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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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Os repórteres “independentes” do Fantástico nesse domingo

Os “repórteres independentes” do Fantástico e a cobertura parcial da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro

Os repórteres “independentes” do Fantástico nesse domingo (Foto: Reprodução/TV Globo )

O programa de TV Fantástico mostrou neste domingo a reportagem “Megaoperação no Rio: imagens inéditas mostram criminosos fortemente armados, rendição de suspeitos e resgate de policiais feridos”. No texto, que podemos ver no G1 é informado, ou melhor, é dito:

“Repórteres cinematográficos independentes acompanharam a operação e registraram momentos de tensão e confrontos intensos entre policiais e criminosos. Drones da polícia mostram resgate tenso de delegado ferido... Juntos com esses agentes, estavam Marcello Dórea e Jadson Marques. Eles são repórteres cinematográficos independentes que se especializaram na cobertura de operações policiais no Rio de Janeiro”.

O melhor juízo que podemos fazer de toda reportagem sobre a matança de criminosos no Rio é a desconfiança. Foi o que me ocorreu ao ver as imagens e a narração, que faz sempre uma nova imagem, pelo que destaca e leva o público a ver o que não vê:

“Imagens exclusivas exibidas pelo Fantástico neste domingo (2) mostram criminosos fortemente armados aguardando a chegada da polícia no alto do morro durante a megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro na última semana”. O link aqui:

Megaoperação no Rio: imagens inéditas mostram criminosos fortemente armados, rendição de suspeitos e resgate de policiais feridos

Então, desconfiado, fui pesquisar sobre os repórteres independentes a serviço da polícia do Rio de Janeiro. Primeiro, Marcello Dórea. Em todos os links vistos, ele sempre está a documentar as vítimas do lado da polícia. Alguém poderia perguntar: existem ou não mortos e feridos do lado das forças da repressão? Ao que respondo, em primeiro lugar: se só se mostra um lado, não é possível o título de repórter independente. Seria algo como jornalista, em Gaza, autorizado por Netanyahu. Independente autorizado, percebem o paradoxo? Em segundo lugar: no caso da CAÇA aos criminosos, é impossível que não existam imagens de assassinatos frios contra bandidos e não-bandidos. Ah, mas se tais imagens fossem mostradas, o repórter perderia a sua independência.... Compreendemos!

No caso de Jadson Marques, repete-se a “imparcialidade” jornalística. Mas tudo dentro da sua especialidade. Na pesquisa, vemos o seu norte e bússola: “profissional que começou na atividade em 1999 como repórter fotográfico, mas depois migrou para o vídeo, passando a atuar como repórter cinematográfico, especializando-se na cobertura de ações policiais em todo o estado do Rio de Janeiro”. Muito bem, é justo e necessário esse caminho. Até mesmo para mais um Tropa de Elite. Mas por que o independente sempre registra imagens a favor da polícia? Hem, que pergunta, não é? Mais de um repórter sem um mínimo humanismo estranharia. “Ora, porque é do lado da polícia que está a lei. A polícia sempre está contra o mal”, alguns jornalistas continuariam. Então, vemos uma coisa mais bárbara. Mesmo nas notícias que falam de agressões da polícia contra a imprensa, como na reportagem “Cinegrafista morre após ser baleado durante operação do Bope no Rio de Janeiro”, a foto de Jadson é para outro momento ao lado do bem: “Traficantes foram presos durante ação da PM do Rio. Foto: JADSON MARQUES/AGÊNCIA ESTADO”

Cinegrafista morre após ser baleado durante operação do Bope no Rio de Janeiro

Percebem? A escolha da independência na mídia do bem, para o bem, a humanidade que se exploda, é para um lado só. O mais seguro, por fim, é desconfiar das imagens e de qualquer “independente” narrado para amenizar o massacre. Melhor, é preciso ver e pesquisar depois a verdade. Saudade dos grandes repórteres que documentaram os crimes do imperialismo no Vietnã.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.