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Flávio Ricardo Vassoler

Doutor em Letras, com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University (Estados Unidos). É autor de várias obras, como O evangelho segundo talião, Tiro de misericórdia, Dostoiévski e a dialética: Fetichismo da forma, utopia como conteúdo

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Pedro e a pedra filosofal

(Foto: Luanna Falcão)
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I

Sob Pedro há uma pedra.

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Pedro e a pedra existem, mas só Pedro sabe de si – e da pedra. 

Pedro e a pedra resistem, mas só Pedro sabe de si – e da perda. 

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Sobre Pedro há uma pedra.

II

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Pedro, 

que existe para si, 

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olha, fixamente, 

para a pedra, 

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que existe 

para o outro. 

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Pedro, trêmulo, fecha os olhos. 

A pedra lembrada por Pedro, imagem.

A pedra desejada por Pedro, miragem.

Miragem mole, pedra dura.

Duro, Pedro só estala.

Dura, a pedra só está lá. 

Em si, a pedra é dura, tangível e inanimada. 

(O outro de pedra, corpo.)

Em Pedro, a pedra, animadíssima, é mole e tangível. 

(O outro da pedra, aura.)

Seria o desejo o quem da pedra? 

Seria o desejo alguém na pedra?

III

Pedro pode olhar para a pedra. 

A pedra não pode olhar para Pedro. 

Pedro, alado pela consciência, perpetua a liberdade.

Pedro não pode matar a pedra. 

A pedra pode matar Pedro. 

Pedro atado à consciência: prisão perpétua.  

IV

Pedro pode olhar para a pedra. 

A pedra não pode olhar para Pedro.

Pedro pode olhar para si mesmo 

(Pedro é sujeito e objeto de si mesmo).

Pedro existe para si mesmo 

(Pedro, sendo uno, é duplo).

Pedro existe em si mesmo.

(Pedro é um outro para si mesmo). 

A pedra não pode olhar para si mesma.

A pedra existe para o outro.

A pedra, sem o olhar de Pedro, existe em si mesma?

Intangível, a consciência de Pedro pode olhar. 

Tangível, a pedra cega não tem consciência. 

Para a consciência de Pedro (sujeito), 

o corpo de Pedro é algo exterior 

como a pedra (objeto): 

como uma ponte, 

a consciência (sujeito-objeto) une 

as margens do ser.

V

Possuído pela fúria, Pedro se vinga com a pedra. 

(Pedra do louco.)

Possuído pela culpa, Pedro é a vingança da pedra. 

(Louco de pedra.)

VI

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei o meu reino: 

“Pedras da lei!” – decreta Pedro, o revolucionário.

“Leis de pedra!” – vocifera Pedro, o torturador.

Onde está a lápide do meu filho, Pedro?

VII

Tu és pedra, e sobre este Pedro edificarei o meu reino: 

“Pedras da lei!” – discursa Pedro, o revolucionário.

“Leis de pedra...” – balbucia Pedro, o torturado.

Onde está a lápide do meu filho Pedro?

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