Os 12 petistas que erraram
A decisão de 20% da bancada significou não apenas um retrocesso na imagem pública do partido, mas também um enfraquecimento da autoridade de Lula
Na última terça feira (16/09/25), a Câmara dos Deputados aprovou com 543 votos uma Emenda à Constituição Federal criando um novo rito para processar parlamentares (Deputados e Senadores) e, esdruxulamente, Presidentes de Partidos com representação no Congresso Nacional. Esse novo rito exige aprovação da maioria absoluta do Congresso, por voto secreto, para abertura de qualquer processo contra Deputados, Senadores e Presidentes de Partidos Político. Denominou-se publicamente de PEC da impunidade.
Dos votos a favor da matéria 12 vieram da bancada do Partido dos Trabalhadores. Por obvio, não vai aqui nenhuma desconfiança dos nossos parlamentares. Entretanto, trata-se de um erro político grosseiro e quase irresponsável que expõe o Presidente Lula, seu governo e o PT de forma grave.
Primeiro que esses votos contrariam diretamente não apenas a posição do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, que na própria terça feira (16/9), após almoçar com o Presidente da Câmara, deixou claro à imprensa sua oposição à proposta e como era a orientação do PT – Partido dos Trabalhadores.
Ao votarem a matéria os 12 Deputados (as) não apresentaram concordância com o mérito. Menos mal. Disseram tratar-se de tática parlamentar para aprovar as propostas populares do governo Lula. Ou seja: votaram com a direita para aprovar uma pauta de esquerda. Mas e os outros 51 parlamentares que votaram NÃO? E os 12 votos fizeram alguma diferença no total?
Evidente que o grupo dos doze equivocaram-se, para não dizer outra coisa. É obvio que a ação no parlamento exige avaliação sinérgica do comportamento, das votações da bancada e suas consequências. E é exatamente aí que reside o erro!
O Presidente Lula, ciente das dificuldades da relação com o Congresso, estabeleceu há alguns meses uma diferenciação de seu governo em relação a esse Congresso. Tornou-se claro que sua gestão se pauta por um sentimento e por ações de caráter popular, democrático e de esquerda, enquanto o Congresso Nacional é conservador, de direita e intimamente ligado aos interesses das elites brasileiras e americanas.
Dessa avaliação propagou-se pelas redes sociais, com apoio dos petistas, uma campanha que carimbava o Congresso Nacional como “Congresso inimigo do povo”. Essa narrativa ganhou força especialmente após a derrota da proposta que previa maior taxação sobre os mais ricos, ocasião em que o PT lançou a campanha BBB (Bancos, Big Techs e Bets), o que lhe trouxe ganhos expressivos de engajamento e popularidade nas redes sociais. Ou seja, o partido vinha consolidando uma estratégia política de oposição ao conservadorismo do Congresso.
Nesse sentido, ao votarem com a direita e os setores mais conservadores, os 12 deputados do PT fragilizaram a coerência desse discurso. A decisão de 20% da bancada significou não apenas um retrocesso na imagem pública do partido, mas também um enfraquecimento da autoridade de Lula. Afinal, como o presidente poderá cobrar fidelidade dos partidos aliados se o próprio PT dá sinais de descompasso interno?
Além disso, a votação expôs o partido a uma contradição desnecessária. Entre 63 deputados da bancada, 51 votaram contra a proposta, se abstiveram ou se ausentaram. É legítimo perguntar: estariam todos eles errados e apenas os 12 teriam razão em se alinhar à direita? A resposta parece evidente.
Portanto, a escolha desses parlamentares não apenas representou um erro político, mas também comprometeu a estratégia de diferenciação construída pelo PT e pelo presidente. Ao agirem dessa forma, colocaram em xeque a unidade partidária, desgastaram a imagem do governo e deram munição à oposição. Foi, sem dúvida, uma exposição desnecessária e prejudicial para o partido e para o próprio Presidente da República.
A leitura mais consistente é a de que houve um erro político desses parlamentares, cuja escolha acabou servindo à narrativa adversária e enfraquecendo a coerência estratégica do partido.
E esses 12 parlamentares do PT estavam tão errados que seus argumentos de que teriam condicionado seus votos em troca do Presidente da Câmara segurar a anistia não durou um dia: ontem a Câmara dos Deputados votou a urgência para o projeto de anistia para os golpistas.
Tá difícil!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

