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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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Os coaches e os idiotas

"O louvor à ignorância ganha corpo e não é de hoje"

Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YT)

Pablo Marçal não tem conteúdo nem para ser  coach evangélico, muito menos prefeito de São Paulo. Palestrantes motivacionais, atuantes em carne e osso ou na internet, reproduzem-se como praga, aproveitando-se do vazio intelectual que parece predominar. Marçal candidato resulta disso e, no contexto coaching, é um dos piores, tanto pelo que diz quanto pelos esqueletos em seu armário.

O movimento da extrema-direita global para emparedar pensadores legítimos já conseguiu importantes vitórias mundo afora, e teve em Olavo de Carvalho seu mais estridente porta-voz. O filósofo Luiz Felipe Pondé, um acadêmico, esmera-se em esculachar a academia por considerá-la palco exclusivo a esquerdistas. Claro que o pensamento considerado “de esquerda” predomina nas universidades, mas por que não predominaria, já que o próprio livre-pensar foi historicamente combatido pela direita? Sim, Stalin e Fidel nunca permitiram pensamento divergente algum, e eram de esquerda - bingo! Daí a necessidade de se ressaltar o quão próximos situam-se os extremos que escapam à régua democrática. 

O louvor à ignorância ganha corpo e não é de hoje. Valorizar a falta de conhecimento virou moda sob o falso argumento de que pensar não enche barriga. Um bolsonarista, olavista, marçalista ou coisa que o valha acha que andar com arma na cinta e mandar o filho criança trabalhar em vez de ir para a escola são virtudes. A virtude maior, para essa gente, é a capacidade de enriquecer, comprar segurança (leia-se um revólver e uma casa num condomínio blindado) e dar uma banana para os fracassados.

O discurso desse povo, em síntese, é o da famigerada meritocracia, algo absoluta e gritantemente distante de qualquer senso de justiça social. E dá-lhe negacionismo. Os louva-coaches não hesitam em acreditar em qualquer bobagem dita numa palestra proferida por um espertalhão para um amontoado de incautos. Abestalhado, o louva-coaches é a presa ideal, pois desde sempre um consumidor de “conhecimento” por orelhadas, jamais um questionador, muito menos um leitor.

A orelhada é a atitude intelectual mais profunda do louva-coaches. Mente vazia, ele escuta a bobagem dita pelo coach, gosta porque lhe é compreensível e lhe parece aplicável na vida cotidiana. O discurso do coach, nada mais que um mentiroso, faz com que um portal de esperança surja diante dos seus olhos, fazendo-o sentir-se não como o idiota que é, mas como um futuro self-made man. A sagrada orelhada irá transformar a vida do idiota, que logo nem saberá mais a qual coach louvar. Ou em qual coach votar.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.