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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Ou a esquerda invade a internet, ou morre na praia

“Se ganhar do PSDB era fácil, encarar as redes de ódio militarizadas do bolsonarismo é o desafio atual (...) O PT não pode se transformar no PSDB do Bolsonaro. E se o PT não quiser se transformar no PSDB de Bolsonaro, ele precisa minar a operação de seu adversário no campo do adversário: as redes sociais”, diz o colunista Gustavo Conde acerca do cenário estratégico de comunicação que se avoluma no horizonte da esquerda como desafio

Bolsonaro Lula (Foto: Bolsonaro Lula)
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As 'acomodações' político-eleitorais são de uma ingratidão abusiva. O PT vinha ganhando sempre do PSDB. Foram 4 lavadas nas urnas, encaminhando para a quinta. Quem não quer ter um adversário político assim? Um derrotado contumaz que esperneia e não sabe perder (o que faz a vitória ser ainda mais gostosa)?

Ganhar do PSDB se tornou um vício, uma diversão, às vezes, até uma maldade. O PSDB não tinha penetração social, não tinha inteligência de redes digitais e se afogava no próprio discurso patético de Estado mínimo, privatização e política de mercado.

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Ninguém entendia isso. Era sempre chance zero de encontrar qualquer engajamento popular suficiente para vencer um pleito nacional.

O PSDB convencia essa elite atrasada do estado de São Paulo, essa gente racista e sem imaginação que permanecia razoavelmente saciada evitando a vitória do PT no estado eleição após eleição.

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Era um pouco a política das compensações: o PT governa o país e nos estados, mantém-se as práticas excludentes de governança privada.

O PT, inclusive, ajudou muito os governos tucanos nos estados, uma vez que tinha noção do caráter universal de um governo responsável que não poderia privilegiar apenas governos do mesmo campo político.

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Essa engrenagem eleitoral e conceitual funcionou até a paciência do PSDB e das elites brasileiras estourar. A partir da reeleição de Dilma Rousseff, só o vale-tudo do ódio e do impeachment sem crime daria conta de interromper a "absurda" série vitoriosa do PT.

É como se diz no discurso popular: "esse, só prendendo" (e foi o que aconteceu).

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Falar depois é fácil, já diriam analistas autocríticos da autocrítica. Mas, fato é que o PT se acostumou demais a ganhar do PSDB e subestimou a sanha golpista de nossa elite empresarial.

Era difícil, claro. Tinha toda imprensa contra si, tinha o jogo baixo dos tucanos, tinha a manipulação de debates e tinha o sentimento crescente de frustração da classe média, que viu seu assistencialismo vagabundo ser substituído pelo combate à pobreza sério, com resultados espetaculares e premiado no mundo inteiro.

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Ainda assim, o PT sempre ganhava.

Uma das explicações é de que o PSDB era analógico. Não tinha - nem nunca teve - estratégia de comunicação. Os tucanos tinham um traço virtuoso que era "ir para o debate", com todas as ferramentas sujas da mentira e do simulacro, mas com o destino fatal de se aceitar as consequências de um debate público

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O PSDB não fugia, pelo menos não à luz do dia.

Sabe quando o PT seria derrotado no plano nacional com um adversário desses? Nunca.

É por isso que o golpe foi "necessário" para os tucanos. É também por isso que o golpe teve o efeito colateral de esmigalhar o PSDB, transformando-o em um partido quase insignificante, que não chegou a 5% dos votos em 2018.

Ora, mas o que se quer com todas essas constatações meridianas, cuja consciência até as pedras no meio do caminho de Itabira possuem e se locupletam?

Quer-se contemplar o cenário eleitoral presente.

Se ganhar do PSDB era fácil, encarar as redes de ódio militarizadas do bolsonarismo é o desafio atual.

O PT não pode se transformar no PSDB do Bolsonaro. E se o PT não quiser se transformar no PSDB de Bolsonaro, ele precisa minar a operação de seu adversário no campo do adversário: as redes sociais.

