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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Os BRICS, o fenômeno mais importante do século XXI

Os Brics vieram para ficar e protagonizar a oposição à declinante força imperial norte-americana. Será o protagonista da nova bipolarização mundial

Os BRICS, o fenômeno mais importante do século XXI (Foto: Xinhua/Xie Huanchi)

O acontecimento político mais importante de todo o novo século foi o surgimento e a consolidação dos Brics.

Com o fim da União Soviética e o chamado campo socialista, os Estados Unidos apareciam como a única potência global no mundo. Mas a expectativa norte-americana de que se reproduziria o período de grande parte do século XIX, com apenas uma grande potência mundial, durou pouco.

A aliança entre a Rússia, a China, o Brasil, a África do Sul e a Índia — pelas iniciais dos nomes dos países - gerou o Brics, como principal força do Sul global. Retorna assim um mundo bipolar, como havia ocorrido ao longo de toda a chamada Guerra Fria.

O Brics tem características diferentes. Em primeiro lugar, porque reúne, pela primeira vez, o poder militar da Rússia com o poder econômico da China. Foi possível ver, pela primeira vez, as tropas da China desfilando na Praça Vermelha.

Em segundo, porque reúne esse eixo com a América Latina, através da presença do Brasil e de outras potências emergentes — como a África do Sul e a Índia. E, mais recentemente, incorporando outros países, entre eles, vários países petroleiros do mundo árabe, como a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos e o Irã. Cuba também aderiu aos Brics.

Os Brics criaram o Novo Banco de Desenvolvimento — com sede em Xangai, presidido por Dilma Rousseff — e o Acordo de Reserva Contingente dos Brics. O Banco apoia projetos por meio de empréstimos e outras formas de apoio.

Entre 2003 e 2007, o crescimento dos países dos Brics representou 65% da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em 2010, o PIB somado dos 5 países dos Brics chegou a 18%. Pela paridade do poder de compra, chega a 25%. Em 2013, o PIB dos Brics já superava o dos Estados Unidos ou da União Europeia. Em 2017, seu PIB correspondia a 50% do crescimento econômico mundial. Com a entrada dos novos países, os Brics passaram a corresponder a 27% da economia mundial e a 43% da população do mundo.

Esse é o panorama político mundial na primeira metade do século XXI. Com a tendência ao enfraquecimento da hegemonia norte-americana — assim como de seus aliados estratégicos, a Europa e o Japão —, ao lado do fortalecimento e ampliação dos Brics.

Um elo frágil dos Brics são os retrocessos na América Latina, justamente o continente em que os governos antineoliberais haviam predominado nas duas primeiras décadas do século. Hoje, essa corrente pode contar com o Brasil e o México, que, mesmo sendo os países mais importantes do continente, se encontram isolados diante dos governos de direita e de extrema-direita.

É certo que as eleições no Equador preveem o favoritismo da candidata de Rafael Correa, mas não é seguro que o governo direitista atual aceite essa vitória. O Uruguai elegeu um presidente alinhado com o Brasil, mas a Argentina terá pelo menos mais três anos da pior presidência que o país já teve.

Mas, de toda maneira, os Brics vieram para ficar e protagonizar a oposição à declinante força imperial norte-americana. Será o protagonista da nova bipolarização mundial.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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