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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”

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Paulo Caruso não veio ao mundo para fazer gracinha

A mordacidade do seu traço não poucas vezes exigia pedidos de moderação por parte deste editor, menos corajoso que ele.

(Foto: Reprodução)
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Morreu Paulo Caruso, um dos últimos de uma geração de cartunistas que se preocupa com os destinos do país, que faz do humor uma arma contra os poderosos, nunca com os desvalidos. 

Convivi profissionalmente com Paulo, que me chamava de Xará, de 2013 a 2020. Ele fazia as ilustrações de capa de uma revista da qual eu era editor (ainda sou). Ele dava show. A mordacidade do seu traço não poucas vezes exigia pedidos de moderação por parte deste editor, menos corajoso que ele.

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Em 2018, trouxe-o da capa para as páginas centrais, só que como entrevistado. Paulo mostrou-se tão espirituoso falando quanto desenhando.

Presenteio o leitor com algumas de suas falas, que servirão para saber como Paulo Caruso enxergava o Brasil, a imprensa e suas mazelas. Nosso papo foi em 2018.

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 “No Roda Viva 20 anos atrás, teve uma entrevista com o Roberto Civita, com aquele sotaque americano dele. Ele dizia: ‘Pode esquecer. Papel e tinta vão acabar. Se você gostar muito do barulho do papel, você vai poder ouvir o barulho dele no computador; se você gostar muito do cheiro de tinta, até o cheiro de tinta você poderá fazer sair do computador. Mas papel e tinta são antiecológicos e antieconômicos, por isso vão acabar’. E era um capitão da indústria impressa! Curioso que eles, da Editora Abril, não souberam capitalizar essa percepção – a editora está em grandes dificuldades, acabando com inúmeros títulos etc.”

“Desenho com papel e tinta, depois escaneio. O desenho a lápis fica impregnado com a personalidade do artista.”

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 “Eu tinha uma devoção pelo pessoal do Pasquim, mas em especial pelo Ziraldo. O Ziraldo era o meu ídolo, o cara que tinha o traço mais aberto. Já o meu irmão, depois que foi para o Rio de Janeiro e virou carioca, tinha como ídolo o Millôr. A casa do meu irmão tem uma espécie de altar em memória do Millôr. Esses ídolos foram os responsáveis pela nossa crença nessa linguagem de arte e humor. Mas, na época do Pasquim, a Dona Nelma, secretária do jornal, não me deixava nem passar pela porta.”

“Eu discuto muito a ascensão do Bolsonaro e dessa nova direita, mesmo o Sérgio Moro, que de certa forma participa disso. O Lula só está preso porque ele é de outra classe, nunca foi da classe política gerencial do país.”

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“Eu participei de um encontro de humoristas em Nantes, na França, e tinha um grupo radical que se dizia contra qualquer censura e coisa e tal. Eu mostrei alguns desenhos meus, e eles disseram: ‘isso não é humor, isso é melancolia’”.

“Eu acho que a gente tem que exercer a liberdade dentro de alguns limites. Pela sua autocrítica você vai saber o que pode ser nocivo no seu trabalho. O que eu digo sempre é o seguinte: nós não somos comediantes, nós não estamos aqui só para fazer gracinha. O pessoal do stand-up, por exemplo, tem que aprender a tirar o c... da boca. O cara fala c... e todo mundo ‘hahaha’, como se aquilo fosse engraçado por si só. O que é isso?  O nosso humor é um humor reflexivo, intelectualizado, que visa a transformar a sociedade numa sociedade melhor, não é a crítica pela crítica. Aí, você ironizar o maltratado, o destratado pela vida, não dá a ele uma condição de superação.”

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“No Roda Viva, certa vez o entrevistado era o candidato a governador de São Paulo João Leiva. Um repórter perguntou a ele sobre seu envolvimento com irregularidades no governo Quércia, ele respondeu daquele jeito e tal. Aí eu desenhei ele adernando num mar de lama e dizendo: ‘O mar de lama não me atinge’. Eu chamava e o câmera não mostrava o desenho. Eu saí e fui embora no meio do programa. Só retornei ao Roda Viva quando o Paulo Markum voltou a ser o apresentador.”

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