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Paulo Amaro Ferreira

Historiador e professor da rede pública de ensino do Rio Grande do Sul

10 artigos

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Para derrotar o golpe, o PT precisa interromper a autossabotagem

Para vencer os golpistas e derrotar Bolsonaro, o PT necessita antes de mais nada se desfazer de uma política baseada em ilusões e autossabotagem

(Foto: Lula Marques)
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Por Paulo Amaro, DCO

Até para os menos sagazes, está cada dia mais evidente que o golpe de 2016 objetivava eliminar o PT do cenário político. Para cumprir esse objetivo, não bastou apenas derrubar a presidenta eleita. Através da operação Lava-Jato, diversos dirigentes do PT foram condenados à revelia e mandados à prisão, incluindo o mais popular líder do país, Lula. A intenção era muito clara: aniquilar o maior partido de esquerda do país. E nessa verdadeira operação de aniquilamento do PT, os golpistas utilizaram-se dos diferentes aparatos do Estado burguês, desde os mais repressivos, como a Polícia Federal, até os pretensamente mais democráticos, como os tribunais, que se comportaram como verdadeiros tribunais de exceção, e o próprio Parlamento, que mostrou a sua verdadeira vocação antidemocrática ao condenar a ex-presidenta Dilma por um crime que sequer existia.

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Porém, até o momento essa operação tem falhado, sobretudo pelo fato de que o PT segue sendo o partido mais popular do país, tanto pelo fato de estar enraizado nas organizações populares como os sindicatos, quanto por que seu governo, ainda que de forma tímida, pôde melhorar a vida da população brasileira através de políticas moderadas de distribuição de renda. Assim, após esses cinco anos de golpe, a popularidade do PT e de Lula não foi destruída, mantendo-se o PT como o principal partido, não só da esquerda brasileira, como do País em geral. Porém, é preciso que se diga que a operação para acabar com o PT, por vezes, tem contado com a ajuda do próprio partido, na medida em que a reação aos ataques não se mostra à altura dos mesmos.

Os motivos para a falta de enfrentamento aos seus algozes são diversos. Em primeiro lugar podemos citar a falta de clareza na análise da situação política, provocada pela ausência de uma teoria revolucionária, que pudesse desvencilhar o PT da hegemonia das teorias liberais em sua política. Essa ausência de teoria revolucionária faz com que o PT não consiga identificar corretamente os inimigos da classe trabalhadora, confundindo-os com aliados, considerando-os como defensores da democracia, e uma série de outros equívocos desse gênero.

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Uma outra razão para a falta de uma política de enfrentamento ao golpe decorre do fato de que boa parte das direções e dos parlamentares do PT (que na prática dirigem vastos setores do partido) estão basicamente comprometidos com a ordem estabelecida, ainda que seja a ordem estabelecida por um golpe contra o próprio partido (o que torna a situação mais grave). Assim, não há tampouco uma vontade política para acirrar a luta contra os golpistas, em virtude do receio que esse enfrentamento possa trazer insegurança para as eleições, sobretudo parlamentares, onde predomina o jogo de cartas marcadas.

Não podemos deixar de apontar que os dois fatores acima estão estreitamente relacionados, ou até mesmo subordinados a um terceiro fator: o de que o PT se encontra, em sua imensa maioria, dirigido por setores da classe média, sejam parlamentares, prefeitos, governadores, assessores diversos, professores universitários, empresários de diferentes ramos, etc. Ou seja, a política vacilante do PT se explica sobretudo pela composição de classe das suas direções, já que a classe média, na estrutura de classes do capitalismo, é uma classe intermediária entre o proletariado e a burguesia, adotando por conseguinte uma eterna política de hesitante, ensejada sobretudo por questões materiais.

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Dessa forma, apesar de duramente golpeado e cercado pela burguesia, o PT tem vacilado na hora de combater seus inimigos, que são os mesmos inimigos da classe trabalhadora brasileira. O PT não soube também identificar o momento em que as condições para a sua política de alianças com setores da burguesia haviam se deteriorado, prenunciando o rompimento dessa aliança que culminou com o golpe de estado em 2016. E já em 2016, quando os sinais desse rompimento eram evidentes, o PT, ao invés de dar uma guinada em sua política para tentar evitar o golpe, tentou de todas as maneiras evitar o mesmo através de manobras parlamentares, acordos incertos e improváveis, com os próprios partidos que estavam orquestrando o golpe. A burguesia havia rompido, mas o PT se negava a aceitar o fim da relação. E como todo fim de relacionamento, é sempre pior para os que não querem aceitar.

Seguiu-se a esse fim de relação um período de negação da realidade, o que pôde ser visto na falta de iniciativa do PT para evitar a prisão de Lula, mais uma vez confiando no funcionamento das instituições da república putrefata brasileira. E mais uma vez, a negação da realidade terminou em desastre e na prisão da maior figura do PT, justamente no momento em que se avizinhava a disputa eleitoral de 2018. O desastre do resultado das eleições era previsível, na medida em que as mesmas foram completamente controladas e fraudadas pelos golpistas.

