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José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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Os atuais conflitos geopolíticos refletem o surgimento do mundo multipolar

Os acontecimentos dos últimos anos, especialmente 2022, são marcos históricos na emergência do mundo multipolar

Manifestação anti-imperialista no Afeganistão (Foto: Reuters)
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José Reinaldo Carvalho, 247 - Durante esta semana, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, declarou que a operação militar especial russa na Ucrânia marca o fim do mundo multipolar e que a “multipolaridade virou realidade”. Enfático, afirmou que “os polos do mundo estão sendo claramente definidos e a Rússia está contribuindo para o surgimento do mundo multipolar". Foi uma contundente resposta a todos os que negam a existência do fenômeno, como também um rechaço à acusação dos Estados Unidos e seus parceiros da Otan de que seu país está à frente de uma guerra de agressão e erodindo a atual “ordem” internacional.

O pressuposto para o desenvolvimento de uma ação política eficaz é a correta análise de conjuntura. Ter bem clara a cabeça, ordenar a mente, sempre aberta e atenta à evolução dos acontecimentos, é o comportamento recomendável às forças que atuam em favor de um mundo pacífico, constituído por países soberanos e cooperativos, nunca submissos às potências imperialistas. Ater-se a decisões burocráticas, mormente quando adotadas sem analisar os fenômenos a partir de todos os ângulos e sem tomar em consideração diferentes pontos de vista, pode levar os responsáveis por tais decisões a equívocos, no mínimo agir de modo ineficaz. Observando certas abordagens atuais sobre os conflitos internacionais em curso, penso que há manifestações confusas, o que pode estar relacionado com linhas políticas mal construídas.  

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A época da hegemonia do imperialismo estadunidense tem sido marcada por ações intervencionistas, golpes, guerras de agressão, sanções, bloqueios, instrumentalização dos organismos multilaterais, chantagem comercial e diplomática. Uma época, portanto, de conflitos, insegurança e ameaças constantes à paz mundial. Nenhuma força política, muito menos qualquer indivíduo, tem o poder de prever o desenvolvimento futuro dos acontecimentos. Sem cair nesse tipo de idealismo, as forças políticas vinculadas à paz e ao progresso social, à libertação nacional e à emancipação social têm o dever precípuo de examinar judiciosamente as tendências em curso para buscar as posições mais favoráveis à acumulação de forças em benefício dos interesses dos povos. 

Parece-me que nos últimos anos, especialmente em 2022, são marcos históricos na emergência do mundo multipolar. Especialmente a reunião entre o presidente chinês Xi Jinping e o presidente russo Vladimir Putin no dia 4 de fevereiro deste ano, assinalou uma virada no sistema internacional. Os dois líderes decidiram desempenhar - e anunciar ao mundo - um papel conjunto para exercer uma influência positiva no desenvolvimento da situação internacional, quando são agudos os conflitos geopolíticos, acirradas as rivalidades entre as grandes potências e agravadas as ameaças à segurança global. 

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Como grandes potências, China e Rússia se sentem responsáveis ​​por manter a paz mundial. Ambos os países promovem a multipolaridade e dão enfáticas demonstrações de oposição à hegemonia unipolar, à militarização do mundo por meio da Otan e da tentativa de criar novos blocos agressivos, como QUAD e AUKUS. 

O mundo enfrenta sérios desafios e problemas de segurança. Armas estratégicas como mísseis antibalísticos (ABM) e artefatos nucleares de alcance intermediário (INF) estão aumentando os perigos de conflito nuclear. A proclamada política de contenção da China e da Rússia pelos EUA acrescenta elementos de instabilidade. É natural que China e Rússia, mesmo que não proclamem a formação de uma aliança contra um terceiro país ou qualquer bloco, sintam-se impelidas a trabalhar de modo convergente para conjurar os perigos de guerra e abrir caminho à criação de novo ambiente internacional baseado no multilateralismo e em regras justas que não possam ser erodidas por ações unilaterais do imperialismo estadunidense. 

