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Gilbergues Santos Soares

Historiador e cientista político e professor do Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Especialista em História do Brasil República, com ênfase na ditadura militar e em democracia, suas instituições e em nossa cultura política pretoriana

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Os votos não movem moinhos

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Já diziam os Secos & Molhados que ”os ventos do norte não movem moinhos". E não movem mesmo! Os ventos, digo os votos, saídos das urnas não farão os moinhos da esquerda girarem na velocidade desejada. Mas, como o que “importa é não estar vencido”, nos apeguemos às nossas conquistas mesmo que nos pareçam frágeis. Aquele “antigo compositor baiano” segue tendo razão, pois “é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.

Confesso minha contradição. Nem deveria falar tanto de eleições, pois as considero tão somente o procedimento democrático que escolhe governantes e legisladores. Mas, nossa cultura política nada democrática costuma vir à tona nas eleições. Então, farei breve avaliação delas e tratarei de perspectivas futuras. Peço-lhe apenas, caro leitor, que não desconsidere que a análise é de momento, pois a política eleitoral, como as nuvens, dança ao sabor do vento.

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Jair Bolsonaro é o derrotado das eleições 2020. Onde pôs a mão, seus escolhidos malograram. No 1º turno, dizia não querer se envolver, mas quando o fazia seus candidatos “embicavam” para baixo. Celso Russomano e Wal do Açaí que o digam. Nas pavorosas “lives” do 2º turno, detonou o capital eleitoral de seus seguidores. Ele pediu votos para 13 candidatos a prefeito, mas apenas Gustavo Nunes em Ipatinga (MG) e Mão Santa em Parnaíba (PI) se elegeram. Crivella no Rio e Capitão Wagner em Fortaleza provam como o bolsonarismo pode erodir um projeto eleitoral.

A direita não bolsonarista, mas que se valeu do próprio quando lhe foi conveniente, se saiu bem. Trabalhará para se ver livre de Bolsonaro e ter condições de disputar as eleições de 2022 com alguém palatável ao eleitorado que se encanta com “antipetismo”, Lava Jato, combate a corrupção, etc. Essa tal direita deve dispensar os serviços de seus "bons moços" (Moro\Huck\Dória\Covas\Amoedo) e ter um nome que lhe seja confiável, de “dentro da política”. Como as organizações criminosas, que só confiam em bandidos, os políticos tradicionais preferem os que não rejeitam a política, que não se travestem de novos, apolíticos.

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Eduardo Paes, eleito no Rio de Janeiro, disse que o DEM deve “lançar um quadro da política para a eleição de 2022 e que há resistências a Sergio Moro e a Luciano Huck, mesmo que este converse com o DEM”. Dizendo de onde virá o canto da sereia, Paes mostra que seu partido descarta as “novidades”, que quer lançar um nome e que este nome pode ser o seu. ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, disse que “não vamos apoiar um Bolsonaro dos extremos em 2022”. Desdenhando do bolsonarismo, a direita quatrocentona aponta para uma correção de rumos no sentido de uma volta aos tempos em que PSDB\PFL\PMDB governavam.

A direita venceu em Recife e Porto Alegre, pelo menos, se baseando em “fake News” (inseridas de vez nas campanhas), no discurso racista\machista\misógino, com um conservadorismo reacionário flertando com o fascismo e na mais descarada compra de votos. Despida de qualquer pudor, a direita de São Paulo foi para o 2° turno e venceu. FHC não larga Covas para impedir que bolsonaristas se aproximem. Neoliberais golpistas de 2016 (PSDB, DEM, MDB), extrema direita abrigada em siglas como Republicanos e o “centrão” de sempre governarão 85% dos eleitores dos 5.570 municípios brasileiros. É preciso entender que quem melhor sabe jogar o jogo eleitoral é a direita. Sua maior vitória é quando impõe à esquerda que escolha entre dois dos seus atores políticos como aconteceu em João Pessoa e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, a direita venceu jogando nos erros da esquerda que não soube, não quis ou não pode se unir.

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Do ponto de vista das vitórias, a esquerda saiu-se mal nessas eleições, mesmo com boas votações em Recife, São Paulo, Vitória e Porto Alegre. Vejamos que ela elegeu prefeitos em 12 cidades de 9 estados diferentes. É muito pouco. O PT precisa entender que não é mais o protagonista da esquerda. Precisa aceitar que o PSOL deixou de ser mero coadjuvante, do contrário Boulos não teria chegado ao 2º turno em São Paulo. É certo que a esquerda mantém alto capital eleitoral, mesmo considerando o comportamento volúvel do eleitor brasileiro. Considero pontual a vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL), em Belém, pois ela não prova uma onda de votos à esquerda como nas eleições de 2008 e 2012. A esquerda não saiu em bloco para enfrentar as eleições municipais. Ao contrário da direita, não pensou nos cenários para 2022. Como sempre, o erro foi PT, PSOL e PCdoB se dedicarem às suas questões paroquiais, esquecendo que a luta contra o fascismo\neoliberalismo é diária independente de estarmos ou não em eleições. Resultado? Mais uma vez, a esquerda terminou fazendo o jogo da direita.

Tomemos como exemplo a cidade do Rio de Janeiro onde a esquerda enfrentou o jogo eleitoral esfacelada. A direita se uniu e foi para 2° turno podendo se livrar do bolsonarista de plantão e ainda vencer com um político “mais do mesmo”. A esquerda se viu tendo que escolher entre Paes e Crivella. Muito me incomoda essa situação de ter que escolher entre o “menos ruim”. É preciso entender, de uma vez por todas, que conciliar com partidos de centro direita e com setores das elites não constrói um projeto social e político que promova profundas transformações no país. A esquerda deve, ainda, compreender que a tal frente ampla só beneficia projetos de poder do grande capital. De que adianta compor uma ampla frente política, contra o bolsonarismo, com partidos que participaram do golpe de 2016 e apoiaram Jair Bolsonaro em 2018? A esquerda precisa saber que não é a árvore que tem que amolar o machado.

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Ainda tenho que tratar do fator Ciro Gomes e seu comportamento destrutivo em relação a esquerda. Ele sabe que seus 10% não o levarão ao 2º turno em 2022, como não o levaram em 2018. Isso o deixa irado, ressentido, agressivo, invejoso. Ciro segue agredindo o PT e Lula, com os despautérios de sempre, atingindo Boulos com a pecha de radical e dizendo que Flavio Dino está fora da realidade por ter ido votar com uma camisa vermelha escrito “Lula Livre”. Ciro não assimila o golpe de ver Boulos e Dino ocupando o lugar que pensa ser seu.

O que fazer? Sugiro que uma liderança da esquerda dê uma declaração definitiva, dizendo o que Ciro Gomes é e com todas as letras, sem tergiversar. É preciso dizer que ele não é de esquerda, nem de centro esquerda e que o PDT gravita na centro direita. Ideologicamente Ciro nunca se identifica com os valores da esquerda. Politicamente seus interesses estão do centro para a direita. Importa que tudo fique claro. Quando Ciro chama Boulos de radical faz o papel, que a direita lhe atribuí, e que ele quer fazer para se tornar palatável à direita. Deixar as coisas claras é o melhor para se seguir em frente sempre pensando em como fazer para que os ventos possam mover nossos moinhos.

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