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Sergio Storch

Engenheiro, fundador da rede Judeus Brasileiros Progressistas (Juprog)

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Ombro a ombro com os indígenas do litoral, na Satyagraha de Gandhi

Quem traz a memória das vítimas do Holocausto tem este compromisso com toda a humanidade. Se seguimos a essência do que recebemos, as lições bíblicas de amar ao próximo como a ti mesmo, pimenta nos olhos do outro não é refresco. O genocídio indígena nas Américas é o mais trágico de todos eles

Indígenas (Foto: Thiago Gomes / Fotos Públicas)
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Calma. Não espere que a ficha caia. Não cai. As fichas descem, aos pouquinhos. As mentalidades têm o apego às crenças, clichês, diz-que-diz-que, mitos, globonews e jovempan. A conversão é lenta. Mas o emburrecimento coletivo nunca é definitivo.

Uma ondinha de mal estar começou a circular há 10 dias, com a fala do cidadão que deixou entrever com nitidez a ameaça do nazismo. A sem-cerimônia em parafrasear Goebbels, o ícone da manipulação de massas nazista, provocou até o embaixador que há um ano saltitava na sua festa celebrando a amizade pragmática de Bolsonaro e Netanyahu, parceiros do fascismo internacional de Steve Bannon.

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Caídas como raio em céu azul, as palavras começaram a abrir os olhos de pessoas ainda entorpecidas com a ilusão do primeiro ano, de que alusões a “fuzilar a petralhada” podem não ter nada a ver conosco, naquela estreiteza de “pimenta nos olhos do outro é refresco”. 

O Goebbels nas entrelinhas fez começar a sair da amnésia, e lembrar que o nazismo foi um processo. Todos lembram as palavras do pastor Niemoller: “Primeiro levaram os comunistas, mas não falei, por não ser comunista. Depois, perseguiram os judeus. Nada disse então, por não ser judeu. Em seguida, castigaram os sindicalistas. Decidi não falar, porque não sou sindicalista. Mais tarde, foi a vez dos católicos. Também me calei, por ser protestante. Então, um dia, vieram buscar-me. Não havia mais quem pudesse falar.” 

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Lá demorou, após a ascensão do cara, em 1933, com a condescendência de britânicos e franceses, pois o cara seria útil para combater o comunismo. As Leis de Nuremberg, só em 1935. A Noite dos Cristais  (os cacos dos vidros das sinagogas e das lojas de judeus), só em 1938. O extermínio em massa só começaria após a preparação da “arquitetura da destruição” para o lançamento da “solução final para a questão judaica”, na Conferência de Wansee (1942). 

Após os sete anos em que era ainda possível fazer de conta, em apenas dois anos foi a hecatombe, desde Wansee até a libertação do campo de Auschwitz pelo Exército Soviético, na data que celebramos hoje, o Dia Mundial de Memória das Vítimas do Holocausto. 

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Com a eficiência da C&T alemãs, apoiadas pela Ford, IBM, Thyssen, IG Farben (avó da BASF e Bayer, não esqueçamos…), e com a força social da milícia - SS - formada por jovens da elite do país que tinha tido Bach e Goethe, foi cometido o crime que as palavras desse sincero membro do desgoverno não podem deixar de lembrar: ⅔ dos judeus europeus, ¼ dos ciganos, e mais comunistas, social-democratas, liberais, maçons, católicos, homossexuais e, nos campos de batalha e cidades bombardeadas, o sacrifício do número estratosférico de 50 milhões de seres humanos, inclusive milhões do próprio povo que se havia deixado entregar à lavagem cerebral a partir de clichês simplórios e simplistas. 

Quem não sabe fique sabendo - memória e verdade - que a lavagem cerebral foi também da classe média educada nas melhores universidades, cujos professores assinaram a expulsão de colegas judeus: e médicos convertidos em monstros das SS, e advogados, engenheiros, professores. Mengele não foi exceção. Sim, quem diria que seria possível essa produção de monstros em escala tão vasta? Olhem o que está acontecendo em Altamira, Dourados, Brasília (lembram dos filhos da classe média alta de Brasília, que incendiaram em 1997 o índio pataxó Galdino? sim, acontece hoje com a Polícia do Dória).

