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      Marcia Carmo

      Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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      Papa Fancisco, peronista, torcedor do San Lorenzo, admirador de Borges e do Brasil

      "Francisco era crítico das desigualdades sociais, conhecia e admirava a trajetória do presidente Lula e tinha clara a importância do Brasil"

      Papa Francisco no Vaticano durante Páscoa - 31/3/2024 (Foto: REUTERS/Yara Nardi)

      A morte do papa Francisco, o ex-cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, aos 88 anos, comove o mundo e também a Argentina, país que não visitou durante seu papado. Desde que assumiu o Vaticano no dia 13 de março de 2013, o pontífice era esperado na terra onde nasceu e com a qual era identificado. Argentino típico, era torcedor de futebol, adorava seu time San Lorenzo e tinha um humor portenho. Na última entrevista, domingo, uma radialista lhe perguntou na Praça São Pedro, como ele estava: “Sentado”, respondeu e riu. “E vivendo, como posso”. Ele estava sentado no banco da frente do carro que o levava para casa. Seguidor ferrenho do entramado político da Argentina, era admirador de Jorge Luis Borges, imensamente solidário, com interesse e ouvidos para outros credos. Para ele, a fé não se limitava à Igreja católica. Quando era bispo atendia telefonemas de desamparados a qualquer hora do dia ou da noite. E caminhava pelos bairros pobres, onde agora surgem as igrejas evangélicas pentecostais – ainda longe da presença que existe no Brasil. Francisco era crítico das desigualdades sociais, conhecia e admirava a trajetória do presidente Lula e tinha clara a importância do Brasil, por sua história, por seu rebanho de católicos e pelos amigos com os quais sentia sintonia espiritual, como Frei Betto. “Perdemos o papa dos pobres”, disse o arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva, na manhã desta segunda-feira.

      Nas manifestações aqui em Buenos Aires é comum ver cartazes que dizem: “o Papa Francisco é peronista”. O movimento peronista tem quase a idade que tinha o papa Francisco, foi fundado há mais de oitenta anos. No Vaticano, ele recebeu os ex-presidentes Cristina Kirchner, Alberto Fernández e Mauricio Macri. Com Macri, não disfarçou que recebia alguém com quem não comungava as mesmas ideias. A foto do papa com cara de poucos amigos gerou memes e debates na Argentina. O presidente Javier Milei disse, quando era candidato à Casa Rosada, que o papa era “o representante do maligno na Terra”. Mas a morte do pontífice, nesta madrugada de segunda-feira, o levou a decretar sete dias de luto na Argentina. Milei também planeja arrumar as malas para participar da cerimônia de despedida no Vaticano. Uma reviravolta espiritual do presidente conhecido por seus insultos contra os que não compartilham das suas ideias.
      A expectativa mais recente da possível visita do papa Francisco ao território argentino, pouco antes de ele passar 38 dias internado, era que pudesse desembarcar na capital argentina no segundo semestre deste ano. Viagem que nunca foi confirmada por sua Santidade. Ele visitou o Brasil, onde disse aos jovens: “façam ‘lio’ (bagunça). Esteve no Paraguai, no Chile, na Bolívia, no Peru, no México. Nos seus quinze anos de gestão, foi a pelo menos dez países da América Latina e do Caribe. Já são vários os livros e filmes sobre sua vida.

      O livro mais recente – “El loco de Dios en el fin del mundo” – foi escrito pelo espanhol Javier Cercas, integrante da Real Academia Espanhola, que o acompanhou em varias viagens. O autor, que é ateu, foi escolhido pelo próprio papa Francisco, o líder espiritual que partiu numa segunda-feira de Páscoa.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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