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Kiko Celeguim

Deputado federal e presidente do PT-SP

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Os sinais de fumaça do governador Tarcísio

Desde que assumiu como governador, Tarcísio organiza as forças de segurança do Estado de maneira a colocar em risco as instituições democráticas

PM de São Paulo e Tarcísio de Freitas (Foto: Polícia Civil de SP/Twitter | ABR)

Diz a sabedoria popular que onde há fumaça, há fogo. Ainda no cargo de presidente, Jair Bolsonaro deu seguidas mostras de que preparava um golpe se as urnas não lhe dessem um segundo mandato em 2022. Na época, muitos minimizaram as declarações e ações de Bolsonaro, desacreditando que pudesse atentar contra o Estado Democrático de Direito.

Pois bem, hoje sabe-se que os sinais de fumaça vinham da fogueira golpista. Bolsonaro e ao menos 10 generais conspiraram para depor o presidente eleito, com planos de assassinato de Lula, e foram indiciados pela Polícia Federal.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, assim como a grande maioria da direita, silenciou com as primeiras notícias dos planos orquestrados para assassinar Lula, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Apenas dias depois, veio à público dizer que se tratava de “uma narrativa disseminada contra Bolsonaro que carece de provas”. Esse silêncio e a declaração subsequente são sinais de fumaça. E há muitos sinais de fumaça que precisamos enxergar para poder identificar e apagar o fogo.

Desde que assumiu como governador, Tarcísio organiza as forças de segurança do Estado de maneira a colocar em risco as instituições democráticas. A política de segurança de Tarcísio está assentada em torno da Polícia Militar, com esvaziamento da Polícia Civil, que é responsável por fazer investigações e desarticular, com ações de inteligência, esquemas e quadrilhas do crime organizado.

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo tem denunciado o problema, relatando haver déficit de 17 mil policiais civis. Tarcísio chegou, inclusive, a reclamar da demora no trabalho da Polícia Civil. Repete a fórmula de sucatear a instituição para depois justificar a redução de sua importância. O que Tarcísio quer é ampliar o poder da PM sobre as demais áreas da segurança, turbinando o aparato repressivo, em vez de investir na qualificação dos profissionais e melhoria da investigação.

Não à toa escolheu Guilherme Derrite para seu secretário. Um nome com histórico de acusações de abuso de poder e suspeitas de comandar um grupo de extermínio dentro da PM. A lógica, bem conhecida de Bolsonaro, não é de segurança pública, mas de milícia, que se coloca à margem das instituições e do Estado Democrático. Acima do Estado, portanto, alheio aos interesses da sociedade.

O resultado é catastrófico: as forças de segurança de São Paulo se voltaram contra a população. Desde que Tarcísio assumiu, a letalidade policial disparou. Em 2023, foram 25,95% mais mortes provocadas por PMs em serviço em relação a 2022; no primeiro trimestre de 2024, esse número saltou 86%.

No discurso, Tarcísio diz que é preciso modernizar as polícias. Na prática, ele atua contra o uso das câmeras nos uniformes. Com a nova tecnologia, São Paulo vinha conseguindo reduzir as mortes causadas por policiais em serviço. Em 2022, quando dezenas de batalhões da PM usaram o recurso, a queda foi de quase 65% em relação a 2019, último ano sem câmeras nas fardas.

Nunca é demais lembrar que golpistas tiveram anuência do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Ele facilitou o avanço das pessoas que, no fatídico 8 de janeiro, investiram contra a Praça dos Três Poderes, entrando no Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF. Comandante da segurança no DF, cabia a Ibaneis a responsabilidade de inibir e conter os golpistas. Não o fez, e sua demora em agir deu tempo suficiente para que entrassem e depredassem os prédios dos Três Poderes.

Imagina se a sanha golpista tivesse a seu lado a força e o efetivo da Polícia Militar do Estado de São Paulo? Os sinais emitidos pelo governador Tarcísio de Freitas neste momento são perturbadores nesse sentido. E não podemos silenciar.

Cabe à sociedade colocar limites à trágica política de segurança de Tarcísio. É preciso submeter a PM ao comando civil e à lógica democrática, que respeita e valoriza instituições e busca atuar na prevenção, investigação e elucidação dos crimes.

Se é necessário tomar medidas para que as Forças Armadas não se aventurem mais na política nacional, com punição dos envolvidos na tentativa fracassada de golpe, também é urgente que a PM seja reorientada a atuar sob a lógica civil. E, de uma vez por todas, entender que o militarismo, o golpismo e a violência policial são irmãos siameses de tramas contra a democracia.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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