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Marcia Tiburi

Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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Os comedores de ouro: Reflexões pré-natalinas

"O universo gourmet na era do espetáculo, acrescenta a ostentação ao cardápio deixando evidente que vivemos uma luta de classes", diz

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O Natal está chegando e ninguém que tenha vergonha e senso de comunidade comerá sua ceia, caso tenha a chance de ter uma, sem vergonha e sem lembrar dos recentes comedores de ouro.

Em meio à Copa do Mundo ocorrida no Catar, a cena chocou muita gente. Um grupo de jogadores convidados por um ex-jogador chamado Ronaldo, alcunhado de “o fenômeno”, foram a um restaurante de carnes onde se serve um bife salpicado de ouro. Houve quem tenha interpretado a cena à luz do neoliberalismo dizendo que eles tinham o direito de comer o que podiam pagar, outros acharam que jogadores brasileiros comendo um bife pelo qual se paga milhares de reais enquanto o Brasil volta ao mapa da fome, era algo absolutamente indigesto.

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Ninguém se preocupou com a « politica sexual da carne », que não é um assunto menor, sobre o qual falarei em outro momento. Por enquanto, saibamos apenas que o show era também de horrores machistas e patriarcais. O frisson do futebol é parte essencial do culto patriarcal do macho.

A derrota combinou muito com a seleção atual e o capitalismo esportivo e recreativo como moral da história.

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De outro lado, a indústria cultural da alimentação tenta escamotear a desigualdade de classes inventando falsas democracias alimentares como o McDonalds (lixo consumível para todos), enquanto a resistência se faz vegana, vegetariana ou se volta à agricultura agroecológica.

Enquanto o capitalismo segue em seu exercício de dominação amparado pelo patriarcado monoteísta em sua pose de “dominação e devoração da carne” sobre os corpos e seus órgãos, sem jamais esquecer o estômago, o universo gourmet na era do espetáculo, acrescenta a ostentação ao cardápio deixando evidente que vivemos uma luta de classes, na qual os ricos estão em guerra contra os pobres que, perplexos e lançados no estupor diante de imagens humilhantes, seguem hipnotizados para o abatedouro.

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No espirito do Natal, gostaria de sugerir as seguintes imagens:

As ilustrações abaixo referem-se à auri sacra fames, a execrável fome de ouro de que falava Virgilio na Eneida e que Max Weber chamou de “pulsão pecuniária”.

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Na primeira imagem, Waman Poma de Ayala, cronista inca do século XVI, mostra um Inca perguntando a um espanhol: “Esse ouro, comes?” E o espanhol responde: “Sim, esse ouro comemos”. A filósofa boliviana Silvia Cusicanqui, atribui a derrota vivida por milhares de Incas a um exército de menos de 150 homens espanhóis a cavalo, ao estado de estupor no qual os indígenas foram deixados diante desses seres, os colonizadores, que não comiam alimentos humanos.

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A segunda se chama “CEOs ou Os comedores de Ouro I” e faz parte do que podemos chamar de « Surrealismo Capitalista ».

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 A terceira “Alegoria da América ou Os comedores de Ouro 2”, sendo, este último, uma releitura da obra Conquista da América, (em Nova Reperta, c. 1600, Gravura de Philips Galle, 27 x 20 cm, The Metropolitan Museum of Art). Ambas são obras da autora desse artigo que nos últimos anos acabou se tornando artista plástica.

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