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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Os vaivéns da América Latina

A América Latina sintetiza, há décadas, as principais disputas políticas do mundo contemporâneo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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A América Latina se tornou o epicentro dos maiores embates do mundo contemporâneo. Primeiro, na última década do século passado, como a região onde mais proliferaram governos neoliberais, tendo no Chile de Pinochet seu marco inicial.

Por essa razão, foi na América Latina, na década seguinte, a primeira deste século, que surgiram os governos anti-neoliberais e os líderes desses processos. Desde que o capitalismo assumiu o neoliberalismo como seu modelo predominante, foi em torno da vigência ou da superação desse modelo que se deram os maiores enfrentamentos contemporâneos.

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De tal forma que os mais importantes líderes políticos atuais surgiram dessas lutas. Hugo Chávez, Lula, Nestor e Cristina Kirchner, Tabaré Vázquez e Pepe Mujica, Evo Morales, Rafael Correa, foram os primeiros líderes da resistência ao neoliberalismo.

Ao longo das duas décadas seguintes, esses governos sofreram golpes – como nos casos do Brasil e da Bolívia -, que eles reverteram. Sofreram derrotas eleitorais – como nos casos da Argentina, do Uruguai e do Equador. Se expandiram em um segundo momento para o México, para a Colômbia, para Honduras, com novos líderes, como López Obrador, Gustavo Petro, Xiomara Castro,

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Mais recentemente, governos de extrema direita se instalaram no Equador e na Argentina. Enquanto que governos anti-neoliberais sobrevivem no México, na Colômbia, no Brasil, na Bolívia e na Venezuela.

As características destes governos são as que apresentaram desde o seu surgimento. Priorizam as políticas sociais ao invés dos ajustes fiscais. Os processos de integração regional no lugar dos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos. O resgate do papel ativo do Estado, ao invés do Estado mínimo e da centralidade do mercado.

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Hoje está instalado um enfrentamento agudo na Argentina, desde que foi vitorioso Javier Milei, um presidente de extrema direita. Seu discurso se apropria da palavra liberdade e da palavra câmbio.

O discurso é o de que todos aceitam que é necessária uma mudança, transformação. E que essa transformação não pode ser feita com os políticos de sempre. Se projeta assim a necessidade de uma força nova, alternativa, que expresse o câmbio indispensável. Se consolida assim a crítica à velha política e aos velhos líderes políticos, um dos mais fortes argumentos da extrema direita.

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No plano econômico, a hiperinflação herdada permite ao governo de extrema direita impor um duríssimo ajuste fiscal, a começar pelo não pagamento do 13º salário, colocando as responsabilidades nas costas do governo anterior.

A promessa de assim terminar com a inflação supostamente em 18 ou 24 meses joga o problema para frente e justifica o ajuste fiscal. Se promete estagflação durante esse período.

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Enquanto isso se volta a negociar com o FMI um empréstimo de longo prazo, que reforçará a dependência do país com o capital financeiro internacional. Se consolida assim a dependência do país com o FMI.

A disputa na Argentina entre o governo de extrema-direita e a capacidade de resistência do movimento popular e das forças políticas de esquerda é das mais importantes na América Latina contemporânea. Do sucesso ou do fracasso do governo de Milei depende a perspectiva da extrema direita ou a possibilidade de recuperação da esquerda na Argentina, com projeções para toda a região.

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Por outro lado, a possibilidade de consolidação dos governos mais sólidos atualmente na America Latina – os do México, do Brasil e da Colômbia -, supõe a reeleição de Lula e a eleição da sucessora já definida por López Obrador. O caso de Petro é mais complicado, a derrota nas eleições municipais demonstrou que ele não dispõe de uma estrutura partidária, como são os casos de Moreno no México e do PT no Brasil.

Outro caso pendente é a Bolívia, pela disputa entre o presidente atual, Luis Arce, e o ex-presidente, Evo Morales. A vitória de um dos dois significará a continuidade do programa anti-neoliberal. Salvo que essa divisão abra espaço para a vitória de algum candidato da direita, que não aparece hoje como a possibilidade mais viável.

A terceira década deste século, que se havia iniciado com a predominância de governos anti-neoliberais, vive um misto de governos de esquerda e de direita. O que resta da década será marcado pela disputa entre governos neoliberais e anti-neoliberais, a marca destacada de tudo o que já se viveu neste século.

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