As redes sociais tornaram o debate público quase secundário. A tarefa é ocupar as redes para re-estabelecer esse debate público o mais rápido possível.

Mas, para isso, é preciso ganhar eleições.

O PT sabe perder. Aliás, o espírito democrático do PT é uma de suas maiores virtudes. Foram aquelas três derrotas de Lula que prepararam um terreno conjuntural espetacular para que o primeiro governo petista desse um drible da vaca no jornalismo golpista e permanecesse forte e pleno das ações.

Foi quase uma sorte. Se Lula tivesse vencido em 1989, seria expelido do poder como foi Collor e talvez nós nunca tivéssemos conhecido sua monumentalidade enquanto líder político.

Mas quis a história que os fatos se encadeassem desse jeito: com lições duras, muitas feridas e muito aprendizado, além do cultivo obrigatório de um comportamento politico dotado de extrema humildade e soberania democrática.

O desafio agora é destruir a máquina digital de mentiras do bolsonarismo. Ela está forte e vai continuar forte.

Querer apenas debater o país em níveis civilizados neste momento pode ser mais uma irresponsabilidade do que um gesto democrático.

É inocência.

É preciso debater o país, mas é preciso fazer muito mais do que isso.

É preciso fazer o que o PSDB não fez na sua série histórica de derrotas. Ali, se o PSDB debatesse o país com honestidade e com um projeto claro, talvez pudesse até vencer algumas daquelas eleições.

Mas, o PSDB decidiu partir para a desconstrução de seu adversário, para a negação de tudo o que estava sendo feito no país. Deu no que deu. Era preciso desconstruir mas também construir, oferecer algo novo ao eleitorado.

Agora, o desafio do PT diante de Bolsonaro é parecido: é preciso desconstruir Bolsonaro, mas é preciso também trazer algo novo.

A discurso de retomada do passado forte econômica e socialmente também é um risco. A memória do eleitor não funciona da mesma maneira que a nossa memória individual.

A engrenagem da comunicação exige que se apresente algo novo, mesmo que seja um "velho" que deu certo reciclado de novo.

Mas o mais importante é combater o preconceito ao uso profissional das redes sociais, a ocupar esse espaço com a competência habitual que sempre caracterizou a esquerda pragmática e de resultados do PT.

A batalha política está sendo travada ali, nas redes. É preciso levar o debate público qualificado para lá - até como gesto de responsabilidade política - mas também é preciso levar as "pílulas" de debate, a disciplina de um "operário digital", que organize e potencialize ações e gestos do campo da esquerda.

O campo da esquerda precisa voltar a ser atrativo para o usuário de rede - e não está sendo.

A esquerda é complexa, gosta de palavras difíceis e de discurso rebuscado. Lula sempre foi uma falsa antítese disto, porque seu discurso é profundamente complexo.

Mas a "forma" do discurso de Lula é simples. E ele chega ao eleitor com força descomunal.

Se essa energia política for corretamente catalisada por uma inteligencia de rede digital, o PT pode abreviar em muitos anos a restituição da verdade política no país.

Não podemos ter preconceito com as redes. Não podemos ser presunçosos como foram os tucanos ao longo de décadas em negarem a si a possibilidade de elaborar um projeto de país com originalidade, dignidade e inteligência.

Se os bolsonaristas têm o seu exército digital, que construamos a nossa fábrica digital, com operários de rede que não tenham medo nem preconceito de retuitar mensagens estratégicas, de publicar memes provocadores, de exaltar os fatos positivos e reprimir a profusão de mentiras.

Nós temos lado. As redes estão do nosso lado. O Google e o Facebook querem coibir as fake news como nós.

O que estamos esperando para entrar de sola nessa batalha?

Assista ao debate entre Gustavo Conde e Fabiano Leitão sobre estatísticas e performance de segmentos políticos nas redes sociais:


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