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Roberto Ponciano

Escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia. Doutorando em Literatura Comparada

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Ou nos reinventamos ou morremos

É óbvio que jornalista para chegar à bancada da CNN, da Globo, da Bandeirantes e quejandos tem que ficar repetindo: “e o Lula, hein?”, “e o Maduro, hein?"

Presidentes da Venezuela, Nicolas Maduro, do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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Não faz nem um mês direito que a imprensa dita democrática se refestelava num espetáculo ridículo, celebrando a subida ao trono de um velho gagá, de uma monarquia construída sobre o sangue, suor e lágrimas da América Latina, Ásia e África. O império no qual o sol nunca se põe foi uma sucessão de invasões, guerras, genocídios, golpes, saques, roubos, chantagens, apoios a ditaduras; no entanto, é celebrado como um “exemplo de civilização pela imprensa ocidental”. 

Da imposição de um estatuto colonial à força à Irlanda, à acumulação primitiva do capital feita com o tráfico de escravos, exploração das minas de prata da América Andina e das minas de ouro do Brasil, do saque continuado das riquezas da Ásia e da África, da guerra do ópio à partilha colonial do continente que até hoje provoca guerras tribais por conta da criação de fronteiras artificiais que tinham e tem pouco ou nada que ver com a história das populações originárias destes países, tudo na monarquia britânica fede a sangue e fezes.

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A mídia celebrou este festim infernal como afirmação de uma “tradição democrática”, como se o direito baseado no sangue e originário de algum deus tivesse algo que arranhasse a ideia de uma democracia.

Pois a mesma mídia ontem voltou às baterias para o consenso de Brasília. Esta mídia imperial, que deve pensar, como pensava Rousseau, que a América possui leões carecas, esta imprensa de bobos da corte do imperialismo, que vive de frente para o mar e de costas para seus países. Estão dispostos a celebrar 11 anos de Margaret Thatcher no poder na Inglaterra, 19 anos de Angela Merkel no poder na Alemanha, como prova da vitalidade das democracias inglesa e alemã (que até hoje proscreve e proíbe o registro do Partido Comunista), mas diz que as seguidas eleições de Madurou ou Ortega são provas de “populismo” e de ditadura (em que pese os problemas da Nicarágua, as eleições dela são tão legítimas quanto a inglesa e ou a alemã).

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Passaram o dia ruminando as mesmas bobagens de “ditadura da Venezuela” e foram capazes de reproduzir os besteiróis de fake news bolsonaristas de que “Lula é amigo de ditadores”, lembrando que esta mesma mídia que nunca fez mea-culpa do golpe contra Dilma e foi quem ajudou a eleger Bolsonaro. 

Pois bem, vamos aos fatos, a Venezuela pode ter muitos problemas, mas não, não é uma ditadura. Chávez e Maduro ganham seguidas eleições, porque na Constituição da Venezuela (princípio básico de autodeterminação dos povos e não de “alternância no poder”, que é um blablablá neoliberal para que não haja mudanças estruturais profundas) o povo determinou que um presidente pode ser eleito quantas vezes o povo desejar votar nele. E o povo votou, Chávez e Maduro seguidamente, o que é um direito do povo da Venezuela. A social-democracia sueca, vista como “exemplo mundial”, ficou no poder 44 anos seguidos, pela vontade do povo da Suécia. Nunca vi um palpiteiro da Globo News ficar vociferando que a Suécia é uma ditadura, por não ter “alternância de poder”, ou explicar que os altos índices de saúde, educação e bem-estar se devem a um percentual de tributação do PIB de 44%!

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Em resumo, em eleições feitas com urnas eletrônicas, com participação aberta da oposição, e com observadores internacionais, Maduro foi reeleito novamente e é o único legítimo presidente. Na Venezuela há liberdade extrema de imprensa, e não foi lá que Assange foi preso ou extraditado por revelar segredos dos golpes imperialistas dos EUA pelo mundo. A Venezuela passou por duas tentativas de golpe, uma, em 2002, com sequestro do presidente Chávez, e que só foi dispersada pela força da população e por conta de uma ação bem sucedida de comandos militares leais ao presidente, que evitaram que ele fosse extraditado ou executado e o colocaram de volta no palácio do Governo.

Ah, mas dirão vocês, mas Maduro sofreu um impeachment e não aceitou o resultado dele. Não, Maduro não sofreu um impeachment, tentaram contra Maduro o mesmo golpe que deram no Paraguai, em Honduras e no Brasil contra Dilma. A Venezuela não é uma república parlamentarista, é uma república presidencialista. Lá houve um “julgamento político” de Maduro, por um Congresso que, na época, tinha maioria de oposição e aprovaram um referendo inconstitucional para retirar Maduro do poder. Lá, diferentemente do que aconteceu aqui, o Supremo Tribunal não estava junto no golpe, e anulou todos os atos golpistas, tanto a tentativa de um referendo revogatório inconstitucional, como a declaração desesperada, ao fim do mandato de Maduro, que sua eleição seria ilegítima. Aí houve aquela ópera bufa, com Guaidó (um agentezinho de segunda categoria da CIA declarando-se presidente interino num comiciozinho de porta de boteco) porque sabia que perderia a eleição. 

