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Marco Mondaini

Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordena e apresenta o programa Trilhas da Democracia, exibido aos domingos na TV 247.

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Orgulho e vergonha de ser Flamengo

Sinto mal-estar por ter visto, no dia do segundo turno das eleições, o presidente de um time erguendo uma taça junto ao presidente da república em exercício

Gabigol (Foto: Marcelo Cortes / Flamengo)
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[A inspiração para escrever a “crônica” abaixo surgiu após a entrevista feita, no Trilhas da Democracia do dia 20 de novembro, com o sociólogo e professor da UERJ, Ronaldo Helal – especialista nas coisas do futebol e flamenguista como eu] 

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Desde que meus pais faleceram em 2019, num intervalo de menos de três meses, o Rio de Janeiro deixou de ser uma referência para mim. Enquanto eles estavam vivos, morando no apartamento conjugado da Copacabana em que nasci e me criei, a esquina de República do Peru com Avenida Copacabana era uma espécie de porto seguro, ainda que cada vez mais situado numa espécie de passado idealizado.

Então, já se haviam passado quinze anos da minha vinda ao Recife, que, com o nascimento do meu filho em 2016, se tornou o meu local de afeto, para além de exercício acadêmico-profissional. A perdurar, dentro de mim, como vínculo de identidade com a cidade que muitos chamam de maravilhosa, restou apenas o sentimento quase visceral de torcer pelo Clube de Regatas do Flamengo.

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Aprendi a ser Flamengo vendo jogarem no Maracanã Zico, Júnior, Leandro, Adílio, Andrade, Nunes – entre tantos outros jogadores dessa geração brilhante dos anos 1980. Mas, acima de tudo, tornei-me Flamengo por causa do “Galinho de Quintino”, o “Camisa 10 da Gávea”, que, por nunca ter visto Pelé e Garrincha jogarem, foi e continua sendo para mim o maior craque da história do futebol brasileiro.

Por mais que o time formado em 2019, com Gabigol, Arrascaeta, Evérton Ribeiro, Bruno Henrique, Felipe Luís e Rodrigo Caio, tenha voltado a trazer muitas alegrias à maior torcida do país, o time liderado por Zico nunca deixará de ser o maior e o melhor nas memórias desse torcedor que, na falta de dinheiro para ir ao Maraca de arquibancada, encarava mesmo a geral, ainda que tendo que ficar na ponta dos pés para poder ver a bola rolar no gramado.

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Hoje, do meu canto no Recife, as saudades do Rio são as saudades do Flamengo jogar no Maracanã. Lá, ainda que desfigurado pela sua transformação em arena, é que eu ainda me sinto carioca, depois de um mergulho nas águas do Leme. Hoje, no Pina, que é o “Leme de Boa Viagem”, sinto orgulho de poder ter acompanhado de perto a “geração do Zico” e de acompanhar atualmente à distância a “geração do Gabigol”.

Porém, hoje, também sinto um grande mal-estar por ter visto, no dia do segundo turno das eleições presidenciais, o presidente de um time que havia acabado de conquistar o tricampeonato da Libertadores da América (rodeado por seu técnico e um grupo de jogadores) erguendo a taça conquistada junto ao pestilento presidente da república em exercício e candidato à reeleição. Naquele instante, senti vergonha de ser Flamengo.

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