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Leopoldo Vieira

Marketeiro em ano eleitoral e técnico de futebol em ano de Copa do Mundo

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Perderam em 32 e vão perder de novo!

Se é possível elogiar Fernão Lara Mesquita, herdeiro do falimentar Estadão, pela honestidade com a qual defende a "Revolução de 32", não se pode fazer o mesmo quanto ao conteúdo defendido

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"A classe dirigente do Brasil quer que o Brasil seja uns Estados Unidos de segunda ordem. Eu não quero nem que seja Estados Unidos de primeira. Eu quero que o Brasil seja o Brasil de primeira." (Ariano Suassuna)

Fernão Lara Mesquita, herdeiro do falimentar Estadão, em artigo "O 9 de Julho, de Getúlio ao PT", liga as pontas do trabalhismo democrático ao petismo. Mas se é possível elogiá-lo pela honestidade com a qual defende a "Revolução de 32", não se pode fazer o mesmo quanto ao conteúdo defendido. Mais uma vez, como representante da direita brasileira, esconde o verdadeiro programa desta, que está exatamente na raiz da polêmica que ele levanta.

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Em termos gerais, Mesquita apresenta uma narrativa sui generis para a história brasileira: "(...) luta de 1932, que começara pelo menos 50 anos antes com o Movimento Abolicionista que desaguou na República e que por sua vez finca raízes na Guerra do Paraguai (1864-1870) onde começou a se formar a identidade nacional brasileira, é exatamente a mesma de hoje (...) Para garantir que nunca mais fosse assim, aqueles conspiradores estabeleceram os princípios fundamentais da democracia que ainda não chegou por aqui: o império da lei inclusive e principalmente sobre os governantes; a vontade popular, democraticamente aferida, como única fonte de legitimação dessas leis e o mérito individual como única fonte de legitimação do poder econômico; a descentralização do poder para garantir a fiscalização a mais direta possível dos representados sobre os representantes concentrando nos municípios todas as decisões que dissessem respeito a eles próprios, nos estados apenas as que se referissem aos assuntos que envolvessem mais de um município e na União só os que não pudessem ser resolvidos por essas duas instâncias, e mais as relações internacionais.

Para ele, "continuamos na mesma luta até hoje". E segue: "Getúlio traiu, como Lula, a bandeira da "ética na política" que levou os dois ao poder em 1930 e em 2002. Getúlio adiando a convocação de uma Assembléia Constituinte e nomeando títeres como governadores dos estados até que São Paulo se levantasse contra a sua ditadura não declarada em 1932; Lula aliando-se a todos os paladinos da bandalheira na política que antes atacava para se perenizar no poder". Ou, " Getulio seduziu o povão com a outorga de direitos sem a contrapartida dos deveres; Lula comprou o povão com os salários sem a contrapartida do trabalho. Getúlio criou os sindicatos pelêgos sustentados pelo Estado; Lula e o PT são o produto direto deles".

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A verdade é, contudo, bem outra, mas o que é uma mentira para o Estadão?

Para início de prosa Getúlio liderou a Revolução de 30, um movimento que detonou a Velha República, erguida sobre a escravidão cafeeira, depois sobre os negros lançados ao relento aliados à "importação" de imigrantes para "embranquecer" o país no trabalho assalariado, no bojo das imposições inglesas (potência da época) para se beneficiar de seus sucessos industriais. Um parêntesis: para cá, a ordem passou a ser para se estabelecer relações de trabalho capitalistas, sim, mas sem indústria, que deveria ser só da Coroa. Como principal produto brasileiro, a tal "república" funcionava baseada entre um pacto entre estes cafeicultores paulistas e os criadores de vaca (leite) mineiros, que, através do Coronelismo, da Degola e da Política dos Governadores, dirigiam seus pares oligarcas dos demais estados, tudo primarista em matéria econômica (lembremos da máxima das saúvas!). O poder era todo a soma do poderoso local, desde a fazendinha da vila onde o vento fazia a curva até a capital federal. A origem de toda esta gente, lato senso, eram as Capitanias Hereditárias e, novamente, a escravidão.

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Este era o império da lei, democrático, livre de que fala Mesquita! Esta era a federação dele, fachada para que cada coronel e oligarca seguisse comandando seu "rebanho" de famintos ultra-explorados, imaginando-se vice-reis, sonhando com parentescos com os Bourbon! O Movimento Abolicionista que ele se refere é o da turma que elucubrou sobre os "negros domésticos", dos que, ainda hoje, celebram a Lei Áurea e o 13 de maio. A liberdade econômica dele era este acordo tácito com a Inglaterra, por isso a Tríplice Aliança, Brasil à frente, esmagou o Paraguai na mais vergonhosa e infame campanha militar da qual participou o Brasil.