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"Hoje, o mundo está passando por mudanças importantes, e a humanidade está entrando em uma nova era de rápido desenvolvimento e profunda transformação. Vê o desenvolvimento de processos e fenômenos como multipolaridade, globalização econômica, advento da sociedade da informação, diversidade cultural, transformação da arquitetura de governança global e ordem mundial; há crescente inter-relação e interdependência entre os Estados; surgiu uma tendência à redistribuição do poder no mundo; e a comunidade internacional mostra uma demanda crescente por lideranças visando um desenvolvimento pacífico e gradual... Alguns atores que representam a minoria na escala internacional continuam a defender abordagens unilaterais para abordar questões internacionais e recorrer à força; interferem nos assuntos internos de outros Estados, infringindo seus direitos e interesses legítimos, e incitam contradições, diferenças e confrontos, dificultando o desenvolvimento e o progresso da humanidade, contra a oposição da comunidade internacional". (Declaração conjunta de Xi Jinping e Vladimir Putin, 4 de fevereiro de 2022).

Na Conferência de Moscou sobre Segurança Internacional, realizada na terça-feira (16), Vladimir Putin enfatizou as mudanças pelas quais o mundo está atravessando, destacadamente a emergência da multipolaridade: “A situação no mundo está mudando dinamicamente, os contornos de um mundo multipolar estão se formando, cada vez mais países e povos estão escolhendo o caminho do desenvolvimento livre e soberano com base em sua própria identidade, tradições e valores”. 

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O presidente russo criticou severamente as elites dos países imperialistas por se oporem aos processos objetivos, provocar o caos, inflamar conflitos e implantar a chamada política de contenção de países que elegeram como inimigos, a fim de impedir o percurso de qualquer caminho alternativo e soberano de desenvolvimento.  

Putin menciona explicitamente os Estados Unidos e qualifica os países que seguem a superpotência  de vassalos. E protesta veementemente contra as ações que os EUA e esses países perpetram: interferência grosseira nos assuntos internos de países soberanos; provocações;  golpes e guerras civis. Tais países "tentam obrigar Estados independentes a obedecer à sua vontade, a viver segundo as normas que lhes são alheias, a partir de ameaças, chantagem e pressão". 

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Faz parte do surgimento do mundo multipolar o protesto que se espraia entre povos e países que defendem sua autodeterminação contra tais tentativas de impor domínio imperial, incluindo, para além dos instrumentos políticos e malversação do direito internacional, políticas neocolonialistas nas relações econômicas regidas pelo neoliberalismo e o neocolonialismo. 

A compreensão desses fenômenos é indispensável para enfrentar esses mecanismos de dominação, rechaçar as ameaças militares, conjurar os perigos à segurança e defender a paz, o que só será possível debilitando o imperialismo, opondo-se à sua hegemonia e soerguendo instituições que garantam o estabelecimento de um sistema multipolar. 

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O Brasil foi uma força de destaque na construção do mundo multipolar, durante o anterior ciclo progressista dos governos Lula e Dilma. Sua atuação na Celac, no Brics, a ação diplomática voltada para o reforço dos laços com os países em desenvolvimento da Ásia, África e Oriente Médio, a defesa da paz nos fóruns multilaterais, a bandeira do multilateralismo como um dos princípios fundamentais de sua política externa permanecem como referências importantes, agora que o país pode voltar a fazer parte do concerto internacional a partir de posições simultaneamente soberanas e cooperativas, caso as forças progressistas lideradas por Lula regressem ao governo nacional. 

A manutenção de posições soberanas no plano externo, combinada com visões progressistas na economia, na promoção da justiça social, na construção do Estado nacional democrático e popular, com o protagonismo das forças progressistas e de esquerda, são pressupostos importantes para enfrentar os desafios internacionais. 

Quando falamos de mundo multipolar, não acalentamos a ilusão de que a solução dos conflitos e a paz serão dádivas ou resultado de submissão nacional. Ao contrário, serão conquistas da luta anti-imperialista. 

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