Burton, a partir de 2 de maio de 2019; a inclusão na lista de países que supostamente patrocinam o terrorismo; e a inserção de 231 empresas na Lista de Entidades Restritas de Cuba. Em outubro de 2019, o Departamento de Transportes anunciou a suspensão de todos os voos de companhias aéreas dos EUA para a ilha, com exceção dos voos para o Aeroporto Internacional José Martí, em Havana.

      Essas medidas foram mantidas pela última administração democrata, que, a poucos dias de deixar a Casa Branca, retirou Cuba da lista de Estados que supostamente patrocinam o terrorismo, apenas para ser incluída novamente pela nova administração Trump em janeiro de 2025.

      Entre as medidas em vigor do governo dos EUA contra o setor de turismo cubano estão:

      http://www.cubadebate.cu/noticias/2025/02/25/encabezo-manuel-marrero-cruz-balance-anual-de-trabajo-del-ministerio-de-turismo/

      • A proibição de viagens de americanos a Cuba para fins de turismo. Isso só é possível por meio de licenças estabelecidas no marco regulatório do bloqueio, com inúmeras restrições.
      • A proibição de viagens individuais na categoria de pessoas para pessoas, o que obriga os americanos a viajar a Cuba em grupos e sob os auspícios, supervisão e responsabilidade legal de uma organização dos EUA.
      • A manutenção da Lista de Entidades Cubanas Restritas do Departamento de Estado e da Lista de Acomodações Proibidas para cidadãos norte-americanos. A primeira lista inclui 231 entidades ou empresas, praticamente todo o tecido empresarial cubano; enquanto a segunda inclui 422 hotéis e alojamentos, ou seja, quase todas as instalações hoteleiras, causando grandes perdas para hotéis, casas de aluguel e operações com múltiplas entidades cubanas.
      • Como Cuba foi incluída na lista de supostos Estados patrocinadores do terrorismo, um viajante que visita Cuba não está qualificado para participar do Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (ESTA) e deve solicitar um visto para entrar nos Estados Unidos. O impacto dessa medida foi significativo para o setor de turismo. Basta assinalar que o número de visitantes internacionais a Cuba provenientes dos sete principais países emissores da União Europeia foi de 730.211 em 2019. Em 2023, a quantidade mal chegou a 324.032, ou 44% do que foi registrado em 2019. No período 2023-2024, o governo dos EUA negou acesso ao ESTA a 300 mil europeus que visitaram Cuba⁷.

      Essas ações do governo dos EUA, reforçadas pela atual administração de Donald Trump, causaram uma queda acentuada na renda do turismo em Cuba. Em 2019, a receita do país com o turismo internacional foi de US$ 2 bilhões 645 mil, dos quais US$ 373 milhões vieram do setor privado, o que mostra que esse setor, que está crescendo na economia cubana, também se beneficia do turismo⁸. Já em 2023, o país ganhou apenas 1 bilhão 269 mil dólares, uma redução de 52% em relação a 2019.

      Em contraste com a situação descrita acima, os destinos turísticos do Caribe apresentaram um aumento anual de 10% durante o primeiro semestre de 2024 e um crescimento geral de 13% em relação a 2019, indicando a recuperação e o crescimento do setor de turismo na região, em comparação com os níveis pré-pandêmicos⁹.

      Nesse sentido, a República Dominicana, um país com população, território e infraestrutura turística semelhantes aos de Cuba, recebeu 11 bilhões 192 mil visitantes em 2024, o que representa um crescimento de 43% em relação a 2019, sendo os EUA o principal emissor com 46% do número total de visitantes. Isso representou uma renda para a nação vizinha de 10 bilhões 974 mil dólares em 2024¹⁰.

      Como se vê, as medidas de endurecimento do bloqueio a Cuba adotadas pelo governo dos EUA, e intensificadas pela nova administração Trump, têm causado enormes prejuízos a um dos principais setores econômicos do país. Análises semelhantes poderiam ser feitas em qualquer setor da vida econômica e social de Cuba, que, se não tivesse que enfrentar o bloqueio, estaria em condições muito melhores para melhorar cada vez mais a qualidade de vida de sua população.

      Para Cuba, o desenvolvimento sustentável do turismo continua sendo uma prioridade. É por isso que o país sediará a Feira Internacional de Turismo, FITCuba2025, de 30 de abril a 3 de maio deste ano, em Havana. Esse é o principal evento profissional do setor de turismo cubano e o espaço ideal para o contato entre especialistas, gerentes e empresas de turismo.

      https://cubaminrex.cu/sites/default/files/2024-09/InformeB2024.pdf ⁸ ONEI, anuário estatístico de 2023. ⁹ https://www.traveltradecaribbean.es/especial-ttc-el-turismo-internacional-en-el-caribe-primera-mitad-de-2024/ ¹⁰ https://www.bancentral.gov.do/a/d/6153-la-economia-dominicana-se-expandio-en-50--en-el-ano-2024#:~:text=Para%20el%20a%C3%B1o%202024%2C%20los,alrededor%20de%20US%243%2C600%20millones

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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