Os pilares do real federalismo brasileiro vinha de outra vertente, dos movimentos republicanos da Cabanagem, Balaiada, Sabinada, Federação do Equador, Farroupilha, que mesmo associando escravos, índios, pequenos comerciantes, cônegos com as elites provinciais, visavam a emancipação do controle econômico português (que já prestava contas à Rainha). O autêntico abolicionismo queria libertar os escravos para serem sujeitos de direitos! Estas outras vertentes não desaguaram na república que defende o dono do Estadão, mas em Floriano Peixoto, mas é uma conversa distinta, embora dialogue com a tradição inaugurada por Getúlio.

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Foi contra este federalismo rastaquera, este sistema de poder patriarcal e patrimonialista, contra a imagem do negro "malandro" (o avô do "jeitinho" tão elogiado como tipicamente brasileiro, subproduto do Complexo de Vira-Latas), contra o primarismo de saúvas, café e leite, contra este sonho de servir ao Império Onde o Sol Nunca Se Põe, pensando-se Bourbon, que a Revolução de 30 foi feita. Por isso, Getúlio queimou aquelas bandeiras. Ela trouxe consigo, a substituição das importações pela industrialização, o voto das mulheres, a Justiça Eleitoral, a CLT, que, no âmbito jurídico, completou a Abolição, assegurando direitos, não concessões. Sua base: o tenentismo, a nova classe média urbana, o sindicalismo nascente (de ex-escravos e imigrantes), e estados que não mais queriam se submeter a São Paulo e Minas e este horizonte raso como um pires apontado por eles.

O legado de Getúlio foi, contudo mais amplo: monopólio e não a entrega do petróleo, com a criação de uma empresa capaz de produzi-lo; empresas para processarem nossas riquezas minerais, salários e empregos, a criação de partidos nacionais. Quando voltou pela força das urnas, selou os fundamentos das Reformas de Base de Jango, a plataforma do desenvolvimento nacional e a política externa soberana, interrompidas pelo golpe de 64. E quem dá o golpe? Os derrotados de 30. O golpe de 64 nada mais foi do que a vitória perdida em 32. E, civilmente, à frente do golpe estava a UDN que abrigava aqueles derrotados.

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Quanto ao PT, Mesquita está certo: traz sim este poderoso legado.

Quando derrotados, de novo, os "constitucionalistas", no processo das Diretas Já! e Constituinte, as bandeiras de antigos direitos, que constavam nas plataformas janguistas, somados a novos emanados da herança maldita da ditadura, portados por também antigos e novíssimos movimentos sociais, produziram Lula e o PT. Derrotado o fio condutor do "constitucionalismo" e udenismo no contexto hodierno, o PSDB, que foi fabricado para ser "a moderna esquerda" a polarizar com a "frente liberal" a manter o Brasil vergado, o país retomou seu rumo. Para tal trucidaram Brizola, entregando a legenda do PTB à Ivete Vargas, ou apunhalaram o velho Partidão com a operação Bob Freire. Este era o "bipartidarismo" sonhado por uma certa embaixada e por um departamento de um certo Estado, que explica um economista "graduado" nos EUA após uma fenomenal escapada do Estádio de Santiago, vultosas somas da Fundação Ford para um suposto príncipe e a conversão de um democrata resistente à ditadura em empresário de telecomunicações. Também explica um famoso discurso falando de "choque de capitalismo".

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No entanto, embora a polarização consagrada pela soberania popular seja entre PSDB e PT, o primeiro, através do seu presidente eleito em 1994, Fernando Henrique Cardoso, foi direto ao ponto: enterrar a Era Vargas!

E é isto que está em questão e o dono do jornal deixa claro quando diz: "A luta de 1932, portanto, ainda não acabou. E em outubro próximo haverá uma batalha decisiva". É porque o setor que este senhor ora é porta-voz até hoje não se conformou com 1930.

E seguimos propondo mais, reconstruindo as tendências da sociedade brasileira inauguradas em 1930 e sempre boicotadas por gente como Mesquita, e não permitindo que a Era Vargas seja enterrada, mas cada vez mais renovada pelos ventos do "lulismo", como a extraordinária mobilidade social, valorização do Salário Mínimo e 20 milhões de empregos que preenchem o ciclo Abolição-CLT. Dilma como ninguém expressa este casamento, mais até do que Brizola vice de Lula em 1998.

Está em questão é, sim, o desfecho da história da América Latina e o programa de emancipação do continente que muito bem sintetizou Perón em Soberania Política, Independência Econômica, Justiça Social e Integração Regional. A outra agenda é o total inverso: associação subalterna, anexação econômica, desigualdade. É a agenda dos refugos do Destino Manifesto.

Vamos a mais um round da nossa História. Já está provado que, quando é nas urnas, os "constitucionalistas" (ou udenistas ou tucanos) não escapam de uma boa corsa!

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