Pelos nossos sonhos, pelo nosso país e pela nossa democracia: a nossa luta continua!

Pela terceira vez, o povo de Lauro de Freitas me escolheu par ser a sua prefeita. Desafio, esse, que assumo, com muita honra e orgulho, a partir do dia primeiro de janeiro. Antes disso, porém, quero dizer algumas palavras - e deixá-las registradas, nestes meus últimos dias como deputada federal.

Primeiro, quero desejar um 2017 muito melhor do que o ano que passou, para todos os nossos colegas e, principalmente, para o povo brasileiro. Eu, Moema Gramacho, nasci no Pelourinho, num bairro pobre de Salvador. Consegui ser operária de fábrica por 20 anos, deputada estadual por três mandatos, prefeita por dois mandatos, secretária de Estado, deputada federal e, agora, vou renunciar ao mandato de deputada federal para assumir, pela terceira vez, a prefeitura do município de Lauro de Freitas.

Essa não é uma tarefa fácil. Não foi uma decisão fácil deixar de ser deputada federal — e fui a primeira mulher eleita deputada pelo Partido dos Trabalhadores na Bahia — depois de 36 anos militando pelo meu partido, desde sua fundação, renunciar ao meu mandato para voltar a ser prefeita. Mas o fiz a pedido do povo de Lauro de Freitas.

Confesso que estar na Câmara Federal, por dois anos apenas, foi um grande aprendizado. Mas também foram os dois anos mais difíceis da minha vida pública. Esses foram os dois anos mais difíceis porque também foram os dois anos mais difíceis do meu partido, do partido que ajudei a fundar e do qual faço parte até hoje. Foi o momento mais difícil do governo que tirou o Brasil do Mapa da Fome, que promoveu a inclusão social, que fez com que negros e pobres adentrassem à universidade, de um governo golpeado, do qual se tirou a primeira mulher eleita presidenta da República, com 54 milhões de votos, através de um golpe.

Isso doeu em mim, pois a Câmara dos Deputados contribuiu, participou e patrocinou esse golpe, junto com a Rede Globo e com outros setores. Por isso, digo que foi o período mais difícil da minha vida.

Não que eu não tenha enfrentado todos os desafios, como disse. E agradeço, imensamente, as minhas colegas deputadas, em especial, as deputadas Luiza Erundina, Benedita da Silva, Jô Moraes e Alice Portugal, além do meu líder, Afonso Florence.

Na tribuna da Câmara, resistimos e lutamos.

Vou levar comigo algumas tristezas, mas também muitas saudades. Uma grande tristeza que vou levar é referente ao desrespeito permanente entre os próprios colegas. Como podem querer que o povo respeite o Parlamento, se o próprio Parlamento não se respeita? Se deputados tratam como bandidos? Se deputados xingam outros deputados? Esse desrespeito que reina no Parlamento brasileiro é o que se transmite como imagem à sociedade. E depois querem exigir que o povo respeite o Parlamento.

Outra tristeza que levo é justamente com a hipocrisia. É importante que se diga: criticaram tanto o governo Dilma Rousseff e o governo Lula, mas neste governo temerário que aí está, é um ministro que despenca a cada dia, é uma lista imensurável da Operação Lava-Jato com nomes de ministros, de deputados, de senadores que apoiam este governo. A hipocrisia reina quando criticam os deputados e os senadores que apoiaram o nosso governo.

Eu gostaria de dizer que outras tristezas vou levar, mas também levo saudades. Terei saudade da minha bancada, terei saudade da bancada feminina, dessa bancada aguerrida. Aqui vai ficar o que há de melhor das mulheres da política brasileira. As deputadas e as senadoras que estão aqui são valorosas companheiras, lutadoras, guerreiras. Essas nobres guerreiras, essas mulheres, lutam não só pela questão de gênero e dos direitos das mulheres, mas lutam por toda a sociedade brasileira. Aqui também há valorosos homens. Quero agradecer pelo convívio que tive, pelo conhecimento adquirido junto a essas companheiras e a esses companheiros.

Vou ficar com saudades, inclusive das mobilizações que fizemos. Vou sentir saudades de todos.
É possível que alguns não sintam saudade de mim, é possível que se esqueçam de mim, mas não vão se esquecer das minhas lutas e dos meus gritos de guerra. E, para não fugir à regra, eu tenho mais um grito aqui, para ficar na memória de cada um, com o meu desejo e com o desejo do povo brasileiro: Fora, Temer! Diretas Já!