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Pelo direito de falhar em uma sociedade de alta performance

A exigência com este padrão de sucesso estabelecido que culturalmente construímos têm levado muitos a sentirem-se pequenos e insignificantes

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Vivemos em uma sociedade altamente exigente, em que os protótipos de beleza e sucesso são apresentados para nós cotidianamente de maneira muito impositiva desde a nossa tenra idade e assim não abrem margem alguma para dúvidas, inseguranças ou à beleza que não seja a padronizada pela mídia e nem para pensarmos em qualquer insucesso; porque ter falhas, fracassos isto é quase imperdoável.

É inadmissível as variações porque estamos diante de uma verdade inexorável, contundente, poderosa e desta maneira construímos as nossa convicções e certezas absolutas e por isso é impossível estar feliz longe dos holofotes, posições de destaque, sucesso permanente e a eterna juventude. Parece que não existe nem mesmo espaço para coadjuvantes, mas somente para protagonistas por isso estamos nos tornando cada vez mais egocêntricos e golpeamos qualquer um que não tenha nossos atributos ou tente algo que ainda não alcançamos. Ou seja, gastamos mais energia tentando destruir os outros do que construindo nossos projetos.

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Tenho observado que esta exigência com este padrão de sucesso estabelecido que culturalmente construímos têm levado muitos a sentirem-se pequenos e insignificantes ao ponto de nem perceberem mais beleza na vida porque nunca estão satisfeitos e sentem realizados a despeito de serem pessoas de sucesso.

Lamentavelmente temos hoje muitos pais que não conseguem mais sorrirem com seus filhos, com seus colegas de trabalho ou exercerem suas profissões com prazer e alegria porque sempre estão comparando suas vidas e a de seus filhos com a de outras pessoas. E o mais grave é que tem pessoas que se sentem bem com os fracassos das pessoas e sentem tristeza com o sucesso dos outros.

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Muitos nem sabem, mas estão tomados por uma baixa auto-estima e já foram contaminados com um dos mais terríveis e asquerosos sentimentos, mas nem percebem que estão vivendo na dimensão da inveja e cotidianamente suas práticas é destruir, falar mal das pessoas ou qualquer um que se projeta e se dependerem deles farão tudo para derrubar os que estão crescendo. No entanto, fazem discursos humildes como se fossem do bem e com conhecimento que darão soluções para todos os problemas existentes.

Esta é uma realidade que ocorre fortemente em muitos lugares, no entanto, na educação é muito mais visível porque nós, professores, instituímos que somente é possível ter sucesso se passarmos em uma universidade pública e federal que tenha bom conceito É bem verdade que em outros espaços não é diferente. Será que isto é verdade mesmo?

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Recentemente assisti a um documentário norte-americano: Race to no Where, na tradução livre é: Corrida para lugar nenhum. Este documentário mostra e relata como os alunos são massacrados e pressionados para alcançarem seus ideais de sucesso, que são impostos por aquela sociedade norte-americana. No entanto, esta tem sido a realidade e a tônica que se estende ao Brasil em todas as escolas e salas de aula.

É muito comum e natural ouvirmos pais afirmarem assim: "Só serve se passar na federal e no curso tal", porem nós educadores já chegamos a conclusão que o nosso modelo de vestibular esta ultrapassado e não prova a inteligência de ninguém, muito menos garantirá que o aluno será um bom profissional e feliz.

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É desta maneira que vamos à busca do sucesso e desafiando aos mais novos a agirem da mesma forma que estabelecemos como padrão. Neste contexto cabe a indagação: Se passar em uma federal garantirá o sucesso profissional e a felicidade?

Será que não estamos oprimindo demais nossos filhos e adolescentes e por isso temos muitas pessoas com tristezas profundas, depressão e doenças psicossomáticas e até desejos suicidas e infelizmente alguns vão às vias de fato e dão cabo a sua própria vida.

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Assim vemos no documentário. Muitos nem mesmo tem prazer em frequentar nossas escolas?

Será que nós, professores, empresários, jogadores e outros profissionais não estamos exigindo além do normal. No entanto, é por isso estamos fragilizados, nunca sentimos realizados e desta forma exigimos dos demais e criamos este círculo vicioso?

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Vejamos os casos de muitos policiais que morrem a cada ano porque são exigidos além do normal nos testes físicos e pressão psicológica para serem "bons". Se alguém falhar deve ser execrado pelo grupo e não tem perdão para o resto de sua vida.

Constantemente ouvimos noticias na mídia sobre fatos como estes. Inclusive pessoas jovens tomam anabolizantes para ter um físico com o padrão de beleza imposto e assim ficam com sequelas quando não morrem. Isto é uma sandice porque sabemos que a maioria não consegue chegar ao padrão estabelecido e nem permanecer por razões obvias, pois ao tempo nada subsiste.