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Maduro candidatou-se, venceu, tomou posse. O Congresso foi renovado e a Venezuela normalizada, o roteiro de revoluções coloridas estilo Partido Democrata dos EUA, ONGs e CIA foi desbaratado e a Venezuela seguiu seu caminho democrático. É bom lembrar, que isto não foi feito sem que houvesse um trabalho continuado de sabotagem e desestabilização a partir de um bloqueio desumano dos Estados Unidos, que não deixava chegar insumos, seja para a produção de petróleo, seja para a produção de remédios. Isto gerou uma crise financeira inaudita, a produção petrolífera baixou de 1 milhão e oitocentos mil barris dia para pouco mais de 400 mil barris dia, gerando um descalabro nas contas públicas, desabastecimento, inflação, o roteiro de chantagem e boicote dos golpes da CIA contra os países de continente, o mesmo roteiro usado contra Jango, Allende, amplificado. Uma espécie de emenda Platt (a que é usada contra Cuba), com financiamento direto da oposição para desestabilizar o governo e atentados terroristas, no qual chavistas chegaram a ser queimados por terroristas pró EUA.

Então sim, na Venezuela há terroristas (e não opositores presos), assim como no Brasil os que praticaram os atentados de 8 de janeiro e os que os financiaram estão e devem ficar presos. Guaidó fugiu a pé, abandonado à própria sorte, porque seu convescote de golpista amador não deu certo. Ah, sim, uma concessão de TV privada foi cancelada pelo “simples fato” de ter apoiado o sequestro do presidente e seu principal acionista ter ser declarado “Presidente da República” em 2002, em resumo, foi fechada de maneira legal pelo crime de alta traição, sabotagem e tentativa de golpe de Estado, venhamos e convenhamos, isto nada tem que ver com censura, mas com defesa da democracia, aliás, a Jovem Klan já deveria ter sido cassada no Brasil por alimentar o nazifascismo aqui.

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O que ofende os jornalistas bobos da corte do imperialismo não é uma pretensa e inexistente ditadura na Venezuela. É que o consenso de Brasília uniu 11 presidentes da América Latina no sentido de criar um bloco político-econômico alternativo a ALCA, fora da órbita dos Estados Unidos que possam construir relações bilaterais e multilaterais de apoio mútuo. Tirando Boric, que cada vez e mais se parece com um boneco de ventríloquo de Joe Biden, mesmo presidentes menos à esquerda endossaram a necessidade de fortalecer a UNASUR, de fazer um bloco maior que o Mercosul e de unir iniciativas de desenvolvimento regional que fortaleçam o sonho de Bolívar de uma América Latina soberana, unida, por um futuro progressista coligado.

Fora isto, no fundo, o mesmo preconceito racial e de origem que se tem contra Lula, assim como Lula, Maduro não é faz parte da elite branca criolla de olhos azuis da América Latina, é um ex motorista de ônibus que não saiu dos bancos escolares da USP, de Cambridge, de Harvard, de Berkeley ou do raio que os parta, para seguir as ordens e instruções do império. Maduro segue uma tradição que, infelizmente, não existe no Brasil, de uma narrativa bolivariana de independência e integração que fez os ianques declararem guerra não aberta à Venezuela, até com tentativa de invasão do território venezuelano, com mercenários cuja tarefa era “somente” assassinar o presidente e estabelecer um “governo livre e democrático”.

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A Venezuela sobreviveu a uma crise econômica fabricada desde Washington, que custou uma emigração econômica (e não política) de cerca de 6 milhões de venezuelanos, muitos dos quais, agora, retomam o caminho de casa. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia acabou por dobrar o governo dos Estados Unidos no seu boicote ao petróleo venezuelano. Para substituir as importações do cru da Rússia, Biden teve que rever as sanções e a Venezuela teve um crescimento de 11% do PIB ano passado, as projeções, mais pessimistas, para este ano, são de 6% de crescimento do PIB. A produção de petróleo já atingiu o patamar de um milhão de barris dia, a economia se estabilizou com a inflação cedendo e a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia significa um aumento da margem de manobra para o governo de Maduro. Ao lado disto, parcerias comerciais com a própria Rússia, a China, o Irã, os países não alinhados aos Estados Unidos, deram a chance do governo Maduro sobreviver a uma guerra econômica tão suja e vil.

É óbvio que jornalista para chegar à bancada da CNN, da Globo, da Bandeirantes e quejandos tem que ficar repetindo: “e o Lula, hein?”, “e o Maduro, hein?". É mais do mesmo, da mesma guerra suja do imperialismo contra um futuro soberano dos países da América latina.

Como dizia Simón Rodríguez, preceptor de Bolívar, e pai do bolivarianismo,: “ou (nos) inventamos, ou morreremos!”

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