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Após todos esses episódios, suficientemente ilustrativos para os observadores atentos da política, passados já quase seis anos do golpe e caminhando para os quatro anos de governo Bolsonaro, o PT entretanto segue atuando com sua política de auto-sabotagem, agindo a reboque da direita tradicional em praticamente todos os aspectos da luta política no país. É dessa forma que os mesmos sabotadores dentro do PT buscam subordinar a luta contra Bolsonaro aos partidos e instituições controlados pela direita golpista.

Como não mencionarmos o fato de que alguns figurões do PT, semanas antes da libertação de Lula, declaravam publicamente que Lula estava ultrapassado e que era preciso o partido encontrar novas lideranças? Como explicar essa conduta a não ser pelo desejo de alguns setores petistas em entregar a liderança da oposição para setores da direita?

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E esse mesmo desejo tem ensejado esses setores a sabotar completamente os atos pelo Fora Bolsonaro. E logo o PT, que é provavelmente o maior beneficiado com a mobilização da classe trabalhadora, que tende a desembocar na candidatura de Lula, tem deixado a direção dos atos nas mãos ou de amadores completos, ou de lobos em pele de cordeiro, que têm interesse em que as mobilizações da esquerda se esvaziem, pois são contrários à candidatura do Lula. É o caso notório de partidos como o PDT e PCdoB, que desde 2018 têm costurado uma aliança em nível nacional, ou então de partidos da esquerda pequeno burguesa, como PSOL e seus puxadinhos eleitorais como o PCB e a UP, que atuam para atender aos desejos do PSDB.

As consequências de a direção dos atos estar nas mãos desses partidos são funestas para a esquerda. Uma delas é a política de convidar partidos da direita para participar dos atos, com destaque para o PSDB, que foi inclusive defendido efusivamente pelo PDT, PCdoB, PSOL, PCB, etc., quando seus “militantes” foram expulsos de um ato em São Paulo pelos militantes do PCO. A consequência lógica da participação do PSDB nos atos não pode ser outra a não ser o paulatino esvaziamento das manifestações, na medida em que setores inteiros, como por exemplo o funcionalismo público do estado de São Paulo, tendem a repudiar completamente o PSDB. E como veem que o seu algoz está sendo convidado pelos próprios organizadores dos atos, a tendência é abandonar as ruas para não fazer papel de palhaço.

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Um outro grande vacilo do PT, que contribui para a autossabotagem, é a defesa que amplos setores do partido têm feito das chamadas instituições democráticas do país, como o STF ou o TSE, instituições essas que contribuíram decisivamente para o golpe de estado e que agora querem passar por opositoras de Bolsonaro e defensoras da democracia. Defender essas instituições é um duplo erro: primeiro por que são altamente impopulares e não gozam de confiança por parte da classe trabalhadora em geral; segundo por que esses setores não merecem um pingo sequer de confiança por parte da esquerda, na medida em que são controladas pela direita tradicional, que articulou o golpe contra o PT e que está pronta para atuar de todas as formas para evitar a volta de Lula ao governo.

A melhor saída para o PT seria mobilizar amplamente para os atos, capitalizando esse movimento não simplesmente do ponto de vista eleitoral, mas sobretudo político, colocando a classe trabalhadora em movimento para derrotar todos os setores golpistas em seu conjunto. Conjuntamente com isso, o PT deveria desde já lançar oficialmente a candidatura de Lula para presidente, para romper de vez com todos os setores que desejam subordinar a esquerda à chamada política da terceira via. E há diversos setores no PT que buscam essa saída, como evidenciou o ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça e da Educação nos governos do PT, Tarso Genro, que, em entrevista à imprensa golpista nessa semana declarou que “seria bom o surgimento de uma terceira via para o país”.

Por fim, há ainda uma última ilusão a ser combatida pelos militantes petistas. Inebriados pelas pesquisas eleitorais, as direções do PT e boa parte de suas bases de classe média, acreditam que Lula já estaria eleito em 2022, e que estamos numa espécie de contagem regressiva para o fim do golpe. Ora, qualquer pessoa medianamente inteligente percebe que isso não passa de um conto de fadas. Segundo essa fábula, Bolsonaro e seus seguidores, contando aqui com parte significativa das forças armadas e das polícias militares, aceitariam pacificamente a vitória de Lula e o retorno do PT ao governo. Além disso, a direita tradicional, que deu o golpe em 2016, estaria disposta a organizar uma eleição sem fraudes e respeitando as “regras democráticas”. É só pararmos para analisar brevemente essas duas hipóteses para concluirmos que nenhuma delas é minimamente plausível.

Se o PT quiser realmente vencer o golpe e voltar a governar o país, ele precisa rapidamente se desfazer de todas essas ilusões e combater a política da sabotagem dentro das suas trincheiras. Aqueles que querem entregar o ouro para o bandido devem ser isolados dentro do PT, dando lugar a uma política de mobilização e de enfrentamento ao golpe. Antes de mais nada, é preciso também, de uma vez por todas, lançar Lula como candidato oficial do Partido dos Trabalhadores e de toda a esquerda que deseja realmente derrotar os golpistas, e impulsionar essa candidatura através da mobilização de rua nos atos pelo Fora Bolsonaro. Se essa política der resultados expressivos, quem sabe não conseguimos, antes das eleições do ano que vem, botar esse governo abaixo, juntamente com todos os golpistas que nos trouxeram a esse cenário horripilante em que nos encontramos.

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