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José Marcus de Castro Mattos

Poeta, psicanalista

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Os donos de Pondé

Concluamos: Pondé é um negro de alma branca e é esta alma branca que fez com que ele tenha recusado a abolição das algemas propiciada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e permanecido de costas curvadas no interior da Senzala

Imagem para artigo de José Marcus de Castro Mattos - Os donos de Pondé (Foto: José Marcus de Castro Mattos)

LUIZ FELIPE PONDÉ deveria ter saído para sempre da Senzala Brasileira, aquele lugar pacificado, adocicado, folclorizado, carnavalizado, edulcorado e em seguida servido na bandeja por 'Sir' Freyre aos ingleses, aos franceses, aos americanos...

Contudo, ao invés de fazê-lo Pondé trai abertamente sua etnia e a maioria de nosso povo, vindo a público como um negro de alma branca gozando de joelhos dobrados com os grilhões que os senhores da Casa-Grande mantém ao redor de seu pescoço, mãos e pernas.

Ora, durante treze anos o Partido dos Trabalhadores (PT) na Presidência da República ofereceu ao negro Pondé a possibilidade concreta de ele se livrar de vez da Senzala Brasileira, reescrevendo a história de sua etnia de maneira que a mesma readquirisse a dignidade humana, social e cultural que lhe fora furtada por quatro séculos de escravidão.

Entretanto, Pondé recusou a oferta esclarecida, democrática e cosmopolita que o Partido dos Trabalhadores (PT) lhe fez e insistiu em permanecer com suas correntes sob as botas dos senhores da Casa-Grande, testemunhando assim o quão indelével pode ser a marca da dominação e da subjugação ideológicas imprimida no corpo e no espírito de determinados indivíduos.

A prova mais recente desse gozo perverso de Pondé consistiu no artiguete intitulado 'O outono do PT', publicado no jornal Folha de São Paulo (FSP: 21 de Março de 2016).

Lá pelas tantas o rebaixado Pondé diz abruptamente:

– Temos que reconhecer: chegamos ao fim de uma era. O PT vive seu outono. Melhor voltar para o pátio da fábrica onde nasceu e de onde nunca deveria ter saído. (FSP. Edição Digital. 21/03/16.)

Pois bem, os leitores se lembram do 'Tonto', aquele personagem amigo do 'Zorro'?

Sempre que um branco sacava o pronome pessoal 'nós', imediatamente o 'Tonto' intervia e indagava:

– 'Nós', quem, cara-pálida?

Sob a pele vermelha de 'Tonto', perguntemos portanto para o negro de alma branca Pondé o seguinte:

– 'Nós temos que reconhecer...'. ALTO LÁ! 'NÓS', QUEM, CARA PÁLIDA?

Evidentemente o 'nós' excretado da boca de Pondé – e colocado sob suspeita pelo "Tonto' – nomeia os senhores da Casa-Grande, desvelando a tentativa farsesca e ideológica de um pseudo-intelectual feita com o intuito de universalizar interesses particulares, ocultando (obrigado, Marx!) tais interesses...

Assim, munidos da escuta atenta de 'Tonto', reescrevamos então o vaticínio de Pondé:

– Nós, os senhores da Casa-Grande, temos que reconhecer: chegamos ao fim de uma era. O PT vive seu outono. Melhor voltar para o pátio da fábrica onde nasceu e de onde nunca deveria ter saído.

Aí está a submissão perversa, abjeta e completa do negro de alma branca Pondé aos seus senhores/donos: ele reproduz o discurso da dominação de terceiros sobre sua etnia – por extensão, sobre a maioria do povo brasileiro (maioria negra: CENSO-IBGE/2015) – e calhordamente subscreve o veredito político (classista, excluidor, fascista e racista) das elites dominantes em nosso país, incidente de maneira brutal naqueles que elas tomam por 'ralé'.

De fato, tudo se passa como se Pondé estivesse diante do espelho, porém lendo sua imagem – inegavelmente a de um negro brasileiro – com o olhar que lhe fornece o texto dos senhores da Casa-Grande, alvejando-se...

('Alvejando-se', ou seja, tornando-se branco e atirando em si mesmo.)

Não por acaso Pondé é publicado pelo jornal Folha de São Paulo (FSP), mídia pertencente ao PIG (Partido da Imprensa Golpista) e que ocupa um dos vastos cômodos da Casa-Grande; como se sabe, os senhores da FSP colaboraram assiduamente com o Golpe de Estado de 1964 e recentemente conspiram a céu aberto para, através de outro Golpe de Estado (agora à maneira paraguaia), fazer com que o povo brasileiro volte para a Senzala 'de onde nunca deveria ter saído' (sic).

Concluamos: Pondé é um negro de alma branca e é esta alma branca que fez com que ele tenha recusado a abolição das algemas propiciada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e permanecido de costas curvadas no interior da Senzala.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.