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Hildegard Angel

Jornalista, ex-atriz, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do militante político Stuart Angel Jones

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Os tristes fins de Bubulina

"Bubulina, a francesa doce, sonhadora e frágil, cantora de cabarés de antigamente, que despertou ardor e ternura no liberto Zorba, não merecia essa mancha negra de óleo no obituário", afirma Hildegard Angel, do Jornalistas pela Democracia

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Por Hildegard Angel, para o Jornalistas pela Democracia - Os tristes fins de BubulinaHildegard Angel Como eu amava a Bubulina! A antiga cortesã francesa, idosa saltitante e solitária, patética e ridícula, pintada com exagero, vestida com extravagância, emplumada, coberta de bijuterias, brilhos, e tão exuberante! 

Embalada em sonhos de glórias passadas, Bubulina era hostilizada pela gente mesquinha e atrasada da pequena aldeia grega, à exceção de Zorba, que via nela encantamento. Jamais esqueci a cena da morte de Bubulina, no filme Zorba, o Grego. No leito, prestes a morrer, Bubulina cercada de pudicas carpideiras de preto, que, ao perceberem seus últimos espasmos moribundos, correram a abrir armários, apossar-se dos vestidos, das joias, lingeries, com enlouquecida alegria. E dançavam com os boás de plumas, davam gritinhos de excitação, disputavam as peças do guarda-roupa decotado e lascivo daquela Bubulina, de que sempre desdenharam, mas que naquele instante demonstravam querer ser, todas elas, bubulinas. Eram bubulinas reprimidas e recalcadas.   

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Sempre me lembrei de Bubulina com ternura e nostalgia -  saudades do filme Zorba o Grego, de Irene Pappás, de Nikos Kazantzakis, Cacoyannis e Theodorakis. Saudades do Zorba, Anthony Quinn, que conheci, e com quem dancei o Sirtaki na festa de meu casamento em Nova York. Saudades, saudades daqueles anos de cinemas de arte lotados na madrugada, no Rio de Janeiro. Filas intermináveis no Paissandu, para assistir a todos os Goddards, aos anos passados em Mariembad, guarda-chuvas do Amor e Un Homme Une Femme. Saudades da fila do Rian, na Av. Atlântica, para embarcar no Yellow Submarine dos Beatles, e me alistar no Exército de Brancaleone - “leon, leon, leon...”  

Agora, vejo um destino ainda mais trágico para a gentil Bubulina: emprestar seu nome a um cargueiro grego, transportador da morte de nossa fauna marinha, emporcalhando algas, pedras, o fundo do mar e as praias mais lindas do planeta. Espalhando destruição, desalento e fome nas comunidades de pescadores, arrasando a economia de cidades nordestinas.  

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Bubulina, a francesa doce, sonhadora e frágil, cantora de cabarés de antigamente, que despertou ardor e ternura no liberto Zorba, não merecia essa mancha negra de óleo no obituário.      

Muito menos a Venezuela merecia ser tão caluniada.

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