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    Aquiles Lins

    Aquiles Lins é colunista do Brasil 247, comentarista da TV 247 e diretor de projetos especiais do grupo.

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    Omissão de Campos Neto com dólar aumentou inflação e preparou terreno para subir os juros

    Dólar alto sob atuação inerte de Campos Neto impulsionou inflação da indústria e encareceu alimentos em 2024, prejudicando a população, diz Aquiles Lins

    Roberto Campos Neto (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

    A inflação da indústria brasileira encerrou 2024 com um avanço de 9,42%, segundo o IBGE, registrando o quarto maior índice anual desde o início da série histórica do Índice de Preços ao Produtor (IPP), em 2014. Esse aumento expressivo não é um fenômeno isolado, mas sim reflexo de um cenário de forte pressão cambial, impulsionado pela valorização do dólar frente ao real, um fator que poderia ter sido mitigado pelo Banco Central sob a gestão de Roberto Campos Neto.

    A alta do dólar, que acumulou uma impressionante valorização de 27,34% ao longo de 2024, impactou diretamente os preços dos insumos industriais, em especial no setor de alimentos, que liderou as influências no IPP com um aumento de 14,08%. Carnes, café, óleo de soja e suco de laranja tiveram elevação significativa, repassando os custos ao consumidor final. Esse efeito se traduziu no encarecimento da cesta básica, penalizando ainda mais as famílias brasileiras, especialmente as de menor renda.

    O comportamento do Banco Central frente ao dólar deu uma pirueta entre os governos de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Entre 2019 e 2022, o BC realizou 113 intervenções no mercado à vista para conter o câmbio. Em 2024, a autoridade monetária atuou apenas uma vez. Campos Neto deixou o real se desvalorizar e não fez nada para impedir. O resultado foi um dólar cotado a R$ 6,18 ao final do ano, encarecendo produtos importados e combustíveis, corroendo o poder de compra dos brasileiros e pressionando a inflação. 

    A omissão do BC não apenas fomentou o cenário inflacionário como criou as condições para os sucessivos aumentos na taxa básica de juros. Atualmente em 13,25%, a Selic segue em um patamar que encarece o crédito, desestimula investimentos produtivos e compromete a recuperação econômica. A justificativa da autoridade monetária para manter essa política contracionista é o combate à inflação, mas a própria ausência de atuação no câmbio contribuiu para o aumento dos preços.

    O ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, já expôs a arapuca deixada por Campos Neto para desgastar o governo Lula. "Foi uma armação que Campos Neto conduziu ao longo do ano. Ele criou um ambiente de terrorismo econômico, deixando claro para os investidores que o governo não estava cumprindo metas fiscais, gerando incerteza no mercado", analisou Mantega, em entrevista à TV 247.

    A recente mudança no comando do Banco Central já dá sinais de uma nova postura. Desde que Gabriel Galípolo assumiu a presidência, o real passou a se valorizar, refletindo uma gestão mais ativa no mercado cambial. O dólar acumula a maior sequência de quedas diárias em 20 anos, chegando a R$ 5,81 no início de fevereiro. Esse movimento evidencia que a desvalorização do real observada ao longo de 2024 não era inevitável, mas sim consequência da escolha deliberada de Campos Neto em não atuar.

    O episódio revela a importância de uma política monetária comprometida com a estabilidade econômica e com o desenvolvimento do país. Ao negligenciar o impacto do câmbio sobre os preços, o Banco Central contribuiu para a deterioração do poder de compra da população e para o agravamento das condições macroeconômicas. Contribuiu também para desgastar o governo do presidente Lula. Se tivesse atuado para conter o dólar, o BC de Campos Neto teria reduzido o impacto do câmbio na inflação e não haveria necessidade de subir Selic. 

    A retomada de uma postura mais ativa pode não apenas conter a inflação, mas também reduzir a necessidade de juros elevados, criando um ambiente mais favorável ao crescimento sustentável. Esta é a expectativa do setor produtivo do país sobre a era Galípolo. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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