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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

92 artigos

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Parasita: um filme sobre contradições

Parasitas é um filme que coloca algumas questões comuns em países como a Coreia, os EUA, o Brasil ou qualquer outro país capitalista. Mostra, sobretudo, que o sonho “civilizatório” capitalista se exauriu. Em seu estágio atual tudo o que ele oferece é luxo e riqueza para poucos, exclusão e barbárie para muitos.

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Parasita é um filme sul-coreano, logo, segundo alguns, um filme da Coreia que deu certo. Terra do k-pop, das grandes empresas geradoras de tecnologia, dos automóveis com boa mecânica. É um filme que expõe algumas contradições da Coreia do Sul que, como todo país capitalista, as têm, sobretudo as questões ligadas às desigualdades sociais.

O roteiro conta a história de duas famílias similares em sua formação, pai, mãe e um casal de filhos, mas opostas em sua vida cotidiana. A família Kim e a família Park. A família Kim mora em um subsolo, em um apartamento apertado e insalubre no qual a janela fica no nível da rua de um bairro proletário. Todos estão desempregados e vivem de bico. Por morarem em um subsolo, seus telefones não funcionam por falta de sinal. Entre seus maiores problemas estão os bêbados do bairro que vomitam ou urinam na janela do apartamento. Os filhos estão em idade de frequentar a universidade, mas não o fazem porque não têm dinheiro para pagar as mensalidades. 

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Os Kim são muito unidos. As poucas e pequenas vitórias cotidianas são comemoradas por todos. O pai (Kim Ki-taek) era motorista, mas não consegue emprego há muito tempo. A mãe (Kim Chung-sook) é dona de casa, o filho (Kim Ki-woo) e a filha (Kim Ki-jeong) se viram para sobreviverem.

Os Park formam uma jovem família. Um pai empresário, uma mãe dona de casa, uma filha adolescente e um filho com cerca de oito anos que, segundo a mãe, tem hiperatividade. Transtorno de crianças ricas cujos pais não querem ser incomodados. Quando eu era pequeno criança ativa era sinal de felicidade e saúde. Velhos tempos. Os Park moram em uma mansão projetada por um arquiteto famoso que mudou-se para outro país. Os ricos nunca gostam de seus próprios países se estes não forem os EUA, a França e a Inglaterra, salvo exceções. Herdaram uma governanta quando compraram a casa. A esposa (Madame Park) é frívola e leva uma vida vazia; uma das características mais marcantes de sua frivolidade é uma admiriação por tudo que vem dos EUA, como ocorre em boa parte das classes dominantes brasileiras. O pai (Senhor Park) é um empresário que trata a esposa e a filha (Park Da-hye) de maneira distante e demonstra algum carinho apenas por seu filho mais novo (Park Da-song), uma criança problemática, segundo sua mãe. Da filha adolescente cobra-se um alto nível de dedicação aos estudos, sobretudo ao estudo da língua inglesa. 

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As histórias das famílias se desenvolvem paralelamente até que um fato casual fará seus caminhos se cruzarem. O filho da família Kim, Kim Ki-woo, tem um amigo universitário que dá aulas de inglês para a filha da família Park. Como ele irá estudar no exterior, propõe ao amigo ministrar as aulas em seu lugar. O universitário é apaixonado pela aluna e não quer que seus amigos universitários o substituam porque tem ciúmes da aluna. E só confia em Kim Ki-woo para substituí-lo, mas ele tem que fingir que é universitário. Claro que ele confia naquele a quem considera inferior porque não crê que menina rica se apaixonaria por um pobretão.  A princípio Kim Ki-woo exita, mas aceita por causa do dinheiro. A partir daí tem início uma série de pequenos golpes que colocarão ambas as famílias em contato. 

Kim Ki-jeong falsifica um diploma de uma universidade estadunidense para o irmão poder se passar por universitário e conseguir o dinheiro tão necessário. 

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Após a primeira aula, ele convence sua patroa, Madame Park, a contratar Kim Ki-jeong como professora de arte para Park Da-song, mentindo, contudo, ao dizer que ela é uma conhecida. Kim Ki-jeong, por sua vez, arma uma arapuca para que o motorista da família Park seja demitido e seu pai, Kim Ki-taek, seja contratado para substituí-lo, sem, contudo contar que são parentes. Por último, toda a família consegue que a mãe, Kim Chung-sook, seja contratada como substituta da governanta da família. Em troca dos empregos, os laços familiares são dissolvidos. Em Parasitas só os ricos podem expor e manter seus laços familiares e de amizade, mesmo que estes sejam frágeis e volúveis.

O Senhor Park se incomoda com aqueles que “passam dos seus (deles) limites”, limites estes que só ele sabe quais são. Os empregados não são comunicados de quais são estes limites. Senhor Park aprecia seu novo motorista Kim Ki-taek, embora ele quase ultrapasse os limites: conversa mais do que deveria, mas dentro dos limites; não presta atenção ao trânsito como deveria, mas, ainda assim, dentro dos limites. O único elemento que o Senhor Park reconhece como fora dos limites é o cheiro do sabão de roupa que exala das vestes de Kim Ki-taek. A burguesia, afinal de contas, tem um olfato muito refinado para reconhecer um bom vinho, um bom perfume. Odores fortes só os de um bom brie ou de um camembert. Estes cheiros, embora fortes e excêntricos, estão todos respeitando os limites.

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O filme é construído em cima da disparidade dos hábitos das duas famílias. Os pobres fazendo o que for necessário para sobreviver, os ricos levando uma vida desmedida e fútil, dispondo de tudo, até da vida dos outros. As personagens ricas são construídas como fúteis e ingênuas, facilmente enganáveis. As pobres como sofridas, inteligentes e ardilosas. Há um certo maniqueísmo na construção das personagens, mas que contribuí de maneira precisa para a narrativa. 

Os espectadores são convidados a “descobrir” que, cada uma a sua maneira, ambas as famílias são “parasitas”. A família pobre é parasita porque vive em um local esquecido, que alaga durante grandes temporais. Parasita como são todas as famílias pobres no capitalismo. Parasitas porque descartáveis, elimináveis a menos que gravitem servil e subalternamente em torno dos ricos.

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A família rica é parasita porque vazia, sem propósito nenhum a não ser viver para o luxo. Suas relações com os outros e entre eles mesmos são frias e calculadas. Suas críticas são sempre indiretas nunca são feitas frente a frente. Não acrescentam nada de bom à vida social, muito pelo contrário. Não se furtam a colocar seus funcionários em situações subalternas como o Senhor Park faz com o motorista durante a festa de seu filho caçula.

Aos pobres restam os sonhos quase todos impossíveis de serem alcançados sob o capitalismo. Se antes o capitalismo possuía um certo caráter “civilizatório” ao levar conforto e emprego aonde não existiam, mesmo que ao preço de escravizar as pessoas em suas linhas de produção, hoje nem isto ele faz mais. Os marginalizados, os dominados permaneceram fora da “civilização” tendo acesso a pequenos luxos como os celulares da família Kim que não conseguem sinal onde são mais necessários.

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Parasitas é um filme que coloca algumas questões comuns em países como a Coreia, os EUA, o Brasil ou qualquer outro país capitalista. Mostra, sobretudo, que o sonho “civilizatório” capitalista se exauriu. Em seu estágio atual tudo o que ele oferece é luxo e riqueza para poucos, exclusão e barbárie para muitos.

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