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No Brasil, mal começamos o “sabe-se como começa, mas não como termina”. Haverá solavancos, expurgos, rupturas, substituições, mas sabe-se lá quantos são os ovos da serpente, o quanto as pulsões de morte já estão arraigadas nas visões das forças que constituem esse regime, com esse indivíduo ou sem ele, que tem acima de tudo a determinação de esmagar os direitos sociais que “não cabem no orçamento”, e de fazer do país uma nova colônia abastecedora de bens primários para aumentar a taxa de lucro do capital rentista.

Os clichês que trazem a Goebbels um alento orgulhoso no inferno: “petralhas”, “e a Venezuela?”, “deixa o cara governar”, “Foro de São Paulo”... A novilíngua: “GLO”, “excludente de ilicitude”, “marxismo cultural”. 

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Bem, falemos de genocídios. Dos atuais. Que a memória nos ensine a evitar. Haverá quem diga: “não, não há nada comparável com aquilo, não usem esta palavra”. São monopolistas do sofrimento humano.

Celebramos hoje um passo concreto do grito dado há exatamente um ano, puxado por judeus e judias, com cem assinaturas, em que fomos acompanhados por católicos, ateus, evangélicos, budistas, povo de santo, kardecistas, mórmons, Baha´i: “Genocídios Nunca Mais!”.
O passo dado é com os ensinamentos do “Constructive Program”, eixo fundamental da Satyagraha de Mahatma Gandhi, para irmos além da queixa e da denúncia, abrindo caminho para a construção do novo. Não há tempo a perder, não há o que esperar, não há que alimentar ilusões. Lideranças de 12  religiões, católicos, evangélicos, judeus, muçulmanos, budistas, candomblé, umbanda, mórmons, kardecistas, Baha´i, indígenas, Seicho-no-iê), com indígenas de sete aldeias, desde Peruíbe até São Vicente, e setores-chave da sociedade civil da Baixada Santista reagimos e convocamos, no Dia Nacional da Consciência Indígena, como Davi a Golias, ao desmonte da FUNAI por este desgoverno.

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Lançamos, com vozes indígenas, na Concha Acústica da praia do José Menino, em Santos, o manifesto de criação do Observatório de Apoio, Defesa e Valorização dos Indígenas da Baixada Santista, Vale do Ribeira e Litoral Norte. É possível deter a barbárie das sentenças de juízes que favorecem a especulaçao imobiliária, a grilagem, a humilhação e o desrespeito à humanidade dos povos indígenas. No litoral de São Paulo, na Mata Atlântica, nas florestas que queremos em pé, com o povo que melhor sabe guardá-la. Para termos água, para termos ar, para sobrevivermos. Eles é nós. 

Quem traz a memória das vítimas do Holocausto tem este compromisso com toda a humanidade. Se seguimos a essência do que recebemos, as lições bíblicas de amar ao próximo como a ti mesmo, pimenta nos olhos do outro não é refresco. O genocídio indígena nas Américas é o mais trágico de todos eles. Militares brasileiros, pensando serem patriotas, mataram na ditadura 8.000 indígenas, conforme a Comissão Nacional da Verdade. Desta vez, podem ser alertados para se tornarem patriotas de verdade.

A dignidade humana exige a todos que não sejam cúmplices com o seu silêncio.

Que a memória se converta em inteligência coletiva para deter a barbárie. Que o crime cesse. Que a civilização possa dar um salto quântico, o de exercer o controle jurídico antes da consumação do crime, como é o sinal dado na ação movida junto ao Tribunal Penal Internacional de Haia, criado à semelhança do Tribunal de Nuremberg que puniu nazistas.

A partir de hoje, Dia de Memória das Vítimas do Holocausto, você pode falar conosco: Genocídios Nunca Mais, e estar ombro a ombro nas campanhas em todas as praias do litoral de São Paulo, conversando como ensinou Gandhi, nos guardassóis em feriadões e nas férias de julho, para construirmos com os nossos corações e mentes, o Observatório Indígena. Fale com suas amigas e seus amigos. Na paz.

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