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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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"Onde foi parar o dinheiro?": Tacla Duran denuncia omissão da Lava Jato no caso do "banco da propina"

Sócio do Meinl Bank Antígua foi poupado por Moro e procuradores. Ele não foi preso nem usou tornozeleira, e ainda podia viajar para o exterior

Tacla Duran (Foto: Reprodução)
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Em entrevista à TV 247, nesta segunda-feira, Rodrigo Tacla Duran disse que a Lava Jato deixou de investigar para onde foi o dinheiro do Meinl Bank Antigua, que os procuradores chegaram a classificar de "banco da propina" da Odebrecht.

Um dos donos do banco, Vinicius Veiga Borin, teve tratamento VIP na jurisdição de Sergio Moro, se comparado a outros alvos da Lava Jato. Em seu acordo de delação premiada, ele entregou 1 milhão de reais, uma fração do dinheiro que admitiu ter movimentado no banco: 2,6 bilhões.

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Borin não usou tornozeleira eletrônica e foi autorizado por Sergio Moro a viajar para o exterior sete vezes por ano. Uma das atividades que realizou enquanto ficava em casa foi degustar vinho e postar sua avaliação.

"Existe também o sistema do Meinel Bank que também foi forjado. E é outro sistema. É outra coisa. Os extratos que foram juntados nos autos não era o Drousys (sistema da Odebrecht) que colocava ali. Era do banco. Olhava ali e colocava, trocavam informações supostamente. E aí esses extratos saem do sistema do banco, que também foi fraudado. E a realidade: ele foi fraudado por quê? Para esconder o desvio de centenas de milhões. Onde está o dinheiro que estava no banco? Onde foi parar o dinheiro que estava no Meinl Bank? O banco fechou. Cadê o dinheiro?", indagou Tacla Duran.

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O ex-prestador de serviços da Odebrecht  diz que os extratos do Meinl Bank foram forjados para atender ao Ministério Público Federal em Curitiba. "Mas também foi forjado para desviar o dinheiro que estava na conta. Porque foi feita uma fraude para não identificar para onde o dinheiro foi. Porque, se você é correntista do banco, o banco está sendo investigado. De repente, aparece um acionista lá do banco fazendo uma delação premiada, você tinha o dinheiro lá, digamos, você vai ligar para o banco e reclamar seu dinheiro? Você não vai reclamar. O dinheiro ficou lá. O dinheiro foi para onde?"

Você está dizendo que o banco roubou o dinheiro? Ficou com o dinheiro da Odebrecht, por exemplo?, perguntei.

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"Isso era um banco de laptop. Não é um banco. É um banco de notebook. Onde foi parar o dinheiro?", respondeu.

Tacla Duran lembra que Vinícius Borin pagou uma multa relativamente baixa e teve outros benefícios, como o não-uso de tornozeleira e a autorização para viajar para o exterior. "Montou os extratos, acusou um monte de gente, forjou o sistema e fugiu com o dinheiro", afirmou.

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"Você está falando do Vinicius Borin, certo?"

"Ele e mais dois sócios", afirmou. 

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Para Tacla Duran, Borin ficou com o dinheiro da Odebrecht "e de várias pessoas". Borin não foi preso. "Ele podia viajar para o exterior. O que ele foi fazer no exterior? Ele podia viajar sete vezes no ano. Pagou 1 milhão de reais de multa. E confessou que lavou 1 bi", comentou.

Tacla Duran insistiu na pergunta: "Onde foi parar o dinheiro do banco? Isso não foi explicado".

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Na entrevista, Tacla Duran parecia medir as palavras, com ressalva, dada no início, de que pretende entregar provas "no foro adequado". Ele iria depor novamente para o juiz Eduardo Appio, mas este foi afastado depois que começou a verificar na Vara o destino de mais de R$ 3 bilhões arrecadados em acordos de delação e leniência, bem como quando passou a receber informações das defesas do empresário Tony Garcia, Alberto Youssef e do próprio Tacla Duran.

