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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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PEC da Blindagem: uma vitória de Pirro

Chega a ser juvenil o movimento patrocinado pelo presidente da Câmara dos Deputados de acelerar a votação da PEC da Blindagem

Hugo Motta (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

Chega a ser juvenil o movimento patrocinado pelo presidente da Câmara dos Deputados de acelerar a votação da PEC da Blindagem. Tantos mortos e feridos políticos ficarão pelo meio do caminho, a começar por Hugo “do Épiro” Motta, que verá as aparentes vitórias desta semana se transformarem em grande derrota em pouco tempo.

Cheguei a imaginar que o comandante da Câmara tivesse, ao menos, articulado minimamente com os líderes do tapete azul do Congresso Nacional a tramitação dessa proposta. Mas, pelo que tudo indica, não foi isso que aconteceu.

A reação expressiva da sociedade, do meio jurídico e, em especial, de uma parcela representativa de senadores e senadoras sinaliza uma vida curta e turbulenta para o escudo protetor que deputados tentaram erguer em torno de si próprios e de presidentes de partidos. A disposição de senadores de diferentes matizes políticos e ideológicos em enterrar a proposta, sem sequer permitir seu retorno à Câmara, classificando-a como inaceitável e uma porta aberta para o crime organizado nas Casas Legislativas, é clara evidência disso.

A pergunta que muitos deputados devem estar se fazendo é: valeu a pena a aposta? É difícil imaginar que já não haja adversários explorando politicamente, em suas bases, os votos favoráveis à PEC com o objetivo de desconstruir suas imagens e preparar o terreno para as eleições do próximo ano. E em troca de quê? De nada.

Esta semana tive acesso ao estudo LATAM Pulse Brasil, da Atlas e Bloomberg, que apresenta dados mensais sobre a situação política, social e econômica de países da América Latina. Um dado em particular chamou minha atenção: a avaliação do presidente da Câmara. No quesito imagem de líderes políticos, 78% dos entrevistados consideram negativa a imagem de Hugo Motta, enquanto apenas 4% a veem de forma positiva. A desgraça em números.

Esse seria um problema a ser resolvido pelo deputado paraibano junto aos seus eleitores, mas não se restringe a ele. Reflete a percepção da população sobre o Poder Legislativo como um todo - e essa imagem negativa repercute diretamente sobre todos os que buscam a reeleição.

Ou a direção da Câmara consegue se livrar das amarras impostas pela pressão de setores mais extremistas, articulando pautas que dialoguem com a sociedade, ou o desfecho será um grande abraço de afogados, no qual apenas uma pequena parcela terá chance de se salvar em algum bote.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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