Pátria ultrajada
Atrás do impeachment e da perseguição criminosa a Lula está o projeto estratégico de submeter o Brasil aos interesses do sistema financeiro e dos Estados Unidos, com o assalto ao nosso orçamento, nosso petróleo e nossa mão-de-obra
A América Latina vive um impasse histórico que, não sendo superado, pode inviabilizar os países do continente constituírem-se enquanto Nações independentes. Trata-se da divisão política e ideológica entre civis e militares, situação imposta ao continente a partir da Guerra Fria que, nos anos sessenta e setenta, resultou em ditaduras na maioria dos países.
Em palestra em uma universidade de Brasília, em 2016, o Comandante do Exército, general Villas Bôas, afirmou que a falsa bandeira da Guerra Fria, em outros tempos, dividiu a Nação entre civis e militares. Segundo ele, essa situação imposta desde fora impediu, e segue impedindo, o Brasil de ter um projeto de Nação que atenda aos interesses dos brasileiros.
Na época, os militares foram convencidos da lógica imperialista da "Teoria da Segurança Nacional", em que a eles cabia combater o "inimigo interno", ou seja os comunistas, ou tudo que se assemelhasse. Os Estados Unidos, no caso, seriam os guardiões da democracia no mundo e os responsáveis pela defesa dos países diante de ataques externos, em especial dos "russos".
A questão é que se essa visão, ou divisão, como reconheceu o comandante Villas Bôas, foi um erro histórico em momento anterior, agora é um verdadeiro desastre que pode comprometer o futuro da nacionalidade. O mundo unipolar sob hegemonia dos Estados Unidos acabou e, com seu fim, emergiu um novo arranjo internacional, especialmente em torno do BRICS.
O golpe de Estado em curso no Brasil é resultado da tentativa norte-americana de resistir a perder espaços geopolíticos-econômicos-militares no mundo. Atrás do impeachment e da perseguição criminosa a Lula está o projeto estratégico de submeter o Brasil aos interesses do sistema financeiro e dos Estados Unidos, com o assalto ao nosso orçamento, nosso petróleo e nossa mão-de-obra.
Assim como ocorreu com as ditaduras, superadas sem glórias, a opção por abdicar da soberania neste momento é o pior dos caminhos para as Forças Armadas do Brasil e dos demais países latinos. Apostar em alinhar-se aos Estados Unidos, ou a qualquer outro país, diante do que está ocorrendo, é abrir mão da própria razão da existência das Forças Armadas.
Nunca é demais relembrar o que ocorreu com a Argentina, na Guerra das Malvinas, em que os norte-americanos deixaram os militares argentinos à mercê do exército inglês. Além de despreparado militar e tecnologicamente para combater o inimigo externo, o exército argentino ainda sofreu o boicote no fornecimento de peças.
Se não é para desenvolver o submarino nuclear e proteger o pré-sal, para garantir a soberania da Amazônia ou assegurar nosso espaço aeroespacial, para que servem as Forças Armadas? Quando se abre mão disso, considerando os altos custos da manutenção dos Exércitos, que a segurança nacional, então, seja entregue nas mãos das policias.
O Brasil está sob inequívoco ataque externo, orquestrado por forças organizadas e deletérias aos interesses nacionais, o que só a ignorância, a covardia ou a traição impedem de ver. Por outro lado, pululam exemplos no mundo em que a presença firme das Forças Armadas, a exemplo da Venezuela, têm sido determinantes para defender suas soberanias, suas riquezas e seus povos.
Em nosso caso, bater continência para um tresloucado capitão da reserva, ou seguir apostando em falidas teorias de segurança a serviço do "inimigo externo" não honram a trajetória das Forças Armadas. A história exige muito mais, impõe que se perfilem todos os brasileiros, sem distinção entre civis e militares, para que o Brasil cumpra sua "inevitável vocação de grande Nação".
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

