Os bons garotos do funk
A onda de simpatia que cercava Claudinho e Buchecha deve se estender para “Nosso Sonho”, filme que joga o jogo de um cinema popular com dignidade e competência

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O filão das cinebiografias brasileiras com ambições de sucesso popular se avoluma com Mussum – O Filmis, vencedor do Festival de Gramado, Angela (sobre Angela Diniz) e Nosso Sonho, que chega agora aos cinemas. A história da dupla Claudinho & Buchecha, soberana no funk melody entre 1996 e 2002, já havia sido contada na série televisiva Por Toda a Minha Vida, com foco mais centrado em Claudinho, que morreu precocemente num acidente de carro em 2002.
O filme de Eduardo Albergaria se debruça sobre a amizade e a carreira de Cláudio e Claucirlei desde a infância em São Gonçalo. Três movimentos direcionam a narrativa. Um deles é a diferença de personalidades entre o proativo e esfuziante Claudinho, e o inseguro e vulnerável Buchecha. Outro é a destinação inevitável para a carreira artística, telegrafada na frase “Quem tem talento não tem patrão”, dita por dois diferentes personagens ao se dirigirem a Buchecha. Por fim, resta o fatalismo trágico anunciado desde a primeira cena e em outros momentos quanto à morte de Claudinho. O roteiro teve participação do saudoso Maurício Lissovsky, intelectual envolvido com a dramaturgia sobre a cultura popular urbana.
Albergaria faz uma estreia segura no longa-metragem, obtendo um rendimento excepcional com o elenco e manejando com perícia os ingredientes mais típicos do gênero que os estadunidenses chamam de “from rags to riches”. Do começo pobre até o sucesso e os sinais de riqueza, os personagens mudam de vida sem perder a ternura. A cena do atropelamento de um cachorro na estrada serve para sublinhar o jeito amoroso dos “faixas”, bons garotos que não bebem e nem se envolvem com drogas nem com o crime. Sua música é “só love”.Nosso Sonho não deixa de furar o cartão dos clichês sobre jovens artistas em ascensão e as repercussões disso sobre suas famílias. A difícil relação de Buchecha com o pai encrenqueiro provê os aspectos dramáticos em contraponto à trajetória de êxitos crescentes da dupla. Também ficam claras as pretensões mais corriqueiras da galera funkeira ao ganhar notoriedade. Claudinho comemora o alcance do “nosso sonho” justamente quando se senta ao volante do seu segundo carro. Não faltam as mensagens explícitas sobre segunda chance, a força do perdão e o poder da amizade.
A produção da Urca Filmes é eficaz em fazer as apresentações da dupla parecerem maiores do que os recursos permitiam e musicalmente empolgantes. O ambiente do funk de São Gonçalo é reproduzido de maneira sugestiva, e os atores Lucas Penteado (Claudinho) e Juan Paiva (Buchecha) parecem as melhores escolhas possíveis para os papéis.
A onda de simpatia que cercava os dois artistas deve certamente se estender para esse filme que aceita jogar o jogo de um cinema popular com dignidade e competência.
O trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=03b2WGh0G6U
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