Os trabalhadores de direita lutam pelos privilégios do patrão

É natural que trabalhadores e empresários tenham sentimentos diferentes em relação às reformas de Temer. Eles se encontram em lados opostos da CLT e dos direitos trabalhistas. Também é natural que as reformas sejam bem-vistas no Congresso, onde mais de um terço dos parlamentares são empresários milionários. O que surpreende é parte da classe trabalhadora, pouco abastada, apoiar incondicionalmente as medidas que lhes roubam direitos. Como diria Simone de Beauvoir "o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos".

Seria no mínimo ingênuo de nossa parte imaginar que a grande mídia, representando os seus anunciantes, e a si mesmas como grandes corporações, não fizesse uma propaganda falaciosa e desonesta das medidas. Mas a classe trabalhadora não pode fazer coro a esse discurso reacionário e golpista, que está assassinando a CLT para pagar a conta de quem apoiou a deposição de Dilma. Enquanto parte dos próprios trabalhadores deslegitimarem a luta, os direitos estarão mais próximos do fim.

Retrocesso não é "modernização", retirar direitos não vai garantir mais postos de empregos e desonerar o empregador não vai garantir aumento de salário para o empregado. Negociação entre dois polos desiguais em uma relação não é justiça e aposentadoria aos 65 anos é condenar milhares de brasileiros a morrer sem obter o benefício pelo qual contribuíram a vida inteira. Não dá para negar o teor de luta de classes nos interesses das reformas. E é o proletariado que está saindo prejudicado, como sempre foi em nossa história.

Os trabalhadores de direita apoiaram a saída de Dilma, marcharam com o MBL e gritaram na Paulista por um governo neoliberal. Está na hora de todos perceberem que esse governo plutocrata só prejudica os menos abastados da sociedade e favorece seus iguais. Como diria o marido de Simone, Jean-Paul Sartre, "as vítimas são detestáveis quando respeitam seus carrascos".