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John Kennedy Ferreira

Paulista e corinthiano. Professor de Sociologia da UFMA, Coordenador do Grupo de Estudos em Pesquisas em Ontologia do Pensamento Social (GEPOPS) professor da UFMA

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Ordem em marcha

Se não houver o mínimo de entrosamento entre as forças de esquerda e progressistas, as chances de a pauta neoliberal ser coroada de êxito é real e trágica

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A pesquisa Datafolha (13/agosto de 2020) traz um sério alerta a todos os setores da sociedade que enfrentam o governo proto-fascista de Bolsonaro.  O governo conseguiu uma melhoria de desempenho e sua aprovação saltou de 32% de aprovação para 37% . “O presidente continua com taxa de reprovação mais alta entre as mulheres (39%) do que entre os homens (29%), na parcela dos jovens de 16 a 24 anos (41%), entre os brasileiros com grau de escolaridade superior (47%) e nas faixas de renda mais altas (40% na faixa de 5 a 10 salários, e 47% entre os que têm renda acima de 10 salários)” (Datafolha p.2). Bolsonaro enfrenta rejeição nos setores remediados das classes trabalhadoras e das camadas médias, mas mesmo nestes setores houve  recuo. 

Os dados mostram que nas regiões também aconteceram expressivo recuo, especialmente no Nordeste (considerada até então reduto do petismo e das oposições às esquerdas): “Essa queda na avaliação negativa ocorreu com mais intensidade na região Nordeste, onde o índice de ruim ou péssimo caiu 17 pontos (de 52% para 35%).” (Idem p.2)

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O mesmo acontecendo com a população mais vulnerável onde “Também houve queda acentuada, de 13 pontos, entre os mais pobres (de 44% para 31%), na parcela menos escolarizada (de 40% para 27%) e entre os mais jovens (de 54% para 41%), embora esse último continue sendo o grupo etário que mais rejeita a gestão do atual presidente” (idem p2).

Três fatores podem explicar essa melhoria de desempenho de Bolsonaro:

