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Eliezer Pacheco

Professor de História, ex-secretário de Educação de Porto Alegre, ex-presidente do INEP, ex-secretário de Educação Profissional e Tecnológica MEC.

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O velho mundo está morrendo. A esquerda também?

Os monstros surgidos neste claro-escuro não podem empurrar a esquerda para posições conservadoras, pois isto seria o seu fim

(Foto: Ricardo Stuckert)

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“O velho mundo está morrendo. O novo tarda a aparecer. E neste claro-escuro surgem os monstros” (Antônio Gramsci)

Tarso Genro, em artigo publicado no SUL 21 (25/11/23) afirma que “Bolsonaro e Milei representam o fundo do poço de uma esquerda envelhecida, que não soube responder unida à retomada do fascismo.” Salienta que ambos se elegeram obtendo grandes votações nas classes médias, total nos setores mais ricos e expressivas nos setores mais pobres, inclusive os intelectualizados. Tarso enfatiza o retrocesso da razão e o avanço de outros fatores tidos pela esquerda como “metafísicos” como a “vontade de poder, o inconsciente, o desejo, o mito” fortalecidos pelo fracasso da ciência e da tecnologia para promoverem o bem-estar social.

Ante o fracasso do racionalismo, o irracional se impõe. A esquerda perplexa ante a rapidez e profundidade das transformações se divide entre duas posturas. De um lado, os que se mantém apegados a ideia de uma revolução proletária, com um proletariado enfraquecido ou seduzido pela ideologia burguesa e, de outro, os que se refugiaram nas causas identitárias, achando ser possível enfrentar os problemas do capitalismo nos limites de seu segmento identitários. É um reformismo limitado às fronteiras de seu “mundo”. Tarso não aponta alternativas para este quadro, talvez, por falta de condições objetivas e subjetivas para tanto.

Entendemos que isto transfere a disputa mais para a política e menos para a economia, mais para as emoções e menos para as razões. Neste claro-escuro a disputa tem que se deslocar para o terreno da cultura, dos valores e da concepção de mundo a partir do ponto de vista das classes e camadas excluídas e exploradas. De uma concepção de Democracia que supere os limites da Democracia Liberal Burguesa, pois suas mazelas são determinantes para o surgimento de figuras como Bolsonaro, Milei, etc. Hoje, quem contesta o liberalismo burguês não é a esquerda, mas a direita fascista. Chegamos ao paradoxo de que a direita é quem se apresenta como “libertária”, contestando o sistema eleitoral e não a esquerda, sendo esta, algumas vezes, mais conservadora que a direita.

Neste momento, é necessário enfrentar a cultura dos fakes, do ódio, dos preconceitos a partir da ótica dos excluídos e defender um conceito de Democracia de Massas, participativa, a partir das organizações populares. Causas “supraclassistas” como a defesa do meio ambiente, da qualidade de vida, do patrimônio público, adquirem grande importância. Naturalmente, isto não exclui a defesa dos interesses imediatos e objetivos dos trabalhadores. Os monstros surgidos neste claro-escuro não podem empurrar a esquerda para posições conservadoras, pois isto seria o seu fim.

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