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Chico Teixeira

Historiador e professor titular da UFRJ

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PEC dos Militares e a página em branco da nossa história

"Quando o governo atua contra a oportunidade única de 'reescrever o manual' das relações militares e política no Brasil, sinto que se perde o momento histórico"

Presidente Lula e militares (Foto: Ricardo Stuckert/Pr)
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Entendemos que o Governo Lula queira avançar em tópicos de interesse nacional, como o combate à fome ou ao Desemprego e a (Re)Industrialização do país. E assim, fugir da pecha de ser o Governo que sobreviveu ao golpe. Por tal razão, evita-se o envolvimento nas apurações legítimas dos atos golpistas, antes e depois do 08/01/2023. No entanto, quando o governo atua  contra a oportunidade única de "reescrever" o "manual" das relações militares e política no Brasil, abolir a "Doutrina da Tutela ( as FFAAs como um "Poder Moderador" e a "missão" de combater o "Inimigo interno") sinto que se perde o momento histórico.

A consolidação da Democracia no Brasil é uma pauta tão importante quanto a fome e o desemprego.  Sem Democracia a erradicação das posições de mando das elites antipovo será impossível e seremos sempre um país da fome cíclica e a República dos Privilégios. Não lutar contra os golpistas em seus nichos é um baita desconhecimento da nossa História. E,  no limite, não fazer o enfrentamento didático das Direitas trabalha contra o fortalecimento da própria Democracia entre nós. 

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O núcleo político do governo, sua comunidade de Inteligência e seus órgãos, bem como o Ministério da Defesa, trabalham com um diagnóstico "equivocado" da natureza da atual crise brasileira, do momento nacional e da ascensão mundial da Extrema-Direita e dos Fascismos. A Abin e o GSI mostraram-se incompetentes para construir um diagnóstico real das instituições brasileiras e do alcance do golpismo no interior do Estado. Tal fragilidade transferiu para os acadêmicos e alguns jornalistas investigativos a faina de desvelar a ampla trama envolvendo políticos, magistrados e militares contra a República. 

Vive-se ao "Deus dará" de confissões e delações, do trabalho incansável da PF, emergindo uma situação de "sustos" e alertas em busca de delações - o que não seria o fio condutor das investigações caso a Abin e o GSI cumprissem suas missões institucionais. Bem ao contrário vemos que tais órgãos constituem-se em nichos privilegiados de golpistas, centro de construção de "narrativas" que buscam o apagamento do 8 de janeiro, seus antecedentes e consequências. 

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Ao contrário do núcleo político, palaciano, do governo, apenas o Ministério da Justiça, a Advogacia Geral da União, e o STF, avançam nas investigações. O diagnóstico da crise institucional continua precário junto ao núcleo político, que insiste em que:                        

 1. A eleição de Lula e a inegibilidade de Bolsonaro são evidências do fim da crise política e institucional;                

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2. Consideram o bolsonarismo, inclusive na Magistratura e nos quartéis, em refluxo confundindo personagem e as fontes profundas dos movimentos sociais das Direitas;      

3. Nunca entenderam, por isso mesmo, o conceito de "Insurreição fascista", como estabelecido com a "Marcha sobre Roma", de 1922, e sua repetição midiática e reticular, em Kiev em 2014, em La Paz em  2019 ou no Capitólio em 2021;                             

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4. Ao contrário de Lula da Silva consideram o fascismo no Brasil como metáfora e hipérbole, mantendo-se na compreensão cinematográfica do fenômeno "fascismo histórico", sem atentar para os movimentos mundias de ascensão dos novos (neo)fascismo;             

5. Acreditam que todo poder político se exerce no Congresso Nacional, desvalorizando a presença do povo nas praças, ruas, universidades e sindicatos como topoi de Resistência ;                

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6. Não entenderam o processo de unificação das Diretas brasileiras pela hegemonia fascista;                       

 7. Consideram a oposição fascista com as mesmas lentes que enfrentaram antes a oposição do (quase)finado PSDB , não percebendo a "debacle" do Centro Histórico da política republicana;            

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 8. Não consideram mobilizar, por não entender o caráter "de massas" do fascismo (amplas classes médias, funcionários civis e militares, as classes rentistas, o lumpenproletariat em busca de um líder substituto, mito e mistificação,  da falsa concretização psicológica e histórica) os núcleos populares, trabalhadores, para se manifestarem nas ruas, praças, universidades e sindicatos contra o golpismo (sequer tivemos uma manifestação popular em condenação ao golpe);                          

9. A busca de base de apoio do governo leva a tratativas que poderiam ser melhor explicadas e balanceadas com a mobilização popular;                        

10. Estão "economizando" Lula , o único grande comunicador à Esquerda, nas suas relações com as bases trabalhadoras;             

11.Não distinguem o bolsonarismo, uma forma de Neofascismo, do conservadorismo nato da sociedade brasileira , racista, misògena e patriarcal,  combatendo só os personagens "Bolsonaro" e os chamados "patriotas", que entalados em bandeiras depredaram as instituições da República, deixando de lado o núcleo duro do Bolsonarismo na política, magistratura, ministerios, inclusive o Ministério da Defesa, no afã de blindar militares golpistas;                      

12. Por fim, estão decididos a "deixar quieto" os núcleos radicais nas FFAAs , no intuito de "virar a página" da História.       

Assim perde-se  a percepção da profundidade e enraizamento do golpismo nas instituições da República e na cultura política brasileira , suas raízes históricas, no escravismo e no patrimonialismo, seus métodos sempre violentos, buscando "virar a página" de uma História ainda não escrita. 

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