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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Pero Vaz de Caminha postou nas redes

"Fica cada dia mais difícil parar a informação. Fica cada dia mais difícil manter uma mentira, apesar da cegueira da parte acomodada e desinformada da população que prefere um painho que resolva suas questões, do que um verdadeiro desafio democrático de crescimento", escreve o chargista Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Os fatos que aconteciam no passado, aquele passado que já passou há muito tempo, só ficavam sendo conhecidos muito depois. O rei de Portugal só ficou sabendo que Cabral tinha chegado por aqui quando um dos navios voltou com a famosa carta do Caminha. Mas era uma carta, uma espécie de post com mais de 140 caracteres que contava, incluindo partes picantes, tudo que acontecera nas chegada às Terras de Santa Cruz, Vera Cruz e Brasil. Através das palavras escritas na carta quem lia poderia imaginar o que era o Brasil daquela época.  

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Muita coisa mudou de lá pra cá, digamos assim, em termos de comunicação. O mundo virou uma zona de wifi estendida. Mas foi nos tempos do telégrafo que começou-se a imaginar um mundo ligado pelas notícias. Um raciocínio global começava a esboçar-se e de lá pra cá, quanto mais as comunicações avançavam mais o mundo diminuía de tamanho.  

Bom pra nós, ruim para quem agia nas sombras. Até pouco tempo, o tempo que a notícia levava para chegar ao seu destino era mais do que suficiente para se mudar o destino das coisas. Golpes de estado eram dados e ninguém ficava sabendo antes de 24 ou 48 horas. Nesse tempo mortes e execuções selavam o fato histórico. A partir daí e mesmo com um delay natural, guerras foram declaradas enquanto que, se a comunicação fosse mais rápida, outras soluções poderiam ter surgido. Hoje um post violento, uma torre de petróleo derrubada, uma entrevista coletiva mais ameaçadora são como os antigos avanços e recuos das tropas na batalha.  

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Naquela época o preço era alto demais. Até se descobrir que a notícia não era bem aquela, milhões de pessoas morriam no front. Os interesses eram decididos contando que matou mais gente. Hoje ainda vale essa conta, mas existe muita coisa a ser destruída também. Nesse jogo de xadrez com peças compradas, a comunicação funciona como aqueles embaixadores que viajavam léguas para tentar um acordo entre as partes que poderia durar séculos. Do mesmo jeito que as notícias demoravam a viajar, as situações demoravam a mudar. Era tudo muito longe e muito difícil de se alcançar.  

Com a televisão as imagem da notícia que entrava antes na nossa casa pelas fotos passou a se movimentar. Isso mudou a dinâmica da informação. A verdade de um fato poderia estar no segundo seguinte ao momento registrado pela foto. Com isso também muitos políticos passaram a fazer história  voltados para a televisão usando a televisão e, por fim, comprando as televisões. Até hoje, apesar da força das redes sociais, a televisão continua sendo uma eterna carta de Caminha contando histórias não necessariamente verdadeiras sobre os territórios conquistados.  

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A televisão é um poder estabelecido que pode determinar costumes e destinos de um país. Vendo um documentário na Netflix sobre o mafioso italiano Tommaso Buscetta, preso no Brasil nos anos 1980 lembro do poder que o Estado conservador tinha e era avalizado pela TV. Fomos convencidos que o nome dele soava como Busqueta e não Buxeta como seria o correto para não parecer com buceta. A televisão inventou a história baseada em princípios pessoais e não verdadeiros alterando a fonética de uma língua e favorecendo um erro que acabou sendo inútil.  

Tommaso sempre foi Buxeta, no mundo todo e passamos por um ridículo parecido com o que estamos vivendo internacionalmente agora. O controle do Estado sobre as comunicações demonstra a sua importância. As redes sociais abriram uma brecha significativa nesse muro de concreto. Hoje, golpes de estado, tradicionais ou expressos com o que derrubou a Dilma não sobrevivem mais como antigamente e o papelão do Bolsonaro na ONU não consegue mais disfarçar a vergonha alheia.  

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Isso tudo para concluir que, mesmo com todos os absurdos que vemos o governo Bolsonaro decretar e depois voltar atrás, com todas as perseguições e demonização do mundo artístico, das censuras aos espetáculos e aos filmes, do enaltecimento da violência e da estupidez, da política da desordem agressiva e destrutiva, depois disso tudo, podemos imaginar um fim para isso.  

Fica cada dia mais difícil parar a informação. Fica cada dia mais difícil manter uma mentira, apesar da cegueira da parte acomodada e desinformada da população que prefere um painho que resolva suas questões, do que um verdadeiro desafio democrático de crescimento. Mas no embate justo entre a verdade e a mentira, tenho certeza que sairemos vencedores. Primeiro porque assim o desejamos, segundo porque temos razão e terceiro porque a História está do nosso lado. Que o diga Caminha que profetizou que por aqui “em se plantando, tudo dá”.

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