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Nívea Carpes

Doutora em Ciência Política e mestre em Antropologia Social

27 artigos

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Ocupação de mentes miseráveis – o projeto sórdido que leva a extrema direita ao poder

Da direita colonizadora à extrema direita tecnológica vemos grandes avanços no método de dominação, originado na manutenção da inércia das mentes quanto às questões políticas da sociedade

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A primeira tradução da bíblia em Portugal data do final do século XVIII. Até metade do século XX a alfabetização em Portugal era um processo restrito a um estrato da sociedade. Um país marcadamente católico relegou sua população à ignorância pelo iletramento, mantendo-a distante até mesmo dos conhecimentos bíblicos, como estratégia de dominação. 

No Brasil, somente após a chegada da Coroa portuguesa no Rio de Janeiro que será liberada a criação de uma imprensa. Em 1811 é criada a Imprensa Nacional, semelhante ao que era a imprensa lusitana, fundada em 1768.

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A história do analfabetismo em Portugal falaria muito sobre as relações de poder a partir desse modelo de restrição. Era uma estratégia explícita, a restrição à formação sociocultural de camadas médias, ademais, o que havia era uma pequena elite brevemente alfabetizada e uma grande massa iletrada de camponeses pobres com acesso apenas aos livros sagrados.

Se para os súditos da coroa esta era a realidade, a realidade das colônias foi disso para pior – e esse é o legado.

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Pode parecer um grande afastamento histórico trazer essas memórias, mas não, essa é a origem do senhor de engenho, do senhor de tudo e de todos brasileiros, estudado por Jessé de Souza – ou seja, essa é a procedência de nossas oligarquias, impregnadas dessa lógica elitista, também em relação ao acesso a conhecimento.

Não podemos dissociar a construção da cidadania da disseminação de instrução à população, é o que considera o sociólogo americano Bendix. Essa realidade que constrói um padrão de relações que precisamos analisar para encontrar as motivações da miséria intelectual de uma grande parcela da população brasileira, associada ao projeto de alienação capitalista – em processos avançados tecnologicamente.

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Ok, essa é a história, distanciamento das esferas de conhecimento para facilitar a dominação. Essa sempre foi uma clara percepção das elites em relação ao controle das massas. O que temos de novo?

A novidade é que o projeto atual é mais focado e estruturado, elaborado a partir do aprimoramento de tecnologias, tanto no sentido da compreensão do processo de captura de mentes, quanto no processo de utilização de instrumentos informatizados de redes para mapeamento de fragilidades psicossociais e disseminação massiva de ideias, focadas nos receptores adequados para a assimilação. 

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Se em outros momentos entendia-se como suficiente alijar a população dos saberes, hoje o processo tem aspirações mais profundas no aprisionamento das mentes e transformação de pessoas em zumbis que reproduzem ideias sem a capacidade de pensar autonomamente. Isso é possível a partir do desenvolvimento das ferramentas certas que dão encaixe nas frustrações, nas amarguras e nas tristezas pessoais, assim como nas projeções pessoais.

Podemos elaborar uma lista de fatores que constroem esse ambiente, sem o compromisso de dar conta do todo, mas com a vontade de instigar o debate, nenhum desses fatores é mais importante que os demais e todos merecem nossa dedicada atenção. 

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O primeiro é a estratificação social historicamente rígida que impede a mobilidade social. 

O segundo é o contato com um mundo “grande”, aproximado através da globalização e seus resultados. 

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O terceiro é o acesso massivo a informações de todos os matizes e procedências, sem a capacidade intelectual de selecionar ideias e origens com crédito vinculado à complexidade da realidade. 

O quarto foi o acesso a políticas que permitiram o sonho da inclusão e com isso, o trânsito e a contemplação de novos horizontes. 

O quinto é a disseminação da ideia de que os novos acessos da inclusão cidadã estavam vinculados ao mérito e não à política pública. 

O sexto é o apego a privilégios das classes médias médias e médias altas que foram colocados em cheque, revelando-se de forma egoísta, rebelando-se contra a concorrência com as camadas subalternas por espaços de formação e em profissões.

O sexto é o projeto de destruição da política, como forma de fragilizar as instituições em condições de preservar a democracia e a organicidade da sociedade. 

O sétimo é o projeto anticorrupção que conquista século após século os incautos que inadvertidamente ajudam a destruir instituições e políticas populares, com a desculpa do combate à corrupção.

O oitavo é a incapacidade da escolarização de conferir cidadania às pessoas, através da capacidade de ver-se em coletividade e como sujeito que vive em sociedade e deve contribuições ao conjunto.

O nono é o projeto capitalista que destruiu a identidade “trabalhador”, destruindo a perspectiva da consciência de classe, transformando todos em “indivíduos com interesses próprios e desvinculados” – como ideia, consumidores, produtos de si mesmos e empreendedores. Nesse também está a lógica da troca de vida por dinheiro e as pessoas devotam o seu tempo mais lúcido e vital a produzir para ter alguma capacidade de consumir. Isso impossibilita totalmente a capacidade racional, uma vez que cooptada por esse ciclo, a mente está totalmente ocupada por desejos, consumo e busca por dinheiro.

Esse cenário que contém muitas outras variantes encheu e esvaziou os sujeitos. Encheu da própria lógica, que consome todos os sentidos do ser humano, oferecendo significados e valores próprios, que tem como efeito colateral uma avalanche de insatisfações e frustrações. E esvaziou a partir do descolamento do ser humano de si mesmo e de seus potenciais próprios, de seus dons, da satisfação através de conexões com o sentido filosófico da existência de cada um.

Nesse cenário, as pessoas “melhor enquadradas” no grande projeto capitalista de desumanização do ser humano são as que possuem mais “inputs”, por meio de suas insatisfações. A possibilidade calculada de atingir insatisfações é que torna possível construir leituras, as mais inacreditáveis para quem possua um mínimo de leituras, porque essas pessoas estão miseráveis e esvaziadas de tudo que lhes humaniza e lhes permite ter cidadania.

Da direita colonizadora à extrema direita tecnológica vemos grandes avanços no método de dominação, originado na manutenção da inércia das mentes quanto às questões políticas da sociedade, desemboca na tentativa máxima de utilização das ideias pré-programadas que facilitam o subjugo. Da parte da resistência construtiva da cidadania, apenas reações e reações pouco elaboradas. Nitidamente não há uma plano de produção de consciência crítica que permita a libertação real dos indivíduos e a construção de identidades coletivas.

Entre a direita e a esquerda, está claro o amadorismo e a ingenuidade da esquerda, que mesmo quando se aproxima do poder não elabora projetos de longo prazo e não estimula a consciência política das pessoas que vivenciam os benefícios de suas políticas. Assim como, a esquerda não acompanhou os avanços tecnológicos a seu favor, duvidou do potencial das redes na produção de leituras da realidade. 

Aguardamos o momento em que a esquerda amadureça e também se sirva da gama de ferramentas disponíveis para alavancar um projeto de justiça e igualdade social, estimulando nos indivíduos a autonomia do pensamento e a consciência crítica. 

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