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Michel Zaidan

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O umbigo do mundo

A convicção de que somos um grão de poeira na vastidão do universo nos ajuda a crescer e nos tornar mais resistentes às perdas e infortúnios

O umbigo do mundo (Foto: Reprodução)

Pascal definiu o homem como um caniço pensante; foi melhor do que Nietzsche que achava a  racionalidade humana uma espécie de doença. Pois bem, um caniço - mas pensante. A questão é que o tal caniço rapidamente se julgou o umbigo do universo  ou o amo e senhor da criação, como ensina a tradição judaico-cristã numa clara atitude de impiedade cósmica. 

A se achar o ponto derradeiro da criação divina, foi fácil adotar o ponto de vista de que o mundo  as coisas, os seres humanos e inumanos seriam para si,   só teriam sentido para si, através  de uma apropriação prática, utilitária, material. Ou seja, tomados em si mesmo não teriam nenhuma importância ou valor. Nem é preciso repetir aqui o que representou tal atitude para a predação e destruição da natureza e a escravidão de outros seres humanos

Esse sentimento de onipotência sobre a natureza e o gênero humano foi diagnosticado por Freud como "narcisismo primário".. O excessivo amor por si próprio. Sentimento que alimentamos na infância e que depois abandonamos, com a idade madura, após muitas dificuldades e sofrimento. 

Como diz o poeta, o que há e só o é o mundo verdadeiro, não é nós. A descoberta de que o mundo verdadeiro não é nós, ou que o peito da mãe ou o útero materno não nos pertencem,  são da nossa  mãe, é uma descoberta  dolorosa demais para nossa vã vaidade. Mas é necessária para o descentramento do eu e a aceitação do outro , do diferente e das adversidades da vida. A convicção de que somos um grão de poeira na vastidão do universo nos ajuda a crescer e nos tornar mais resistentes às perdas e infortúnios e a empatizar com o sofrimento do outro.

A questão é que existem pessoas que nunca superaram a fase do narcisismo primário e se julgam o centro do universo. Essas são as mais perigosas e padecem de uma regressão infantil. São frias e capazes de tudo para conquistarem o que querem.

Estamos cheios de gente desse tipo: em casa, na rua, nos negócios,  na política, na arte, na igreja etc. E o mal que causam não é pequeno. A si e aos demais. É em relação a esses  que precisamos ter cuidado, sobretudo quando estão em situação  de poder.  Tivemos, há pouco tempo, um triste exemplo  do que isso pode  representar para milhões e milhões de pessoas.

A propósito  dessa discussão,  o cientista  Jacques Monod  afirmou que a Idade da biosfera na vida do universo é  uma fração  pequenina de tempo. Imagine a vida humana, dentro da biosfera. Convém  que sejamos mais modestos...

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.