Os arquitetos da (in) segurança
Não nos equivoquemos. A ideologia populista de direita pagará um preço pela própria inabilidade
De repente, no meio de vitórias sucessivas do governo, algo surgiu para desestabilizar a confiança nas propostas em curso. E não partiu de um cérebro privilegiado, posicionado para criar armadilhas e tirar proveito delas. Emanou, ao contrário, de um governador medíocre, desgastado junto à população e ameaçado de naufragar nas próximas eleições. Sem aviso prévio, afrontando a Lei (uma vez que o país não admite a pena de morte), promoveu um massacre de vastas proporções numa favela do Rio de Janeiro e tirou fotografias sorridentes, logo depois, para manifestar que se orgulhava de suas ações. Na confusão que contaminou a imprensa e a opinião geral com relação a uma política de segurança, imaginou que se sairia bem na situação e navegaria nas águas tranquilas de uma disputa ao Senado.
Para fortalecê-lo, cabe reconhecer que atravessamos um momento em que as incertezas dominam as mentes e estimulam estratégias da extrema direita, ainda meio perdida com a retirada de cena do Bolsonaro. Como se os unisse uma bandeira comum, Tarcísio, Zema e Caiado se puseram em campo. Ergueram suas vozes para se somar à bancarrota administrativa de Castro em suas elaborações persecutórias, agora travestidas (um espanto!) de mestre do combate ao crime organizado. Tudo no meio de um filme de terror repleto de cadáveres em praça pública. É preciso estar perto da demência para conceber algo de tamanha monstruosidade. Ela se vale, com efeito, de hábitos de violência acumulados por décadas de estabanados sistemas de segurança, ao lado da complacência de sucessivas gestões do Estado.
Para culminar, vem-se a saber que Hugo Motta, “o que não se importa”, nomeou como relator de um projeto do governo o tal Derrite, egresso de São Paulo a mando do Palácio dos Bandeirantes. Conhecido como matador, não dava a impressão de pessoa qualificada para apaziguar e encontrar caminhos que desobstruam o cenário do desconforto do banditismo. Numa penada, logo de cara, removeu a Polícia Federal das investigações. Com a medida, eliminava igualmente uma instituição prestigiada e competente com inteligência e técnicas apuradas para neutralizar os infratores. O escândalo que daí adveio determinou recuos imediatos, junto com reações de indignação e revolta da parte das pessoas de bem. Uma raposa tomando conta do galinheiro não recomenda, sem dúvida, a qualidade do projeto. Era natural que o clamor da população desprotegida gerasse aproveitadores para torpedear o Governo Central com vistas aos pleitos de 2026. Isso não justifica que a irresponsabilidade tome conta das medidas policiais, a ponto de fazer tremer os alicerces da sensatez.
Não nos equivoquemos. A ideologia populista de direita pagará um preço pela própria inabilidade. O povo não é bobo. Rapidamente, descobrirá onde se encontram os seus verdadeiros defensores. Matança indiscriminada que pune culpados e inocentes, na mesma vala, com um rastro de famílias enlutadas, não pode proporcionar bons frutos. São poeira nos olhos da nação.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

