Paz em Gaza e pacem in terris
O saldo dessa barbárie é mais uma ferida de difícil cura para a humanidade
A notícia do fim dos bombardeios na Faixa de Gaza, reascende a esperança de que o fim da questão Palestina possa nos levar à coexistência pacifica de dois Estados naquela região; é verdade que a implementação do acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas dependerá do comprometimento de ambas as partes e da comunidade internacional, mas o fato é que, neste momento as tropas israelenses iniciaram sua retirada de diversas áreas da Faixa de Gaza, o que permitiu que famílias deslocadas começassem a retornar para as zonas mais ao norte da região. Muitas dessas famílias haviam sido forçadas a deixar suas casas e agora tentam voltar, apesar dos desafios e das intensas operações militares ainda em andamento.
O saldo dessa barbárie é mais uma ferida de difícil cura para a humanidade, pois, o conflito, que completou dois anos esse mês, deixou mais de 67 mil palestinos mortos e 170 mil feridos, sendo que do lado de Israel 1665 mortos,1,2 mil apenas nas primeiras horas do ataque do Hamas a Israel.
Apesar disso tudo o cessar fogo é um momento de alegria para todos que desejam um mundo de paz, respeito à diversidade e democracia, mas não podemos esquecer que muita gente morreu, cerca de 65 mil civis, majoritariamente mulheres, crianças e idosos.
Fui à minha pequena biblioteca e peguei a Encíclica Pacem in Terris de João XXIII.
Editada em 1963, ela já completou sessenta e um anos de existência e constituindo-se um precioso documento da Igreja que se situa na área dos direitos humanos, sim, dos direitos humanos, é impossível não destacar sua atualidade e sua vigência no mundo de hoje, pois, tece suas considerações preambulares tendo em vista as profundas contradições existentes entre a ordem universal e a ordem que preside as relações entre os homens, relações estas que, segundo São João XXIII, refletem “a desordem que reina entre indivíduos e povos, como se as suas mútuas relações não pudessem ser reguladas senão pela força”.
Penso que a paz na terra, é desejo de todos os homens de todos os tempos, mas, segunda a Encíclica, ela não pode não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus.
O progresso da ciência testemunha a dignidade do homem capaz de desvendar essa ordem e de produzir os meios adequados para dominar essas forças, canalizando-as em seu proveito, contudo, o avanço da ciência e os inventos da técnica demonstram, antes de tudo, a infinita grandeza de Deus, criador do universo e do homem, é no que acredito, tão fortemente quanto acredito da forma da palavra e das nossas ações, da nossa militância.
Mas por que existem guerras, conflitos de toda a ordem? A barbárie humana, o genocídio que o povo da Palestina, sofre contrasta a perfeita ordem universal, e escreve mais um capítulo na desordem que reina entre indivíduos e povos, como se as suas mútuas relações não pudessem ser reguladas senão pela força, quando não há nada mais forte que o diálogo ativo e sincero.
Todo ser humano é pessoa, sujeito de direitos e deveres, por isso, antes de mais nada, é necessário tratar da ordem que deve vigorar entre os homens, pois, uma convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza, me refiro à dignidade da pessoa humana, à luz, segundo João XXIII, “das verdades reveladas”.
Já em 1961 a Igreja católica, através da Pacem in Terris, declarou que todos tem direito à existência e a um digno padrão de vida; nossas ações devem buscar, sempre, defender a existência, a integridade física, e garantir os recursos necessários a um digno padrão de vida: tais são especialmente o alimento, o vestuário, a moradia, o repouso, a assistência sanitária, os serviços sociais indispensáveis (hoje João XXIII seria chamado de “comunista” pela horda de zumbis que tem a cognição intoxicada pelas mentiras que a extrema-direita despeja diariamente nas redes sociais, nas listas de transmissão do WhatsApp e do Telegram).
Pacem in Terris já defendia o SUS e o Estado de bem-estar social, pois, afirmou que a “pessoa tem também o direito de ser amparada em caso de doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado, e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento por circunstâncias independentes de sua vontade”, diretos que se referem aos valores morais e culturais.
Faço essas reflexões breves e com o coração cheio de esperança pela construção de uma paz duradoura e saúdo toda comunidade 247.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

