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Rudá Ricci

Rudá Ricci é sociólogo

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Papo reto sobre Ciro Gomes

Ciro não possui fortes vínculos com centrais sindicais, nem igrejas, nem setores empresariais de peso, nem movimentos sociais. Ciro flutua como numa espécie de desejo de ser um intelectual orgânico de todos esses segmentos que citei acima

Afirmei que a estratégia “a la Macron” de Ciro falharia; falhará com Alckmin (Foto: Adriano Machado/Reuters)
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Muito já se disse sobre as mudanças partidárias de Ciro Gomes. Em 1982, se filiou ao PDS (ex-ARENA); em 1983, ingressou no PMDB (um ano após a filiação ao PDS); em 1990, filiou-se ao PSDB; em 1997, foi a vez do PPS; em 2005, foi para o PSB; em 2013, o PROS; e em 2015, o PDT. Sete anos parece ser o prazo limite para Ciro se manter num partido. Há uma possibilidade de estar se depurando ao longo dos anos, encontrando seu verdadeiro eixo. Contudo, somos o que amealhamos em nossa trajetória. Não há como, na vida, nos desprendermos totalmente de nosso passado. Uma ruptura total só ocorre com radicalidade, de maneira que muitas rupturas exigem diversas radicalizações para negar a opção anterior, também radical. Então, uma das marcas de mudanças tão díspares é a radicalização do discurso e das convicções. Convicções que se conflitam no tempo, como do ideário do PDS (que apoiou o bloco que governou o país durante a ditadura militar) ao de partidos socialistas ou que já foram comunistas.

É possível imaginar uma outra situação: a leitura política de um oportunista. Neste caso, o discurso radical não seria uma fuga do passado, uma negação por completo, mas uma tentativa de criar uma nuvem de fumaça sobre suas opções passadas para poder caminhar ao encontro de um novo partido ou bloco de poder. Neste caso, estaríamos diante de um calculista que procura a bola da vez. Um arrivista. Em 2010, Ciro declarou apoio à candidatura de Aécio Neves e afirmou: “O Aécio pode convocar todos os brasileiros, decentes, de todos os partidos, que é como ele faz em Minas Gerais e celebrar um projeto de país, que dê avanço ao que o presidente Lula representou.” Algo estranho para o seu discurso atual.

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Mas, Ciro embaralha as cartas e não parece ser um jogador que dá sinais simples. Com o tempo, procurou qualificar seu discurso. Se aproximou de Mangabeira Unger, um social-liberal, mais liberal que social, que sugere que o Brasil caminhe para ser uma espécie de EUA, com ampla classe média, do dia para a noite. Ciristas afirmam que seu ídolo se afastou do brasileiro com sotaque novaiorquino. Mas, os bastidores sugerem que não é bem assim.

Ciro Gomes é tido como bom para pensar grandes estratégias, mas péssimo para as definições táticas. Muito disso vem de seu temperamento irascível e sua autossuficiência deletéria. Suas campanhas parecem mais a exposição de candidatos à reitor ou tentativa de conseguir o título de doutor honoris causa que efetivamente dialogar com a população sofrida do país. O resultado é quase sempre o mesmo. Foi candidato três vezes à Presidência da República. Em 1998, Ciro obteve 10% dos votos. Em 2002, obteve 11,9%. Na eleição do ano passado, atingiu 12,4%. Nunca chegou a resvalar no segundo turno. Sempre esteve no pelotão do meio. Seu capital eleitoral é o mesmo que aquele apontado pelo Datafolha como sendo do “núcleo duro” do bolsonarismo. Mas está muito distante do potencial eleitoral do próprio Bolsonaro e de Lula. Este é o emparedamento que faz Ciro se debater com Lula e Bolsonaro: a polarização entre os dois é fatal para suas ambições.

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O grande gargalo, contudo, de toda sua trajetória é sua frágil base social e política. Ciro não possui fortes vínculos com centrais sindicais, nem igrejas, nem setores empresariais de peso, nem movimentos sociais. Ciro flutua como numa espécie de desejo de ser um intelectual orgânico de todos esses segmentos que citei acima. O problema é que não é orgânico. E o mundo intelectual brasileiro não o percebe como um par.

Talvez, este seja o maior problema de Ciro: ele não tem um lugar certo no mundo real da política. Não apenas o formal, partidário. Mas nas movimentações concretas do mundo político nacional. Não é central nas mobilizações, nas agendas de lutas nacionais, nos debates da agenda do país. Não está nos grandes debates sobre direitos sociais, sobre políticas sociais, sobre reformas, sobre o novo mundo do trabalho. Enfim, não dialoga com a sociedade, o que o faz um eterno candidato a partir de si e para si.

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Tal perfil lhe dá uma única chance: uma crise tão forte de representação que se lance no vácuo aberto, ao estilo Luís Bonaparte, como salvador em meio ao caos. Mas, para isso, terá que ser enxergado como tal. O que, neste momento, parece um delírio de final de festa.

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