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  1. O auxílio emergencial de R$ 600,00 que atualmente alcança cerca de 65.3 milhões de brasileiros e pode chegar a 75 milhões (Agência Brasil/ OESP 15/04/2020), é um dos fatores fundamentais para explicar a mudança substancial no comportamento dos setores mais pobres.  Este benefício, proposto inicialmente pelas oposições, é superior a renda da metade dos brasileiros, cerca de 104 milhões de pessoas que vivem com uma renda per capita de R$ 413,00(PNAD, 2019), igualmente o crescimento do desemprego que já alcança no aberto 13.7%, sendo que o número de pessoas desocupadas está na casa de 47,7 milhões no levantamento da última semana de Julho do PNAD/2020, o que totalizam cerca de 76 milhões de pessoas sem emprego no Brasil (contando com o desalento (IBGE/SEADE agosto 2020). Isso foi decorrência do número de paralisação ou falências entre as pequenas e microempresas. Essas respondem por mais de 70% das contratações (formal e informal). Segundo dados da Pesquisa Pulso Empresa/IBGE1,3 milhão estavam com atividades suspensas no primeiro semestre e 713 mil estavam fechadas definitivamente (IBGE). O aporte financeiro não chegou à maioria das empresas, somente 12,7% conseguiram crédito junto ao governo federal e 13% conseguiram auxílio para reduzir os salários e ter outra parte pagas pelo governo (IBGE)   o que representou um crescimento de 71,3% de falências e 123,4% recuperações judiciais (Boa Vista SCPC). Na análise da Boa Vista, as micros e pequenas empresas são as mais afetadas. O capital circulatório respondeu 40,5% das falências no setor de serviços e 29,8% do comércio; e o setor  industrial com 29,6%. Pelos resultados da pesquisa Pulso Empresa fica claro a tendência política expressa pelo presidente da Caixa Econômica Federal na famosa reunião ministerial de 22 de Abril, onde explicava que não daria dinheiro a quem estivesse com dificuldades estruturais. Nenhuma empresa de grande porte teve falência. Esta quebradeira, geral, levou também a  queda do número de trabalhadores na  informalidade (sem direitos trabalhistas/sociais ); segundo os dados aferidos 68% dos demitidos durante a pandemia correspondem a trabalhadores informais, que hoje representam mais de 60% da classes trabalhadoras (PNAD/19).  Uma conseqüência séria a ser pensada é que apesar de termos tido nos meses de abril e maio um aumento da fome denunciado por várias agências e uma queda na produção de riqueza, e um recuo no PIB de quase 10%  a chegada do auxílio emergencial promoveu um recuo significativo na linha da pobreza extrema que em 2019 alcançava 52,1 milhões de brasileiros (IBGE).  André Singer em seu conhecido trabalho sobre as bases do lulismo (Sentidos do Lulismo, 2009), aponta que a base do presidente Lula estava centrada no subproletariado, com atendimento de famílias vulneráveis através de vários projetos de renda compensatórias, especialmente o Bolsa Família que alcançou cerca de 13,8 milhões de pessoas. Este setor social, historicamente passivo, sempre foi base de apoio de setores conservadores por meio de relações subalternas de lealdade. Segundo Singer, a partir dos governos petistas estes migraram à esquerda, por esses benefícios; Singer, atualiza sua discussão encarando  os abalos na base lulista em  artigos publicados nos jornais OESP e O Globo. Singer, não é o único a apontar esse fenômeno, que ganhou repercussão nacional e estrangeira ao mostrar que as bases de sustentação do lulismo podem estar sofrendo migração para o bolsonarismo.  Por outro lado, as elaborações de Victor Nuno Leal (Coronelismo, Enxada e Voto),  nos leva a pensar que talvez  não  seja a cisão das bases do lulismo, ou seu deslocamento, mas que talvez as coisas estejam voltando a serem como sempre foram.
  2. O Segundo fator importante, foi a aliança de Bolsonaro com o Centrão, durante 1 ano e meio o governo Bolsonaro viveu às turras com o Congresso e teve muitas de suas pautas negadas ou fatiadas; apontou como  saída o confronto e a possibilidade de um auto golpe. Seu desgaste político ficou mais evidente no mês de abril e maio com a saída do Ministro da Justiça Sérgio Moro, com as evidências sobre o esquema de “rachadinhas” sobre o  Senador Flávio Bolsonaro e a primeira dama, Michele Bolsonaro; a investigação sobre FakeNews que alcançaram vários aliados e também o  vereador Carlos Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro. Somou-se a isso a mudança de dois ministros da saúde em menos de 1 mês e as evidências de crime de improbidade administrativa do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, além da interferência na polícia federal e a fuga do ex-ministro da educação Abraham Weintraub, acobertado pelo Planalto. O isolamento político foi contemplado com as primeiras manifestações populares feitas por antifascistas e depois pelos trabalhadores dos setores de aplicativos.  Os pedidos de impeachment já tinha passado de duas dezenas. Tudo isso levou a que Bolsonaro procurasse o ex-deputado (cassado por corrupção) Roberto Jefferson (PTB) e firmasse um acordo com o Centrão.  O Centrão, sabidamente, é composto pelo baixo clero da câmara — de onde saiu o atual presidente—,conhecido por sua prática fisiológica e conservadora. Desde então, a relação com as instituições da República passaram para outro nível, o fato em si, é que constatou-se uma mudança no comportamento no clã bolsonaro: houve uma recondução da conduta presidencial e de seus filhos,  que abandonaram  os  arroubos diários e passaram a ter uma postura mais discreta e solene. Credita-se essa mudança de postura ao Almirante Flávio Rocha, também a Roberto Jefferson e Onyx Lorenzetti. O fato é que  o governo ganhou outros ares e outro comportamento abrindo mais o diálogo com a oposição  liberal do Congresso, que declinou de vez de qualquer tentativa de afastamento  e ajudou a empurrar a oposição de esquerda para as cordas. Com isso deixou as mãos livres para a ação de Paulo Guedes que já fala em privatizar tudo em 60 dias. Essa mudança de comportamento pode se manter desde que não haja nenhum novo embaraço escandaloso, caso o contrário o recuo pode se traduzir, na metáfora pensada por Mauro Iasi(Café Bolchevique/TV BoiTempo), a serpente só recua para dar o bote.
  3. O terceiro fator foi o próprio movimento da pandemia de Coronavírus, enquanto esteve entre as classes altas e médias houve um verdadeiro clamor social pelo isolamento social e opositor a Bolsonaro. O  auge desse processo aconteceu nos meses de Abril e Maio, quando os dois ex ministros da saúde, saíram denunciando a ausência de política do planalto e a posição anti-científica. Houve na época, um posicionamento opositor de quase todos os governadores e do congresso. Bolsonaro foi obrigado a apresentar diversos recuos. Porém, conforme a doença foi saltando para os bairros mais pobres, os números de vítimas aumentaram e a verdadeira desigualdade social brasileira veio à tona, o posicionamento das camadas sociais privilegiadas  e de seus representantes políticos passaram a mudar. Quando chegou às periferias  deixou de ser preocupação central dos prefeitos e governadores, e  é esse o exato momento em que começa as carreatas impulsionadas por bolsonaristas exigindo a abertura do comércio e da economia, aos poucos, um a um os prefeitos e governadores foram cedendo à pressão das classes abastadas e pouco se preocupando com a situação das camadas pobres da sociedade que foram abandonadas a sua sorte.  Esse comportamento foi praticamente o mesmo entre governadores e políticos liberais e de esquerda, mantiveram o discurso crítico, mas na prática tem comportamento político, parecidos. O mesmo pode ser observados em todos os partidos políticos, a distinção machadiana entre o Brasil oficial e o real veio a tona com a pandemia, são raras as pessoas públicas que mantém a indignação frente à desigualdade na vida e na  morte que cerca os brasileiros . O mesmo pode ser notado nas Centrais e movimentos sindicais, as manifestações antipandemia nas favelas e comunidades pobres foram e são feitas pelos próprios pares, através de funks, sambas, roda de conscientização, através de algumas pastorais e de uma minoria de pastores evangélicos e de religiosos afro-brasileiros.  Todo  esse descaso com a vida é expressado num momento que o Brasil alcança cerca de 10 mil mortos por semana. Não sendo a toa que a mesma pesquisa Datafolha mostra no seu segundo relatório de 14 de Agosto, que apenas 47% acreditam que o governo Bolsonaro tem responsabilidade no número de mortos.

