ONU 80: Um Chamado à Unidade contra o Unilateralismo
"Ações unilaterais há muito tempo atrapalham a cooperação global e impedem a solução de problemas internacionais críticos", escreve Zhang He
Há oitenta anos, após as devastadoras guerras mundiais, as nações se uniram para criar as Nações Unidas, abrindo um novo capítulo na governança global. Desde então, a ONU alcançou marcos importantes na promoção da cooperação internacional e na resposta a desafios globais. Contudo, hoje enfrenta dificuldades crescentes, à medida que potências priorizam ações unilaterais em detrimento da tomada de decisões coletivas. Essa guinada em direção ao unilateralismo corrói o sistema de governança global que antes se baseava na cooperação.
China e Estados Unidos são as duas maiores economias do mundo, respondendo por mais de 40% do PIB global. As diferenças em suas filosofias de governança têm impacto significativo sobre o rumo e as práticas da governança internacional.
Os Estados Unidos enfatizam uma “ordem internacional baseada em regras” que, na prática, serve principalmente aos seus próprios interesses. A política de “America First” prioriza objetivos nacionais nas relações internacionais, buscando garantir a dominância absoluta do país no sistema global por meio de ações unilaterais e medidas protecionistas. As guerras comerciais promovidas pelos EUA, ao impor tarifas e barreiras, prejudicaram a cooperação econômica mundial e dificultaram a construção de respostas coordenadas a desafios como a mudança climática e a inovação tecnológica.
A China, em contraste, defende uma ordem internacional mais equilibrada e cooperativa, fundamentada nos princípios de igualdade soberana e multilateralismo. Na Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) em Tianjin, o presidente Xi Jinping apresentou a Iniciativa de Governança Global, propondo uma estrutura mais justa e equitativa e avançando a visão de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade. A China também reafirmou seu compromisso em salvaguardar o sistema internacional centrado na ONU e em defender uma ordem baseada no direito internacional.
A demanda por reforma da governança global cresce, especialmente por parte do Brasil e de outros países em desenvolvimento, que buscam ampliar a voz do Sul Global em instituições internacionais-chave como a ONU. Para eles, a atual estrutura, dominada em grande medida por nações ocidentais desenvolvidas, carrega regras injustas. Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil colocou esse tema como prioridade e, à frente da presidência do BRICS em 2025, pressiona por mudanças. Durante a cúpula do grupo no Rio de Janeiro, Lula destacou que o BRICS possui a “legitimidade necessária para liderar a reforma do sistema multilateral”.
Os mecanismos atuais de governança global precisam de reformas urgentes. Embora leve tempo para que a ONU e outras instituições internacionais respondam de maneira eficaz a esses desafios, a prioridade imediata é clara: unir-se contra o unilateralismo.
Ações unilaterais há muito tempo atrapalham a cooperação global e impedem a solução de problemas internacionais críticos. Apenas por meio da unidade a comunidade internacional poderá avançar rumo a uma ordem mais justa e equitativa, em que todas as nações, independentemente de seu tamanho ou força, tenham papel significativo na construção de soluções para desafios comuns.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

