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Gustavo Tapioca

Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de "Meninos do Rio Vermelho", publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.

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O vazio da direita e o déjà vu da indecisão

A um ano das eleições, a direita vive mais uma vez o mesmo impasse histórico: não tem candidato, discurso, nem unidade

Romeu Zema, Jorginho Mello, Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado, Wilson Lima, Ratinho Jr. e Mauro Mendes (Foto: Reprodução/X/@jairbolsonaro)

Enquanto a esquerda está organizada há muito tempo em torno de Lula, a direita repete seu velho ritual de indecisão, disputas internas e falta de projeto nacional. A um ano das eleições de 2026, ainda não tem candidato para chamar de seu. E a história mostra que o vácuo da direita costuma ser preenchido por aventureiros. 

A um ano das eleições presidenciais, o campo da direita brasileira vive mais uma vez o mesmo impasse histórico: não tem candidato, discurso, nem unidade. O campo progressista consolidou há muito tempo o nome de Lula como representante de um projeto social, nacional e internacionalmente reconhecido. 

A extrema direita e a direita liberal vagam entre egos, ressentimentos e fantasmas do passado. O cenário de 2025 parece uma reprise das crises de identidade que marcaram as campanhas de 1989, 2002 e 2018.

A direita que não sabe o que quer

A direita brasileira é, por tradição, reativa e não propositiva. Seu projeto costuma se resumir a impedir o avanço das forças populares e proteger os interesses de elites empresariais e midiáticas. Quando a conjuntura exige imaginação e liderança, ela se desorganiza. 

Foi assim em 1989, quando o PDS, herdeiro da Arena, não conseguiu unificar a antiga base do regime militar e abriu espaço para o “fenômeno” Collor. Foi assim também em 2002, quando PSDB e PFL não se entenderam sobre quem deveria enfrentar Lula, e acabaram empurrando José Serra ao sacrifício.

Hoje, em 2025, o enredo se repete com novas faces. O bolsonarismo, esvaziado e judicialmente asfixiado, insiste em buscar um herdeiro messiânico. Mas nem Tarcísio de Freitas, nem Caiado, nem Zema, nem Ratinho Jr. têm o carisma do líder caído. Os filhos de Jair estão cada vez mais se afastando da possibilidade de serem os sucessores; Michelle Bolsonaro tenta encarnar o papel simbólico de “primeira-dama da direita”, mas sem trajetória política, densidade programática, sem nada.

Um campo fragmentado

A direita de 2025 não apenas não tem candidato. Não tem narrativa, propostas, programa, projetos. Enquanto Lula fala de soberania, reindustrialização, integração latino-americana e transição ecológica, seus adversários se debatem entre slogans vazios como “gestão eficiente” e “livre mercado”. 

A incapacidade de formular um projeto de país transforma a direita num agrupamento de conveniências eleitorais. Um condomínio de interesses que vai do agronegócio ao fundamentalismo religioso, passando por think tanks ultraliberais financiados por grupos estrangeiros.

O resultado é paralisante. O Republicanos sonha com Tarcísio, o Novo aposta em Zema, o PL tenta ressuscitar Bolsonaro no corpo de Eduardo ou Michelle, e o PSD espera ver para onde sopra o vento.

 Nenhum deles, porém, tem densidade nacional ou base popular sólida. E todos temem o mesmo espectro: a força eleitoral de Lula, que continua liderando as pesquisas, amparado em realizações concretas e na imagem de estadista internacional.

O vácuo que cria monstros

A história mostra que o vácuo da direita costuma ser preenchido por aventureiros. Em 2018, o desespero por um “anti-PT” produziu Jair Bolsonaro, o capitão que transformou ressentimento em poder. Agora, o risco é semelhante. A ausência de um projeto civilizado pode dar origem a novas figuras extremistas, travestidas de “gestores” ou “liberais patriotas”. É o velho padrão de 1989 e 2018. Quando a direita se divide, um outsider autoritário se apresenta como salvador da Pátria.

O problema é que o país não suporta mais experiências messiânicas. O bolsonarismo destruiu o que restava de credibilidade da direita tradicional e deixou um legado de fanatismo, desinformação e fé política misturada a algoritmos. O Brasil aprendeu, a duras penas, que a antipolítica custa caro. 

Lula e a política com construção

Enquanto isso, o campo progressista mantém-se coeso. Lula não é apenas um candidato natural — é um projeto em curso. A política externa ativa e altiva recolocou o Brasil no centro do cenário mundial; o investimento em indústria verde e infraestrutura social reacende a esperança de desenvolvimento. Mesmo com resistências no Congresso e pressões do mercado, o governo constrói uma narrativa que combina democracia, inclusão e soberania, exatamente o que falta à direita. 

O déjà vu da indecisão

A cada ciclo eleitoral, a direita brasileira encena o mesmo drama. Primeiro se divide, depois improvisa, e por fim se queixa do resultado. A esquerda tem Lula e escolheu cedo. A direita chega tarde, várias vezes com soluções autoritárias. Em 2026, a história parece repetir-se como farsa. E o país, cansado de salvadores e falsos moralistas, segue com quem sabe o que quer fazer do Brasil. 

Pelo menos, é o que dizem os resultados do querer da maioria dos eleitores, atestado pelos pesquisadores de opinião: "se a eleição fosse hoje, Lula estaria eleito no primeiro turno". 

Se o imponderável não fizer surpresas, tudo indica que Lula subirá a rampa do Palácio do Planalto pela quarta vez. No primeiro turno, pode ser, provavelmente não. No segundo é quase certo. Sempre é bom lembrar, no entanto, que eleição não se ganha de véspera. O resultado final só em outubro ou novembro de 2026. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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