Isto posto, compreendemos que um novo cenário está aberto: o da estabilização do governo Bolsonaro e da extrema direita. A oposição liberal mesmo não gostando do capitão, compreende sua importância em realizar a pauta liberal e apoiará de maneira discreta as ações do governo, separando os elogios à Guedes. Tentarão  conter os arroubos de poder de Bolsonaro que pode inebriar se com a possibilidade de conquista de um segundo mandato. O Capital Financeiro, através do próprio Paulo Guedes, foi claro ao indicar que não é aceitável a extrapolarão do teto de gastos (PEC 95/16), que é estratégico  para reorganização do Estado brasileiro a serviço da financeirização e do agronegócio, o próprio Bolsonaro já indicou que não fará isso, pois sabe se fizer, cai! 

Nesse novo desenrolar quais os caminhos possíveis as oposições de esquerda

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1) compreender que a esquerda nesse processo eleitoral já sofreu três grandes derrotas a primeira foi a desistência da candidatura do Deputado Federal Marcelo Freixo (PSOL)  a prefeitura do Rio de Janeiro, sua proposta era uma frente ampla que somasse todos os que fossem oposição ao governo Jair Bolsonaro e a seu aliado carioca, Marcelo Crivella (Republicanos). Sua candidatura era uma verdadeira possibilidade de vitória sobre a direita e extrema direita, sua desistência se deu pelo sectarismo interno de sua legenda e a dificuldades de diálogo com outros setores de esquerda, é bem possível que as esquerdas estarão   fora da disputa no 2 turno no Rio de Janeiro. A segunda grande derrota foi o lançamento de quatro candidaturas de esquerda e centro-esquerda em São Paulo, onde destaco que as candidaturas do PSOL a prefeitura e vice, Guilherme Boulos e Luiza Erundina, já nasceu fechada com candidato a prefeito e a vice, impossibilitando qualquer diálogo com as candidaturas do PT, PCdoB e do PSB, as chances de derrotar a direita na principal metrópole brasileira e latino americana são bem pequenas e por fim, a decisão nacional do PT de possibilitar alianças com setores vinculados a extrema direita como está ocorrendo em Belford Roxo no Estado do Rio de Janeiro, mostra os embaraços e as dificuldades que as esquerdas têm de apresentar um programa que se contraponha a hegemonia neoliberal, a direita e extrema direita.   O ideal seria unir-se em frente, inclusive buscando aliança  com setores liberais,  para disputar as capitais e as 200 maiores cidades do país.

2) Há ainda a chance  de apresentar uma pauta sincronizada desenvolvimentista e industrializante a ser realizada a partir da propaganda  nas Capitais (e nos estados onde são governo) denunciando  o desemprego em massa, aumento possível da violência, marginalização etc. Pautando a questão sanitária e o SUS e a questão do meio ambiente e reforçando a necessária e urgente questão da reforma agrária e reorganização socioeconômica brasileira .

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Por fim, se não houver o mínimo de entrosamento entre as forças de esquerda e progressistas, as chances de a pauta neoliberal  (privatizações e redução de direitos) ser coroada de êxito com a reeleição de Bolsonaro e com a construção de uma base de ultra direita orgânica em vários municípios é  real e trágica.

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