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Sayid Marcos Tenório

Historiador e especialista em Relações Internacionais. É vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) e autor do livro 'Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência' (Anita Garibaldi/Ibraspal, 2019. 412 p)

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Os muçulmanos e a libertação da Palestina

"A mensagem do Islã carrega os valores da verdade, justiça, liberdade e dignidade, proíbe todas as formas de injustiça e por isso os palestinos são persistentes em alcançar o inalienável direito de retornar e de estabelecer o seu Estado independente"

Londres, Paris, Berlim e Madri têm protestos a favor dos palestinos
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Comumente vemos na mídia que a luta do povo palestino contra a ocupação sionistas, como insistem, é uma “guerra santa” de muçulmanos contra judeus pelo domínio da “terra prometida”, designada biblicamente ao “povo escolhido”. Esse é um dos mitos mais estimulados pelos sionistas, para maquiar e criar cortinas de fumaça sobre a verdadeira razão dos conflitos, que é a oposição dos palestinos ao projeto colonial sionista.

É importante que se diga que o Islã, além de ser a segunda religião com maior número de seguidores em todo o planeta, é um conjunto de normas e condutas de vida, que envolve o compromisso, o diálogo e o pensamento ideológico de lutar contra os tiranos e oportunistas que alcançam o poder e passam a oprimir os mais fracos. 

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Nesses casos, o Islã, e não poderia ser de outra maneira, aponta a alternativa de combate às injustiças e à corrupção, além da defesa dos fracos e oprimidos. A mensagem do Islã é pelo diálogo e pela prudência. Porém, quando os poderosos se recusam isso, os povos têm “diante de si o uso da defesa, ou seja, o uso das armas, a fim de combaterem as forças do mal, do crime e da perdição”, um preceito plenamente acolhido pelo Direito Internacional.

Esse posicionamento ideológico do Islã pela busca de justiça é exercido por meio do Jihad, uma palavra árabe equivocadamente associada a “guerra santa muçulmana”, “luta armada contra os inimigos do Islã” ou mesmo forma dos muçulmanos defenderem a Ummah (Nação formada por todos os muçulmanos do mundo) islâmica de todas as maneiras, incluindo a luta armada e a “guerra santa”.

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Jihad significa “esforço”, “empenho” ou “dedicação”, no sentido do enfrentamento dos desafios colocados diante de cada um de nós. De modo algum, jihad pode ser confundido com a ideia de “guerra santa”, na qual se busca a “conversão” ou a agressão aos que não pensam ou agem como os muçulmanos, mesmo porque a conversão ao Islã só é válida quando feita de maneira individual.

Esse esforço é parte do que se convencionou chamar de “islamismo” ou o Islã político. Segundo o mestre em análise estratégica e geopolítica, Mohammed Hadjab, numa publicação em rede social (@Mohadjab), o termo foi utilizado pela primeira vez nas prisões egípcias durante a presidência de Gamal Abdel Nasser para indicar os presos da Irmandade Muçulmana, que buscavam se diferenciar dos outros muçulmanos que não compartilhavam sua visão política e teológica.

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O uso do termo “islamismo” pode ensejar deturpações, como, por exemplo, quando é difundido pela mídia ocidental relacionando o Islã aos grupos fundamentalistas, como Al-Qaeda ou Daesh, também conhecido como Estado Islâmico, diferentemente do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) ou da Jihad Islâmica Palestina, dois partidos que lutam pela libertação da Palestina.

Segundo o professor de Estudos Islâmicos Contemporâneos na Universidade de Oxford, Tariq Ramadan, é importante a diferenciação entre as correntes islâmicas, “porque existem movimentos não violentos, reformistas e legalistas, e outros literalistas e dogmáticos e ainda outros violentos e extremistas: esta categorização é a condição básica de todas as análises científicas.”

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A mensagem do Islã carrega os valores da verdade, justiça, liberdade e dignidade, proíbe todas as formas de injustiça e incrimina opressores independentemente de religião, ração, gênero ou nacionalidade. O Islã é contra todas as formas de extremismo e intolerância religiosa, étnica ou sectária. É uma religião que incute em seus seguidores o valor de se levantar contra agressão e de apoiar os oprimidos; motiva-os generosamente a fazer sacrifícios em defesa de sua dignidade, sua terra, seu povo e seus lugares sagrados, sentido de lutas que se resumem na palavra jihad.

Os muçulmanos, palestinos ou não palestinos, rejeitam categoricamente o viés religioso ou sectário da luta contra a ocupação, condenam qualquer forma de perseguição a qualquer ser humano ou a negação dos seus direitos. O problema judaico, o antissemitismo e a perseguição de judeus são fenômenos fundamentalmente ligados à história europeia, não à história dos árabes e muçulmanos, onde quer que estejam. Há uma clara distinção entre o antissemitismo e as críticas legítimas às políticas degradantes e opressivas de Israel contra o povo palestino, que não é contra os judeus por quem eles são.

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As acusações de antissemitismo contra a resistência palestina e os movimentos de solidariedade, como o Boicote, Desenvolvimento e Sanções (BDS), são falsos argumentos utilizados pelos sionistas judeus e cristãos, muito convenientes e úteis, que os apologistas de Israel usam quando estão sem bons argumentos. Eles usam esse tipo de acusação para intimidar os críticos de Israel ou para esterilizar a discussão e desviar a atenção dos problemas reais. 

As novas gerações muçulmanas continuarão a dar sentido à dinâmica de resistência, ou seja, não sendo passivas, ou simplesmente parando de reclamar e se indignar, e buscando explorar novos caminhos de propor alternativas. Portanto, os muçulmanos na Palestina e em qualquer parte do mundo têm como seu Jihad o “restabelecimento da humanidade, o renascimento da construção social e o fortalecimento dos regimes de vida, partindo dos princípios da libertação do homem.” O que resta fazer diante do desejo avassalador de um povo que não quer nada mais do que o respeito aos seus legítimos direitos? Esse povo continuará lutando, inclusive pelas armas, em total concordância com o Direito Internacional, a Carta das Nações Unidas e as convenções internacionais.

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Para um povo que luta há tantos séculos contra ocupações, não importa quanto tempo a ocupação permaneça em sua terra. Apesar de todo o aparato militar e apoio estadunidense que os ocupantes possuem, eles serão derrotados porque os palestinos estão com a justiça. Os direitos à terra e ao retorno são inalienáveis, e os palestinos são persistentes em alcançar o inalienável direito de retornar e de estabelecer o seu Estado independente.

Sayid Marcos Tenório é historiador e especialista em Relações Internacionais. É vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) e autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal, 2019. 412 p). E-mail: sayid.tenorio@uol.com.br - Twitter: @HajjSayid

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