Será que não temos o direito de falhar ou fracassar, não conseguir e assim tentar outra profissão que não seja a que está em destaque e na moda e mesmo assim ser feliz? Nós sabemos que são as coisas simples que nos fazem sentir bem, no entanto, estamos esquecendo-se de valorizar isto.

Aonde chegaremos com esta sociedade soberbamente competitiva e individualista e de alta performance em que tudo é padronizado e somente existe um caminho uma fórmula para obter o êxito na vida?

Aonde chegaremos com um padrão cultural que exige e estabelece que apenas o primeiro lugar tenha o lugar ao sol?

Estou convicto que precisamos construir uma sociedade que saiba dar visibilidade para os mais simples e ao trabalho coletivo; aos que deram tudo de si, mas não obtiveram os resultados almejados, porque talvez estes tenham alguma "deficiência" e por isso não foi possível chegara posição que foi planejada.

Precisamos urgentemente forjar uma sociedade onde o coletivo tenha mais evidência do que a perspectiva individualista que apenas tem feito muito mal para todos nós e sacrificado os menos "aptos".

Precisamos garantir e construir a liberdade de sonhar e ter o desejo de morar em uma "casinha de sapê" e mesmo assim ser feliz; andar a pé e não ter necessidade de ostentação e estar bem consigo mesmo ao ponto de pagar para recebermos homenagens.

Precisamos criar condições para as outras pessoas viverem bem, mesmo que os holofotes não estejam sobre elas em todos os passos de suas vidas como ocorre nas redes sociais.

Vale destacar um comportamento que percebemos nas redes sociais onde muitas pessoas estão tão carentes de holofotes que quando postam algo no Facebook se ninguém curtir, comentar sentem desvalorizadas e pequenas e assim elas mesmas curtem e comentam o que postaram. Neste instante começam as aberrações e as exposições desnecessárias a fim de chamar a atenção.

Precisamos sair também da dimensão que somente teremos sucesso se derrotamos, vencermos os outros e tivermos mais bens materiais do que os vizinhos e os colegas da escola ou do trabalho.

É muito mais saudável para todos criarmos uma rede de solidariedade e amizade com as pessoas e saber valorizar cada um como nós gostaríamos que fosse com a gente.

Para termos um novo modelo de sociedade devemos trabalhar duro e com afinco a fim de que o coletivo sempre prevaleça e nunca os individualismos exacerbados sobressaírem tanto como tem acontecido; porque como já dizia o pensador: "sonho que se sonha só é pura ilusão" Ou seja, mesmo que ocorra o "sucesso" se não tiver o coletivo não vale a pena.

Precisamos conduzir a vida na perspectiva do poeta e escritor Pablo Neruda, que nos apresentou em seu poema "Se":

Se não puderes ser um pinheiro no topo da colina

Sê um arbusto no vale – mas o melhor arbusto na encosta do monte.

Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.

Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
e dá alegria a um caminho.

Se não puderes ser almíscar, sê então apenas uma tília,

Mas a tília mais viva do lago.

Não podemos ser todos capitães, temos de ser tripulação.

Há alguma coisa para todos nós aqui.

Há grandes obras e outras menores a realizar,

E é a próxima tarefa que devemos empreender.

Se não puderes ser uma estrada, sê apenas uma senda.

Se não puderes ser o sol, sê uma estrela.

Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso.

Sê o melhor de o que quer que sejas!

Nesta perspectiva tem espaço para todos e se falharmos ou fracassarmos em alguma área de nossas vidas teremos a certeza que demos o melhor de nós e nem por isso deve-se desistir de lutar, de continuar caminhando na direção de construir nossos sonhos da melhor maneira possível.

Fé e esperança nunca podem deixar de existir mesmo que o cenário esteja desfavorável, porque uma derrota na vida, os erros e falhas podem ser pedagógicos e contribuir positivamente para nosso crescimento e fortalecimento se soubermos extrair lições de cada momento.

Urge darmos um basta nesta sociedade de alta performance onde o professor, o aluno e ninguém pode falhar. Mesmo porque todos nós sabemos que nem sempre as circunstâncias estão favoráveis para obteremos os resultados que tanto são cobrados. Este é o grande drama dos empresários com as cargas tributárias.

Vale lembrar que tanto na parte de cima da sociedade quanto na parte de baixo a tensão tem sido muito grande e esta afetado profundamente as pessoas e tem tirado até mesmo a alegria das pessoas de viverem e só vale a pena se for o primeiro e o melhor de todos.

Muitos estão perdendo a honra e até vida digna porque fazem qualquer coisa para ter sucesso e derrotar as pessoas até mesmo que tenham que falar mal dos outros forjar mentir, assassinar etc. Será que vale a pena? Vejamos o exemplo do ciclista mais famosos do mundo, Lance Armstrong, que não mensurou consequências para chegar aos seus ideias de sucesso e ter os holofotes sobre ele.

Infelizmente esta tem sido a prática de muitos independente de ser famoso ou viver no anonimato. Estamos contaminados com os valores da sociedade de alta performance e assim não podemos falhar ou fracassar. Vale a pena?

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