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Enio Verri

Deputado federal pelo PT-PR

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Ocupar espaços de decisão política

O momento, agora, como bloco que pode decidir uma eleição para presidente da Câmara, é construir um acordo no qual se consiga evitar que o governo produza mais estragos do que ele é capaz. A esquerda deve evitar o debate do falso dilema criado pela imprensa, da diferença entre os candidatos e a especulação de apoio ao referido campo político de Bolsonaro

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Dos 513 deputados federais, 132 são de esquerda. Portanto, há 381 deles que são eminentemente liberais, quando não ultraliberais. Dessa forma, a expressão Centrão é um eufemismo para definir a direita, que também é elástica e vai até à ultradireita. A diferença entre os grupos que compõem esse majoritário espectro político está na gradação do conservadorismo de cada um em relação às pautas de costumes e dos direitos humanos. Para alguns, em pleno século 21, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres são questionáveis e determinadas condutas são passíveis de penalização legal. Assim também tratam a condição sexual das pessoas, determinando o que é, ou não, válido como norma de conduta moral. A descriminalização das drogas e o uso medicinal é rechaçado pela maior parte da direita. Já a rejeição à carteira de trabalho para empregadas domésticas une toda ela.

É preciso esclarecer, não sem muita indignação, que a democracia é, também, um valor discutível de uma ponta a outra da direita, inclusive no dito Centrão, com raríssimas exceções. O golpe teve a participação de parlamentares que, até um ou dois dias antes do carnavalesco e vexatório 17 de abril, de 2016, eram ministros de Dilma Rousseff e, portanto, da base do governo. No plano econômico, a grande maioria da direita é ultraliberal. É aquela que brada em defesa do livre mercado, da liberdade econômica, mas vota a favor de retirar dinheiro do Fundeb para dar a empresas privadas. Nesse sentido, sem medo de errar, há parlamentares da direita mais alinhados ao ministro da economia, Paulo Guedes e ao seu receituário financeiro sem pé nem cabeça de desmantelamento do Estado, que o próprio Bolsonaro. Toda a direita votou a favor da EC 95, que impede o Estado de investir no seu desenvolvimento, por 20 anos. Assim como se uniu para isentar petroleiras estrangeiras, em R$ 1 bilhão; na reforma da Previdência e em todas as reformas trabalhistas nas que foram suprimidos centenas de direitos conquistados pela classe trabalhadora, ao longo de séculos de muita luta.

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Os grupos dos deputados Rodrigo Maia e Arthur Lira são a favor do Estado Mínimo e, portanto, privatistas que se unem para vender as empresas estratégicas e os recursos energéticos. Portanto, não há como dizer que esse ou aquele é ou não é candidato do Bolsonaro. Os dois grupos, apesar de o presidente ser instável, imoral e temerário, seguem a sua linha política econômica ultraliberal e quase não há diferença entre eles. O Lira é apoiado pelo governo, assim como poderia ter sido qualquer outro. Se Bolsonaro ainda estivesse no PSL, provavelmente o seu candidato seria o deputado Luciano Bivar, que também é candidato à Presidência da Câmara. A esquerda, unida, tem condições de influir na eleição. Porém, além de ser minoria, mas devido ao seu ideal de Estado ampliado, caso ela apresente uma candidatura em condições de ser eleita, a direita se unirá para impedir a sua ascensão ao comando de um dos poderes da República cujo presidente é o terceiro na linha sucessória da Presidência da República. Ainda mais quando há, parados na Presidência do Legislativo, cerca de 60 pedidos de impeachment contra o presidente da República.

O que está em jogo, portanto, é a ocupação de espaços de decisão política, que são as secretarias da Casa. Foi por esse motivo que a esquerda decidiu, nesta Legislatura, optar por não laçar candidato. Estrategicamente, ainda mais levando-se em conta o acelerado processo de retrocessos políticos, econômicos, culturais, sociais impostos pelo desgoverno Bolsonaro, é de suma importância ocupar espaços em que se possa intervir na forma, no conteúdo e no trâmite dos processos legislativos, em relação aos projetos no Congresso Nacional. A esquerda deverá apoiar aquele candidato com quem ela conseguir estabelecer o melhor acordo sobre pautas que lhes são caras. No campo cultural, por exemplo, reconhecer que há um secular e não resolvido racismo e uma não menos antiga tradição de tratar as mulheres com extrema violência e que isso tem de ser combatido pela Casa do Povo.

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No campo político, a agenda é o Estado Ampliado, que permitiu a 40 milhões de brasileiros fazerem pelo menos três refeições por dia, que tirou o Brasil do Mapa da Fome e o fez a sexta economia mundial. Na pauta dos costumes, ela defende uma sociedade com mentes e corpos livres, na qual a condição sexual, social ou dérmica não seja parâmetro qualificativo de alguém. A imprensa prestaria um excelente serviço ao público se tratasse a questão como ela é e não como se fosse o candidato do Bolsonaro contra um candidato diferente do dele, como se eles não se conhecessem e não pudesse ser qualquer outro do partido no qual o presidente passou quase 30 anos, no baixo clero. A guerra de narrativas serve apenas aos lados que disputam. É fundamental ter claro que qualquer um dos lados é oposição ao ideário político da esquerda e que não faz muita diferença entre um e outro. O momento, agora, como bloco que pode decidir uma eleição para presidente da Câmara, é construir um acordo no qual se consiga evitar que o governo produza mais estragos do que ele é capaz. A esquerda deve evitar o debate do falso dilema criado pela imprensa, da diferença entre os candidatos e a especulação de apoio ao referido campo político de Bolsonaro.

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