É compreensível a cautela de quem vive no exílio desde 2016 e foi ameaçado no sistema de justiça e fora dela. Em mensagem de 2016, encontrada na Operação Spoofing nos arquivos acessados por Walter Delgatti, o procurador da república Orlando Martello recomenda aos colegas que querem "ferrar Tacla Duran" que leiam determinado depoimento.

Sergio Moro, mesmo sem julgar Tacla Duran, o chamou de bandido num programa de televisão e defendeu incondicionalmente seu compadre Carlos Zucolotto Júnior, quando este foi acusado de extorsão. 

Mais recentemente, o Tribunal Regional Federal da 4a. Região noticiou que o desembargador Marcelo Malucelli, pai do sócio de Moro, havia revalidado mandado de prisão contra Tacla Duran.

Fora do sistema de justiça, também houve ameaça. Em 2016, conforme mensagens encontradas na Operação Spoofing, um procurador do Departamento de Justiça dos EUA identificado como David avisa ao procurador da república Júlio Noronha, da Lava Jato, que Vinícius Borin constrangia Tacla Duran.

Diz a mensagem: 

"O advogado de Tacla também informou sobre algumas mensagens sobre Wickr que foram enviadas para outro de seus clientes ("El Chino") de alguém que ele acredita ser Vinicius Borin, sugerindo que "El Chino" e Tacla deixem os EUA e nunca mais voltem para o Brasil. Gostaria de discutir isso com você também. Por favor, deixe-nos saber se você tem tempo para uma chamada hoje ou outro dia desta semana."

El Chino é Wu-Yu Sheng, que foi morar nos Estados Unidos depois que a Lava Jato teve início. Wu-Yu Sheng já faleceu, mas antes disso ele teria prestado depoimento como testemunha protegida no Departamento de Justiça dos EUA e contado que pagou 500 mil dólares a advogados de Curitiba para não ser denunciado na Lava Jato.

E ele foi denunciado em Curitiba. Mas acabou denunciado pelo MInistério Público do Rio de Janeiro, no caso de Sergio Cabral. Foi essa a razão que o teria levado a contar, nos EUA, que tinha pago por proteção na jurisdição de Sergio Moro.

Borin, que teria ameaçado Wu-Yu Sheng, tentou se habilitar no processo que Tacla Duran respondia na 13a. Vara. Tacla Duran o denunciou pela prática de coação no curso do processo.

Zucolotto também queria acompanhar o depoimento de Tacla Duran. Mas eles não terão mais chance. O ministro Dias Toffoli, do  Supremo Tribunal Federal, anulou todas as provas contra Tacla Duran, por considerá-las "imprestáveis".

Tacla Duran iria depor na Câmara dos Deputados nesta segunda-feira, por requerimento do deputado Rogério Correia aprovado na Comissão de Administração e Serviço Público. Mas o depoimento foi adiado porque o Judiciário espanhol ainda não recebeu a comunicação do Ministério da Justiça brasileiro de que as provas contra Tacla Duran foram anuladas.

"Não pude hoje comparecer à Câmara dos Deputados porque, mais uma vez, o Sergio Moro consegue se beneficiar das suas parciais e viciadas decisões que ele tomou nos meus casos enquanto ele era juiz. Ele fez com que eu fosse processado pelos mesmos fatos mais de uma vez, buscando que eu fosse condenado, no Brasil e na Espanha, pelos mesmos fatos. E por conta dessa manobra, para me perseguir, ainda faltam tramitar algumas questões burocráticas relativas às cooperações internacionais na Espanha, entre estas (questões burocráticas) a autorização para emissão de passaporte. Na realidade, essas medidas estavam um pouco adiantadas e foram atrasadas por conta de quando a doutora Gabriela Hardt assumiu a Vara ela mandou que suspendesse essas cooperações, e isso acabou inviabilizando", afirmou.

"Espero que, em breve, eu possa emitir o passaporte e, enfim, comparecer".

Tacla Duran diz que pode provar todas as suas acusações. Em 2018, ele convenceu a Interpol da parcialidade de Moro e, com isso, teve o alerta vermelho cancelado. Ou seja, a Interpol considerou o mandado de prisão de Moro inválido.

 

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